Demissão de Parente tende a antecipar em 6 meses sua nomeação para o comando da BRF
Conselho não havia iniciado seleção de CEO pois queria nomeá-lo no fim do ano
Rennan Setti01/06/18 – 16h34
Pedro Parente – Sergio Moraes/Reuters/08-05-2018
RIO – A saída de Pedro Parente da Petrobras deve antecipar em seis meses os planos da BRF de colocá-lo na direção executiva da maior exportadora de frango do mundo. Segundo fontes próximas à empresa de alimentos, o conselho da BRF – hoje presidido por Parente – já contava em indicá-lo para o comando da companhia quando houvesse a mudança de governo, no fim do ano. Por isso, os conselheiros não haviam iniciado o processo de seleção de um novo diretor-executivo para ocupar uma cadeira que está vaga desde abril, quando José Aurélio Drummond Jr. renunciou, no auge da guerra entre fundos de pensão e Abílio Diniz. Com Parente "desempregado", conselheiros e acionistas veem como natural sua posse na BRF.
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Com os rumores de que Parente iria para a BRF, as ações da empresa sobem mais de 7% na B3 (antiga Bovespa), enquanto os papéis da Petrobras recuam mais de 10%.
– É uma coisa que já estava prevista para quando houvesse mudança de governo. Por isso que nenhum processo de escolha de um novo CEO foi iniciado. Acredito que é isso que acontecerá agora – disse uma fonte próxima à BRF. – É um nome muito bom. Primeiro, porque representaria uma definição para a empresa. E, depois, porque trata-se de uma pessoa experiente, disciplinada e com muito trânsito na política. A BRF precisa de alguém que entenda como o governo funciona.
‘TAPETE VERMELHO’
Para ser indicado à direção-executiva da BRF, Parente precisaria ser eleito em reunião do conselho de administração. Segundo um membro do conselho, avalia-se a convocação de uma reunião para a próxima semana para discutir o assunto.
– Ele será recebido com tapete vermelho. O nome agrada muito – disse este conselheiro, que não quis ser identificado.
Caso a indicação de Parente concretize-se, a expectativa é que ele renuncie à presidência do conselho. Neste caso, assumiria o posto Augusto Cruz, que hoje é vice-presidente do colegiado. Cruz é ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar – de onde saiu como desafeto de Abílio – e ex-presidente do conselho BR Distribuidora.
– O perfil dele é mais de varejo do que de indústria, o que desagradaria a muitos investidores. Mas, com Parente no comando da empresa, entende-se que caberia a ele zelar pela boa governança da empresa, não ditar os rumos operacionais – disse um acionista. – Essa configuração de nomes mostra a ascendência da Petros (fundo de pensão da Petrobras) nesse processo. São dois nomes escolhidos por eles.
Parente chegou à BRF em abril quase como um "salvador da pátria", um nome de consenso surgido no auge das tensões entre fundos de pensão e Abílio Diniz pelo controle do conselho da empresa. A sugestão veio do próprio Abílio, que lutava para manter sua influência na companhia após a rebelião de Petros, Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) e de outros acionistas menores contra a gestão Abílio/Tarpon, que levou a prejuízo bilionário na empresa. Depois que seu nome foi aceito, os fundos de pensão disseram considerar a BRF "pacificada".
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