Vaccari emplaca aliada e ex-Bancoop na diretoria do aeroporto de Guarulhos

Ana Maria Érnica, também ex-diretora do sindicato, foi indicada pela Previ, o fundo de pensão do Banco do Brasil, que tem 25,5% das ações da Invepar – que, por sua vez, detém 45,9% de participação no aeroporto. Vai receber um salário de cerca de 45 mil reais e tem mandato válido até agosto de 2027. Sua nomeação foi aprovada pelo Conselho de Administração do aeroporto no último dia 14 de março

Érnica já foi alvo de processo no caso Bancoop, como ficou conhecido o escândalo de desvio de verbas da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo para o caixa do PT. Ao todo, 3 mil famílias foram prejudicadas pelo esquema e não receberam unidades habitacionais financiadas pela entidade. Ela foi absolvida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em 2019.

Esse histórico poderia pesar contra a apadrinhada de Vaccari numa verificação de compliance, mesmo ela tendo sido absolvida.

O governo Lula em imagens

Érnica, porém, já é gerente de compliance do próprio Aeroporto de Guarulhos desde o ano passado, quando, de acordo com fontes ligadas ao caso, o mesmo Vaccari tentou fazer dela diretora financeira. Na ocasião, porém, houve resistência dos conselheiros, e ela acabou alojada na gerência.

Questionada a respeito do caso, a GRU Airport, que administra o aeroporto, informou apenas que “a nomeação da diretora Administrativa, Ana Maria Érnica, cumpriu todos os ritos de Governança e requisitos internos de seleção”. Não esclareceu, porém, qual o papel de Vaccari nessa indicação.

Tesoureiro do PT entre 2010, quando também coordenou as finanças da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, e 2015, quando foi preso pela Operação Lava-Jato, Vaccari foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por operar esquema de arrecadação de propina para o partido no que ficou conhecido como o escândalo do Petrolão.

Ele chegou a ser condenado a 24 anos de prisão e cumpriu quatro deles no Paraná, mas deixou a prisão em 2019 no regime semiaberto e teve a condenação cancelada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que considerou a Justiça Federal paranaense incompetente para julgar seu caso.

Sua influência sobre as nomeações de Lula neste terceiro mandato começou a ser notada quando o presidente escolheu o professor de história, servidor do Banco do Brasil e sindicalista João Fukunaga para presidir a Previ (a indicação do presidente e dos diretores de participações e investimentos do fundo é prerrogativa do Banco do Brasil, que é controlado pelo governo).

Fukunaga, que não tinha histórico de gestão, teve inclusive sua nomeação questionada na Justiça. Em sua gestão, ele trabalhou para ampliar a participação do governo em empresas consideradas estratégicas para Lula e o PT.

Na Invepar, que além do Aeroporto de Guarulhos também administra algumas rodovias e o VLT carioca, Fukunaga alojou diversos aliados de Vaccari e apadrinhados de dirigentes petistas – como a advogada Luciana Okamotto, filha de Paulo Okamotto, atual presidente da Fundação Perseu Abramo e amigo de décadas do presidente Lula.

Nas últimas semanas, o governo passou a cogitar a demissão de Fukunaga e a discutir a sua substituição. Pesaram contra ele a auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o prejuízo de R$ 14 bilhões apresentado pelo fundo em 2024, além de negócios como a compra de ações da Vibra no ano passado – hoje, o fundo detém 5,24% da antiga BR Distribuidora.

Petistas e não petistas ligados ao governo citam, ainda, a proximidade com o advogado Tiago Cedraz, filho do ministro do TCU Aroldo Cedraz, com quem Fukunaga viajou em agendas no exterior, segundo a colunista Bela Megale.

Mesmo que Fukunaga deixe o cargo, porém, nada indica que Vaccari vá perder a influência.

https://oglobo.globo.com/blogs/malu-gaspar/post/2025/03/vaccari-emplaca-aliada-e-ex-bancoop-na-diretoria-do-aeroporto-de-guarulhos-controlado-pela-previ.ghtml