Incertezas no mercado geram prêmios nas NTN–Bs acima das metas atuariais
O aumento recente dos prêmios das NTN-Bs em função das inúmeras incertezas no horizonte têm atraído o interesse de uma série de fundos de pensão. Fundação Itaipu (Fibra), Previrb e EmbraerPrev são alguns exemplos de fundações que aproveitaram o estresse do mercado nas últimas semanas para encarteirar títulos públicos indexados à inflação, enquanto outras como Fundiágua e Fundação Promon se preparam para tirar proveito das oportunidades que começaram a surgir na renda fixa.
Entre maio e junho a Fibra adquiriu cerca de R$ 220 milhões em NTN-Bs de longo prazo, com vencimento em 2045 e 2050, conta o gerente de investimentos, Marcos Litz. Os recursos para realizar as compras foram oriundos da própria carteira de renda fixa da fundação. “Trocamos títulos de curto prazo por papéis de longo prazo”, explica o especialista.
A Fibra faz a gestão de um único plano, de Benefício Definido (BD), que soma cerca de R$ 3,5 bilhões, com uma meta atuarial de inflação mais 5,76%. “Todas as compras foram com taxas acima do nosso atuarial. A taxa média das aquisições de NTN-Bs que fizemos recentemente ficou em torno de 5,90%”. No início do ano, recorda o gerente, as taxas estavam próximas dos 5%.
Caso os prêmios sigam nos patamares atuais, Litz não descarta novas aquisições nos próximos meses. “Temos liquidez suficiente para aproveitar boas oportunidades ao redor dos 6%”. Ele fala que, embora ainda esteja aberto para novas adesões, o plano BD da Fibra já é maduro, com mais pagamentos de benefícios do que contribuições, o que levou a fundação a optar por fazer a marcação na curva dos títulos recém adquiridos para evitar o aumento da volatilidade em seu portfólio.
A Previrb, com uma meta atuarial de INPC mais 4,38%, também não tem tido dificuldades para encontrar NTN-Bs com taxas suficientemente elevadas para fazer frente ao seu passivo.
O superintendente geral da Previrb, João Bosco Barros, explica que o fundo de pensão já reduziu sua meta para níveis próximos de 4% desde 2012, quando vislumbrava na ocasião, assim como nos dias atuais, um período desafiador para o mercado. “Hoje conseguimos encontrar taxas acima da nossa meta em quase todas NTN-Bs com prazo superior a três anos, e temos aproveitado para fazer compras na parte média e longa da curva”. Os recursos para fazer tais aquisições vem das contribuições dos participantes e da patrocinadora e também de vencimentos de títulos que a Previrb tem em carteira.
“Já compramos um lote de cerca de R$ 35 milhões em NTN-Bs, e devemos fazer novas aquisições nos próximos meses”, afirma o dirigente, acrescentando que, assim como na Fibra, as aquisições estão ocorrendo via marcação na curva para evitar o aumento da volatilidade.
Eléu Baccon, EmbraerPrev
Liquidez – Na EmbraerPrev, o diretor superintendente, Eléu Baccon, fala que no final de maio a entidade aproveitou a abertura dos prêmios e adquiriu cerca de R$ 16 milhões em NTN-Bs com vencimento em 2045, que estavam oferecendo taxas próximas de 5,71%. A meta atuarial do fundo de pensão é de inflação mais 4,5%.
O volume da aquisição, admite Baccon, é tímido se comparado com o Patrimônio Líquido (PL) próximo de R$ 2,7 bilhões da fundação. Ele explica que o montante adquirido foi limitado pela liquidez do fundo de pensão, que não tem tantos recursos disponíveis para novas aquisições no mercado diante das contribuições e dos pagamentos de benefícios. “Seguimos atentos às oportunidades nesse segmento do mercado, e havendo recursos disponíveis e taxas atrativas vamos fazer novas compras”, afirma o dirigente, lembrando que após a aquisição feita pela EmbraerPrev os prêmios das NTN-Bs subiram ainda mais e chegaram a beirar os 6%.
Para proteger a carteira da volatilidade e dada sua capacidade indicada pelo ALM de segurar os papéis no longo prazo, a entidade, em linha com seus pares, fez a marcação das NTN-Bs recentemente adquiridas à vencimento, “o que nos traz proteção contra os estresses do mercado”.
Embora o aumento da remuneração ofertada pelos títulos públicos represente uma oportunidade para os fundos de pensão, o superintendente da EmbraerPrev ressalta que “não torce para que isso ocorra, até porque significa que alguma coisa provavelmente está errada na economia, com prováveis reflexos em outras classes de ativos que temos em carteira. Por outro lado, não podemos também deixar de aproveitar taxas nesses níveis em ativos teoricamente sem risco”.
ALM – Na Fundiágua, o diretor financeiro Mário Figueiredo conta que, em função da volatilidade do mercado, foi encomendado um novo estudo de ALM junto a Aditus para verificar a possibilidade de adquirir NTN-Bs que casem com seu passivo e, aproveitando as taxas mais altas dos títulos, superar as metas atuariais nos planos BD.
O ALM anterior, explica Figueiredo, indicava que tanto para os dois planos BD da entidade como também para o CD seria necessário o aumento do risco na carteira via renda variável e multimercados estruturados para fazer frente à taxa de juros reduzida. No início do ano os prêmios ofertados pelas NTN-Bs estavam ao redor de 5,10% e até poderiam fazer frente, ainda que próximos ao limite, da meta do BD 1, que é de 5%. Mas não seriam elevados o suficiente para suprir a necessidade atuarial do BD 2, que é de 5,76%.
Com o aumento dos prêmios, agora próximos de 6%, e o novo ALM, a Fundiágua se prepara para iniciar as compras das NTN-Bs para os planos BD. Segundo Figueiredo, nesses planos será feita a marcação na curva, prática que segundo ele não é recomendada para os planos CD. Até por conta da volatilidade esperada para os próximos meses, diante do indefinido cenário eleitoral, o especialista acredita que não terá dificuldades em encontrar papéis com taxas superiores às metas.
No plano BD 1, que soma cerca de R$ 15 milhões, as compras dos títulos indexados à inflação devem promover uma renovação total no portfólio. “Nesse plano temos uma exposição com uma duration muito longa, com ativos com vencimento em 2050. Vamos reduzir esse prazo vendendo o que temos e comprando títulos por volta de 2026 para fazer frente aos pagamentos de benefícios previstos”.
No BD 2, que soma cerca de R$ 400 milhões, as movimentações devem alcançar R$ 120 milhões, vendendo títulos de curto prazo e comprando papéis mais longos. A entidade aguarda a aprovação da diretoria executiva e do conselho deliberativo para dar início à movimentação, o que deve ocorrer em agosto.
Figueiredo diz ainda que há nos dois planos BD alguns títulos de longo prazo marcados à mercado, o que traz muita volatilidade para a carteira da fundação. “Vamos vender esses títulos e marcar os que vamos comprar a vencimento, para reduzir a volatilidade”.
Ele conta que, diante das oportunidades na renda fixa, os planos BD vão interromper, ao menos momentaneamente, a busca por mais risco que o ALM anterior recomendava. Já no plano CD, que tem PL de aproximadamente R$ 500 milhões e não vai participar das compras das NTN-Bs, a busca por mais risco continua, principalmente através de fundos ativos de ações e multimercados.
Andre Natali, da Fundação Promon
Monitoramento – Por sua vez, o diretor de investimentos da Fundação Promon, Andre Natali, afirma que a entidade também tem monitorado a elevação dos prêmios das NTN-Bs nas últimas semanas, e pretende aproveitar a oportunidade para comprar títulos com rendimento na casa dos 6% para seu plano CD. A aquisição desses ativos, no entanto, deve demorar ainda algumas semanas, uma vez que a volatilidade do mercado está bastante elevada, com potencial risco de contágio para a carteira do fundo de pensão, diz Natali. “Não queremos aumentar a volatilidade no nosso porftfólio em um ambiente de tantas incertezas”, diz o diretor de investimentos. Ele destaca que por se tratar de um plano CD, as compras dos títulos tendem a ser feitas via marcação a mercado.
Já o plano BD da Promon, prossegue o especialista, conta com uma carteira de títulos públicos marcados na curva adquiridos na última década, com o ALM indicando que não existe a necessidade de modificações para garantir o retorno esperado aos participantes. “Além disso, no BD não temos liquidez para comprar novos ativos, teríamos de realizar prejuízo com a venda da nossa participação na bolsa. No CD a carteira é muito mais líquida, toda marcada à mercado, e podemos fazer uma alocação em IMA através da realização de uma posição em DI”.
Busca por risco – Apesar do aumento recente da rentabilidade dos títulos públicos indexados à inflação, a Fundação Promon não interrompeu a busca que já vinha realizando por outras classes de ativos. No momento a entidade avalia a estruturação de um fundo exclusivo para investir no exterior, e também tem no radar fundos de crédito privado. “São alternativas do mercado que tem uma correlação menor com o desempenho da economia se compararmos com a bolsa”, pontua Natali.
O dirigente acrescenta que a fundação não enxerga o mercado acionário doméstico como uma boa opção atualmente. “A busca por risco precisa ser de maneira comedida”. Natali destaca ainda que a Promon também deve aproveitar o aumento do limite para multimercados estruturados, de 10% para 15% ocorrido após a reforma da antiga 3.792, para se expor mais. As alocações da entidade no segmento já estavam próxima de 9%. “São fundos que em períodos de alta volatilidade conseguem ter uma boa performance”.
Bolsa – Na EmbraerPrev o diretor superintendente Eléu Baccon diz que as oportunidades nos títulos públicos indexados à inflação não alteraram a visão positiva do fundo de pensão quanto ao desempenho futuro do mercado de renda variável. A EmbraerPrev tem aumentando nos últimos meses sua exposição em bolsa, que passou de 5% para os atuais 15%. “Acreditamos que o próximo presidente terá de fazer as reformas de ajuste fiscal, o que deve dar impulso para a bolsa”, fala o superintendente, que descarta a venda de parte do portfólio em ações para fazer aquisições maiores de NTN-Bs.
Já a Fibra, por conta das incertezas que vislumbrava no horizonte, não iniciou no começo do ano o movimento em busca de mais risco para fazer frente à sua meta atuarial. “Entendemos que seria melhor aguardar um pouco mais para ter uma clareza maior antes de seguir em alguma direção”, conta Litz. “Nesse meio tempo, com o estresse no mercado, acabaram surgindo oportunidades nas NTN-Bs”.
Na Previrb, o superintendente João Bosco Barros pontua que a fundação, para tirar proveito das oportunidades nos títulos indexados à inflação, deu uma ‘freada’ no movimento de busca por mais risco iniciado no começo de 2018. “A interrupção momentânea dessa procura por ativos de maior risco não significa que não vamos retomar essa estratégia mais à frente, passado o período eleitoral”.