O Custo do Populismo Econômico

Parente fez um trabalho impressionante de reestruturação financeira e reconstrução de imagem da Petrobras

Monica de Bolle*

1031219-14072016-_dsc5311.jpgO ex-presidente da Petrobras, Pedro Parente (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Já sabíamos que o preço da capitulação de Temer às demandas dos caminhoneiros e dos donos das transportadoras pesaria, e muito, sobre as contas públicas. Já tínhamos nos dado conta de que ao render-se, Temer arremessara no colo do próximo governo mais um petardo fiscal, como se já não os tivéssemos em profusão. Imaginávamos que, mais cedo ou mais tarde, a situação de Pedro Parente à frente da Petrobras ficaria insustentável. Pois ficou.

Há muitas opiniões informadas e desinformadas correndo por aí, muita gente querendo dar o seu pitaco sobre a política de preços da empresa. Como sempre, simplismos abundam. Parente é demonizado por uns. Outros pedem a privatização urgente da Petrobras.

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Parente fez um trabalho impressionante de reestruturação financeira e reconstrução de imagem da empresa brasileira, não merece ser tratado como inimigo do povo brasileiro. Por outro lado, privatização urgente não existe, sobretudo em se tratando de uma empresa do porte e complexidade da Petrobras. É possível abrir o setor? Claro que sim. Mas isso é tarefa para o próximo governo, não para o atual moribundo.

Os simplismos são tentadores, mas cedem facilmente ao que hoje falta no Brasil: reflexão. A política de preços da Petrobras nada tem de simples. De um lado, precisa atender às necessidades da empresa, tanto do ponto de vista da geração de receitas e fluxo de caixa, de dividendos para os investidores, e de recursos para que possa investir. Durante os anos de congelamento de preços na era Dilma, a empresa não teve capacidade de investir, impedindo, portanto, ganhos para a economia e para a sociedade brasileira. Por outro lado, os preços dos combustíveis têm imensa repercussão política. Navegar essa dicotomia é algo bastante complexo.

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Como dirigente da empresa, cabia a Parente propor a política que melhor atendesse às necessidades elencadas acima. Como principal acionista, cabia ao governo brasileiro analisar a viabilidade política das novas fórmulas de cálculo para chegar a um meio termo. Mas Michel Temer é um governante que só sabe fazer política de chão de Congresso, a política comezinha com p minúsculo, não a com p maiúsculo. O político de chão de Congresso não anteviu possíveis problemas caso o preço do petróleo disparasse por razões da geopolítica internacional, não previu que o Brasil pudesse ser atingido por onda de aversão aos países emergentes que trouxesse brusca desvalorização da moeda. A falta de visão levou à situação dramática que ora assistimos: a greve, a entrega, a volta do populismo econômico que Temer prometera extirpar, a perda de um grande gestor e executivo à frente da mais importante empresa brasileira.

Perder-se-á muito tempo ainda desbancando os argumentos simplórios e as falsas soluções para o drama da Petrobras. Mas, em meio à inevitável cacofonia, apenas um monstrengo sobressai: o populismo econômico. Ele é não só uma praga, como também a única ferramenta que nossas lideranças sabem utilizar para resolver problemas complexos, tanto à direita, quanto à esquerda. Que ao menos isso fique de lição para as próximas eleições.

* Doutora em Economia e professora da Johns Hopkins University, em Washington

https://epoca.globo.com/Analise/noticia/2018/06/o-custo-do-populismo-economico.html