Fapes, do BNDES, quer ampliar investimento feito no exterior

RIO – (Atualizada às 21h02) A Fapes, fundo de pensão dos funcionários do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), quer aumentar sua exposição aos investimentos no exterior para cerca de 10% do seu patrimônio, limite máximo permitido pela legislação. Para fazer a alocação, que pode ultrapassar R$ 1 bilhão — o patrimônio da entidade supera os R$ 11 bilhões —, a fundação não pretende alterar as aplicações atuais e sim utilizar a posição mais líquida em caixa.

Segundo o diretor de investimentos da fundação, Victor Tito, a estratégia de diversificação também passa pelo aumento da alocação em multimercados e alongamento da carteira de títulos públicos. “Já havia um anseio da Fapes de buscar alternativas de diversificação. Uma das mais evidentes é fazer isso lá fora. O mercado é muito maior, tem muito mais ativos, geografias, estratégias, gestores”, afirma Tito.

A Fapes já investiu cerca de R$ 300 milhões — ou pouco mais de 3% de seu patrimônio — no segmento. “Nossa intenção é de alguma forma chegar ao fim do ano com boa parte desses 10% alocada, tudo a depender também de como o mercado se comportará”, diz o diretor.

As fundações só podem investir no exterior por meio de fundos locais. O capital já aplicado pela Fapes hoje está distribuído em três veículos distintos dos gestores J.P. Morgan, BlackRock e Nordea, via Banco do Brasil.

De acordo com a regra atual, além do limite de 10% de sua carteira, as fundações não podem ter fatia superior a 15% do patrimônio total do fundo que investir no exterior e só podem aplicar em gestores em atividade há mais de cinco anos e que administrem recursos de terceiros superiores a US$ 5 bilhões. Não há informações oficiais sobre os investimentos dos fundos de pensão no exterior, mas especialistas estimam que a alocação não chega a R$ 3 bilhões — de um total de mais de R$ 800 bilhões. O déficit de 76 entidades ao final de março era de R$ 31 bilhões.

Hoje, cerca de metade da carteira da fundação do BNDES está alocada em renda fixa de longo prazo — NTN-Bs com vencimento em 2050 — e o plano da gestão atual é alongá-la ainda mais conforme as oportunidades do mercado. “A depender de como o mercado se comportar, podemos ver uma curva de juros abrindo muito fortemente. Nessa situação, achamos que é quase mandatório aproveitar o momento de crise para alongar os ativos. É uma oportunidade matemática para a Fapes”, avalia, citando a melhora na solvência da fundação. O aumento da alocação dos fundos multimercados é outra estratégia a ser adotada.

As mudanças ocorrem em meio ao processo de aprovação do plano de equacionamento do déficit da fundação, que ainda depende de aprovação do conselho deliberativo.

Segundo a Fapes, participantes e patrocinadores fazem hoje contribuições adicionais, por 25 anos, para cobrir um déficit de R$ 953 milhões relativos a 2015. No ano passado, os ativos da fundação tiveram valorização de 14,56% ante meta atuarial de 8% e um possível novo equacionamento para um déficit de R$ 2,3 bilhão ainda está em processo de aprovação. Neste caso, o valor a ser equacionado seria de pouco mais de R$ 200 milhões. Caso ocorra, as novas contribuições adicionais seriam a partir de 2019.

Nos primeiros quatro meses do ano, os investimentos da Fapes acumulam ganhos de 5,3%, ante meta atuarial de 2,8%. A fundação ainda não tem os números fechados de maio e junho, marcados por resultados negativos no mercado que, consequentemente, pressionaram o setor de fundos de pensão como um todo. Tito faz ressalvas com comparações de curto prazo e também com os resultados da indústria.

“Fundos de pensão são muito diferentes entre si, desde as práticas contábeis — há fundos que marcam parcelas relevantes de seus ativos na curva, enquanto outros deixam que os ativos flutuem mais ao sabor do mercado. Alguns fundos tomam muito mais risco que outros. Essa comparação fica prejudicada e por vezes muito simplificada quando se ignora essas duas questões”, afirma.

A Fapes tem cerca de R$ 900 milhões aplicados em imóveis e considera sua estratégia no segmento vencedora. Quase 70% da carteira é de investimento em shoppings. Com as novas regras do Conselho Monetário Nacional (CMN), as fundações não poderão mais aplicar diretamente no segmento e terão 12 anos para se desfazer dos ativos. Outra alternativa é continuar investindo nos mesmos ativos por meio de fundos de investimento imobiliários exclusivos.

“Estávamos confortáveis em fazer essa gestão internamente. No caso da Fapes, temos ativos maduros, que do ponto de vista de risco podem se comparar com NTN-Bs longas”, afirma. Por outro lado, o limite de alocação no segmento sobe de 8% para 20%. “Se eventualmente encontramos ativos maduros e de qualidade tão boa quanto esses que já temos em carteira, poderemos aumentar a participação de imóveis nessa carteira”, diz.

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