Como o risco Brasil afetou a rentabilidade de fundos de pensão

Na sequência dos bons resultados dos dois anos anteriores, 2018 começou de forma favorável para os fundos de pensão do país, com o mês de janeiro apresentando uma valorização surpreendente do mercado acionário e, ao mesmo tempo, um fechamento das taxas de juro de médio e de longo prazo, que impulsionou a rentabilidade dos títulos de renda fixa de maior duração.

O cenário interno no início do ano era promissor, sustentado por uma inflação abaixo da esperada e pelas boas perspectivas para o crescimento econômico. Nesse contexto, a taxa de juro se mantinha nas mínimas históricas e os fundos de pensão passaram a considerar o aumento da alocação estratégica em ativos mais arriscados com o objetivo de compensar a queda de rentabilidade da renda fixa.

Se o cenário interno era positivo, o mesmo não se podia concluir do mercado financeiro internacional na medida em que a aversão ao risco se elevava. Mantendo a tradição, os países emergentes foram os primeiros a sentir a mudança e, gradualmente, o risco soberano foi subindo – Argentina e Turquia logo se mostraram vulneráveis.

O risco Brasil também aumentava, porém em ritmo mais moderado, e isso fez com que os ativos brasileiros fossem menos atingidos no primeiro quadrimestre. Em decorrência, os títulos de renda fixa e, principalmente, os de renda variável sustentaram a boa rentabilidade dos fundos de pensão e possibilitaram que as taxas de juros atuariais, um importante parâmetro para o resultado dos planos de previdência complementar, fossem superadas com relativa folga até abril.

O mês de maio, contudo, marcou a reversão do bom momento do país e a aceleração do risco Brasil no semestre. O risco soberano medido pelo CDS (Credit Default Swap) teve elevação generalizada. Enquanto o CDS médio dos países emergentes saltou de 119 pontos no final de dezembro para 191 pontos no final de junho (alta de 61% no semestre), o CDS do Brasil subiu de 162 pontos para 270 pontos (alta de 67%) nessa comparação.

A paralização dos caminhoneiros na segunda quinzena de maio pode ser considerada como o evento que iniciou a disparada do risco Brasil, cujos impactos comprometeram a rentabilidade dos fundos de pensão a partir de então. Em menos de 45 dias, o mercado acionário caiu 15% e passou a apresentar um retorno negativo no ano, enquanto as taxas de rendimento dos títulos de renda fixa de maior duração subiram, prejudicando a rentabilidade dos títulos públicos – a NTN-B 2023 (Nota do Tesouro Nacional com vencimento em 2023), por exemplo, apresentou uma inesperada rentabilidade negativa de 2% no período.

Além do revés na rentabilidade dos principais segmentos verificado a partir de maio, houve a contribuição negativa da inflação de junho, bem mais alta do que a prevista no começo do ano. Como a inflação é um dos componentes da taxa de juro atuarial, o repique de preços em junho acabou fazendo com que atingisse, em média, 5,1% no semestre, superando a rentabilidade média líquida do patrimônio dos planos de benefício definido, estimada em 3,9%, e dos planos de contribuição definida, estimada em 2,3% no semestre.

O contratempo da primeira metade do ano de forma alguma modifica os bons resultados recentes dos fundos de pensão. Contudo, mais uma vez mostra o quanto o cenário global é relevante para o desempenho dos ativos marcados a mercado que oscilam com liberdade e o quanto é importante para a rentabilidade dos investimentos.

É instigante observar como a globalização dos mercados pode interferir nas perspectivas para o valor econômico dos benefícios de aposentadoria complementar no país, seja para cima, seja para baixo, talvez com peso maior do que o das variáveis internas, o que nos leva sempre a refletir se tem sido adequadamente ponderada na gestão estratégica de investimentos.

Jair Ribeiro é especialista em fundos de pensão da Fundação Eletrobrás de Seguridade Social (Eletros)

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