Produtos são expostos a títulos do governo de longo prazo que protegem contra a inflação
Michael Kusunoki, do BNP Paribas: “Alguns fundos ficaram pelo meio do caminho, porque seus riscos não eram compatíveis com a volatilidade do mercado” — Foto: Divulgação
Destinado ao investidor mais conservador que quer manter o poder de compra do dinheiro, busca uma renda extra e que planeja no longo prazo, alguns fundos de renda fixa ativos têm conseguido entregar ganhos acima de seus índices de referência. São fundos expostos a títulos do governo de longo prazo que protegem contra a inflação e buscam entregar um prêmio acima do juro real.
Carregados de NTN-Bs, seu benchmark é o IMA-B e o que difere cada fundo é a gestão ativa que busca alocar diferentes datas de vencimentos, de olho no cenário de curto, médio e longo prazos. Nessa categoria de fundos, dez gestoras se destacaram entre as mais rentáveis no ranking do “Guia Valor de Fundos de Investimento”.
“Estamos estruturados em processo, sistema e equipe para entregar performance acima do benchmark em todos os ativos da renda fixa. Neste caso, o próprio IMA-B foi muito bem, porque nos últimos três anos teve forte fechamento do juro real”, afirma Izak Benaderet, diretor da Porto Seguro Investimentos. O fundo a que o executivo se refere, o Porto Seguro Juro Real FIC FI RF LP, entregou 49,06% de ganho para o investidor no período avaliado pelo ranking, enquanto o IMA-B rendeu 48,16%.
Benaderet explica que há três anos o juro real estava próximo a 4% e que o fechamento das taxas – IPCA e juro – ajudou. “Quando se faz marcação a mercado, neste caso, o retorno passou a ser expressivo”, complementa. O prazo médio das NTN-Bs desse fundo, que tem R$ 300 milhões de patrimônio líquido (PL), é de 7,2 anos.
A SulAmérica, que se destacou no ranking com o fundo SulAmérica Inflatie FI RF LP, vê cenário favorável para quem quiser entrar neste tipo de investimento neste momento por conta da taxa de juro nos últimos meses. “Esta abertura na curva relacionada à inflação fez com que os ativos mais longos acompanhassem este movimento. Tem curva com taxas de 7%, 8%, 9%, o que favorece quem entrar agora. Além dos juros futuro altos, tem o componente prefixado que captura isso, porque paga IPCA + cupom”, observa Marcelo Mello, vice-presidente de investimentos, vida e previdência da SulAmérica.
O fundo a que se refere foi lançado em 2008, tem PL de R$ 1,3 bilhão, taxa de administração de 0,40% e cobra 20% de performance sobre o ganho que exceder o IMA-B. A composição da carteira, além de carregar nas NTN-Bs de diferentes vencimentos, dependendo do cenário, pode ter alguns ativos prefixados (NTN-F) e um pouco de LFT-s pós-fixadas. No retrato atual carrega 95% de NTN-Bs de diferentes vencimentos e 5% de LFTs. O tíquete mínimo de entrada é de R$ 5 mil. “O investidor não precisa esperar a taxa de juros subir para capturar um ganho maior. O momento de entrar pode ser agora”, diz Mello.
O executivo observa que se analisar em uma janela mais longa, nos últimos dez anos, o IMA-B superou de longe a rentabilidade do Ibovespa – principal índice da B3 – e entregou 225,62% de rentabilidade, enquanto o Ibovespa, 71,53%. Mas alerta que rentabilidade passada não garante ganhos no futuro, até porque o período analisado pegou um cenário de Selic a dois dígitos. “O fundo carrega ainda alta volatilidade e tem que ser visto como investimento de longo prazo. Por isso, muitos fundos de pensão se interessam por esses papéis ligados à inflação”, observa Mello.
A volatilidade chacoalhou bem o fundo no ano passado. No auge da crise da pandemia, em março, o fundo teve rentabilidade negativa de 7%, mas foi se recuperando nos meses seguintes. Passou por estresse novamente em agosto e em setembro, e fechou o ano no terreno positivo em 4,97%. Já em 2021, até fevereiro, o fundo estava negativo em -2% e o IMA-B, em -2,36%.
Para o BNP Paribas, que também se destacou com o BNP Inflação FIC FI RF entre os dez mais rentáveis na categoria juro real, apesar da alta volatilidade enfrentada nos últimos três anos, fazer a leitura correta dos cenários fez toda a diferença. “Nos movimentos bruscos, alguns fundos ficaram pelo meio do caminho, porque seus riscos não eram compatíveis com a volatilidade do mercado. Quando precisamos ficar mais defensivos, fizemos isso, e quando vimos possibilidade de acelerar o risco, também”, afirma Michael Kusunoki, gestor de renda fixa e multimercados da BNP Paribas Asset Management.
A rentabilidade de seu fundo no ano passado foi de 5,9% e, além da estratégia de alocar em ativo de juro real (NTN-B), também usa o risco ativo do juro nominal (prefixado, como o DI futuro), com títulos de diferentes prazos. “Aumento um pouco a ‘duration’ do fundo quando estou mais otimista. Neste momento, não estou muito otimista porque tem inflação andando acelerada e preocupa a dívida fiscal do governo”, diz Kusunoki.
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