Reajuste diário de combustível é irresponsável, diz Mendonça de Barros

SÃO PAULO – O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros critica a Petrobras e o governo pela política de reajustes diários dos preços, classificada por ele como irresponsável. “Eles conseguiram internalizar no pico um processo especulativo de petróleo lá fora por causa do Irã”, diz ele. “A Petrobras é monopolista. Isso já obriga o gestor da Petrobras a tomar cuidado com o que ele faz.” Os reajustes deveriam ser mais espaçados, segundo Mendonça de Barros, que foi presidente do BNDES e hoje é presidente do conselho da Foton Brasil, que fabrica caminhões. A seguir, mais um trecho da entrevista.

Valor: Como o sr. avalia a política de preços da Petrobras?

Mendonça de Barros: Como irresponsável. Eles conseguiram internalizar no pico um processo especulativo de petróleo lá fora por causa do Irã. Foi isso o que eles fizeram. E a Petrobras é monopolista. Isso já obriga o gestor da Petrobras a tomar cuidado com o que ele faz. Se ele explorar o poder monopolista, ele faz o que ele quer. E é um preço-chave numa economia como a nossa, que só vive de transporte… Não houve avaliação de risco.

Valor: Os reajustes não podem ser diários?

Mendonça de Barros: Óbvio que não, ainda mais num processo especulativo de petróleo.

Valor: O sr. acha então que os reajustes deveriam ser mais espaçados.

Mendonça de Barros: É, com uma média móvel, algo assim, e explicando – “O petróleo que chegou a US$ 30, US$ 40, US$ 45, o barril está agora bem mais caro”.

Valor: Deveria haver um imposto para amortecer a volatilidade dos reajustes de preços?

Mendonça de Barros: Eu não sei. O erro foi não considerar o risco associado a essa política no sistema de transporte, que foi o que ocorreu.

Valor: O sr. acha que a responsabilidade é principalmente da Petrobras?

Mendonça de Barros: É óbvio. Eles tinham que ter noção do que estavam fazendo. E erro do governo, porque o governo teria que ter lá no Palácio do Planalto alguém que estivesse olhando isso aí e não estava.

Valor: Pedro Parente pediu demissão da Petrobras. Como isso afeta as perspectivas para a empresa?

Mendonça de Barros: Acho que vão escolher um nome mais adequado para o momento atual. Com uma visão de que um monopólio público não pode ignorar os efeitos de sua política na opinião pública. E Pedro Parente esqueceu desse ensinamento, apesar de sua longa experiência.

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