O rombo dos Correios

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O rombo dos Correios
// Breaking Goods

correios 23-11

Caros amigos e leitores, temos mais uma instituição brasileira de grande importância com problemas. No dia 13 de novembro houve a divulgação do resultado da Petrobras, que não só preocupa pelo prejuízo, como também pelos problemas de ordem estrutural e a operação Lava-Jato. Hoje é dia de falar dos Correios, que recentemente ganhou um novo presidente. Este veio a público para dizer que de nada adianta jogar a sujeira para debaixo do tapete, que devemos ser realistas (finalmente alguém que pense assim) e que deve ser justo e honesto com a situação atual da empresa. Vamos ver em que pé se encontra?

Giovanni Queiróz, novo presidente dos Correios, estimou em uma entrevista para o Jornal o Estado de São Paulo, que o rombo nas contas de 2015 dos Correios seja de mais de R$900 milhões. Isso aconteceu apenas dois dias após assumir o cargo. Segundo ele, um dos problemas é a defasagem das tarifas, já que os preços ficaram represados por dois anos para segurar a inflação (mesma história da Petrobras e o preço dos combustíveis) e no ano passado houve reajuste de somente 7%, que não foi suficiente. Em 2014, inclusive, a empresa teve o menor lucro de sua história e só não houve prejuízo por conta de uma manobra contábil. O lucro líquido em 2012 havia sido de pouco mais de R$1 bilhão, em 2013 foi de R$325 milhões e no ano passado de apenas R$9,9 milhões. Despencou. A manobra contábil para não haver prejuízo consistiu em reverter a provisão contábil que existia para cobrir um possível rombo no fundo de pensão dos Correios, a Postalis. Essa provisão havia sido feita há 6 anos e era de aproximadamente R$1 bilhão. Na época que esta manobra foi feito, o então presidente dos Correios, Wagner Pinheiro, disse que o conselho de administração acatou a determinação do Tesouro Nacional e recebeu sinal verde da Previc, que é o órgão que fiscaliza os Fundos de Pensão.

A Postalis tem um déficit atuarial de R$5,6 bilhões e em março deste ano o Conselho Deliberativo definiu que os funcionários que entraram até 2008 deverão ter contribuição extra no fundo de previdência (aproximadamente 75% da empresa), além de um corte de quase 26% nos salários de todos. Integrantes do Fundo dizem que o problema foi a má gestão dos recursos e como foram aplicados nos últimos anos, além de acusarem os Correios de não terem pago a dívida com a Postalis. Com tudo isso, houve greve dos funcionários em vários Estados na época. Em maio, a Previc divulgou relatórios apontando que dirigentes e conselheiros do Fundo não agiram com “zelo e ética” nos investimentos, chegando à conclusão que o Fundo tem parte de responsabilidade no rombo. Alguns investimentos ruins, como por exemplo aplicações em títulos dos bancos Cruzeiro do Sul e BVA (que foram liquidados) e também títulos de dívida de países como Argentina e Venezuela, foram responsáveis pelo péssimo resultado dos últimos anos. Em agosto, o Ministério Público do Distrito Federal abriu investigação sobre o Fundo de Pensão, apontando por exemplo, erros na contabilidade do provisionamento, aquisição de ativos em desacordo com a Resolução do Conselho Monetário Nacional e pagamento em cascata de taxas de administração dos fundos de investimento, além de outras irregularidades. Neste mesmo mês também foi instalada a CPI dos Fundos de Pensão na Câmara dos Deputados, com o bloqueio de dos bens de 16 pessoas ligadas ao Fundo, incluindo o diretor-presidente, Antonio Carlos Conquista, já que houve indício de fraude na compra de um terreno em Cajamar, em São Paulo, pela Postalis. Nesta CPI também estão sendo apuradas as operações de outros Fundos de Pensão de empresas estatais, como a Petros (Petrobrás), a Funcef (Caixa) e a Previ (Banco do Brasil).

Sendo assim, vemos que os Correios têm problemas estruturais grandes para corrigir, não só no que tange sua operação, como também no Fundo de Pensão de seus funcionários. O novo presidente disse também que reconhece que não só os preços estão defasados, como também os serviços, além de ter tido um aumento de despesas superior ao aumento da receita. Ainda não houve significativa diminuição do uso dos Correios, mas é clara a tendência de haver cada vez menos circulação de papel e passar a usar a Internet para notificações, cartas e outras coisas. Falou também do grande prazo que hoje existe para entregas via Sedex, operação esta que tem representatividade de um terço do faturamento com serviços para os Correios. Aí está mais uma prova de que com livre mercado e sem o monopólio que existe sobre esse tipo de serviço no Brasil, com certeza teríamos preços, serviços e atendimento melhores, sem contar a gestão do Fundo de Pensão que não ficaria a cargo de políticos ou indicados por estes.

Pela primeira vez em muito tempo, vi um presidente de uma estatal falar abertamente dos problemas da empresa e ainda sugerir o corte do próprio salário, além dos vices. O conselho de administração aprovou a redução que foi de aproximadamente 40%. Ponto para Giovanni! Resta saber quais serão as outras medidas tomadas para cobrir este rombo, que deverá ser muito mais ampla que apenas subir as tarifas. Com o resultado negativo ao final deste ano, será a primeira vez em 20 anos que a companhia terá prejuízo, coisa que já deveria ter acontecido se não fosse a manobra contábil feita com a provisão ao Fundo de Pensão, que é um problema grave que deve ser visto com cautela bastante atenção. São mais de 110 mil funcionários com uma bomba relógio em suas costas.

Mais uma vez, peço a atenção de vocês, caros leitores. Esse é um problema que não parece ser meu e seu, mas é através desse tipo de empresa e gestões públicas que se abrem as portas para coisas piores. Precisamos ter responsabilidade sobre todo o dinheiro público e como é utilizado e isso tem tudo a ver com os Correios. Estou contente com as primeiras medidas e falas do novo Presidente, mas muito além dele, a política de forma geral tem que mudar. Espero que com informações cada vez mais acessíveis, possamos cobrar melhor nossos governantes e tomar atitudes. A realidade da empresa não se restringe a ela e temos outras empresas estatais com problemas, assim como seus respectivos fundos de pensão. Fiquem de olho!

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