Quadros do fundo de pensão do Banco do Brasil passaram a integrar conselhos de novas companhias nos últimos meses
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante cerimônia em Brasília na última segunda-feira (17) — Foto: Brenno Carvalho/O Globo
Além da petroleira, um diretor da Previ passou a integrar o conselho da Vibra (ex-BR Distribuidora) no final de abril, depois que o fundo de pensão comprou ações e aumentou sua participação de 3% para 6,38%. O fundo chegou a tentar um acordo com os outros investidores para ter mais um conselheiro, mas não conseguiu votos suficientes.
A entrada da Previ no conselho da Vibra foi vista por analistas de mercado e pelos próprios sócios como uma jogada afinada com o interesse do governo de recuperar a influência que deixou de ter em 2021, quando a Petrobrasvendeu suas últimas ações da empresa.
Lula sempre foi contra a privatização da companhia, que agora além de ser privada se tornou uma corporation – empresa de controle pulverizado, em que nenhum acionista dá as cartas sozinho.
O governo Lula em imagens
É o que acontece na Vale, em que a Previ tem 14,3%, juntando participações diretas e indiretas, e dois de 11 conselheiros – o ex-presidente da Previ Daniel Stieler, que é também presidente do conselho da Vale, e o atual presidente da Previ, João Fukunaga.
Segundo integrantes da cúpula da mineradora e do governo, os dois agiriam em consonância ou sob a influência do ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo João Vaccari Neto, que chegou a ter conversas de bastidores com acionistas para discutir a indicação de um CEO.
Tesoureiro do PT entre 2010, quando também coordenou as finanças da campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, e 2015, quando foi preso pela Operação Lava-Jato, Vaccari foi denunciado por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha por operar esquema de arrecadação de propina para o partido no que ficou conhecido como o escândalo do Petrolão.
Ele chegou a ser condenado a 24 anos de prisão e cumpriu quatro deles no Paraná, mas deixou a prisão em 2019 no regime semiaberto e teve a condenação cancelada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, que considerou a Justiça Federal paranaense incompetente para julgar seu caso.
A influência sobre as nomeações de Lula neste terceiro mandato começou a ser notada com a escolha de Fukunaga, próximo a Vaccari, para presidir a Previ (a indicação do presidente e dos diretores de participações e investimentos do fundo é prerrogativa do Banco do Brasil, que é controlado pelo governo).
Desde então, o nome do ex-tesoureiro é mencionado nos bastidores toda vez que se discute alguma indicação importante do fundo ou do governo para companhias estratégicas.
Em janeiro passado, o presidente da República tentou emplacar no conselho ou como CEO da Vale o ex-ministro Guido Mantega, mas a iniciativa foi rechaçada pelos outros acionistas, como o empresário Rubens Ometto, que tem 2% da mineradora.
O governo então tentou convencer Ometto a fechar um acordo em torno da indicação de Paulo Caffarelli, ex-presidente do Banco do Brasil e da Cielo que também contava com o aval de Vaccari. Até agora, nada feito. O processo de escolha do CEO foi tumultuado por conflitos internos e adiamentos e ainda não acabou.
O próprio presidente da Previ, João Fukunaga, teve a indicação contestada quando assumiu o comando do fundo, que administra uma carteira de R$ 300 bilhões e 200 mil participantes. Ele chegou inclusive a ser afastado por liminar judicial, já derrubada, por não ter a experiência de três anos exigida por lei para ocupar o cargo.
Fukunaga, que é professor de história, servidor do Banco do Brasil e sindicalista, admite ser amigo de Vaccari – “ele foi meu presidente”, disse em conversa pelo telefone, referindo-se ao Sindicato dos Bancários –, mas nega que o ex-tesoureiro influencie na Previ e nas indicações para as empresas de que o fundo participa.
Fukunaga, porém, admite que segue a mesma linha de Lula em vários assuntos. “Sou crítico ao modelo de corporation, nunca escondi isso. Para não acontecer o que aconteceu na BRF, na Americanas, na Vale… A própria Vibra está meio à deriva”, disse ele, que com a presença nos conselhos da Vale e do Aeroporto de Guarulhos acumula uma remuneração total de cerca de R$ 180 mil, incluindo o salário na Previ.
Fukunaga diz que a Previ brigou para fazer parte do conselho da Vibra porque “a empresa estava tomando um rumo com que a gente não concordava em termos de sustentabilidade”, referindo-se à escolha de Fabio Schvartsman para o conselho.
Schvartsman foi presidente da Vale na época do rompimento da barragem de Brumadinho (MG), em 2019, e responde a processos pelas mortes causadas pelo desastre.
Fukunaga diz que a Previ é investidor de longo prazo e que a Vibra é “super rentável”, daí o interesse em aumentar a participação e a influência na companhia.
Quanto à indicação de Melgarejo para a Petrobras, Fukunaga afirma que não teve a ver com ele ou com Vaccari, e sim com a presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, que teria recomendado o executivo para a nova CEO, Magda Chambriard.
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