Eleição na Previ vai definir investimento

As eleições na Previ – o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil – têm um componente estratégico para a política de investimentos da fundação nos próximos anos. Entre os 14 cargos a serem preenchidos na eleição, está o de diretor de planejamento da entidade. O escolhido para a diretoria irá propor a política de investimentos, que inclui tanto a venda de participações em renda variável como a entrada em novos ativos. Essa política é importante para garantir a liquidez necessária ao pagamento de benefícios da Previ, que somam R$ 1 bilhão por mês. A votação começou na semana passada e vai até o dia 30 deste mês.

O principal desafio do novo diretor de planejamento será estruturar a redução da alta participação em renda variável, alocada em 12 principais ativos. A maioria está concentrada no Plano 1, de benefício definido. Ali, dos R$ 80,8 bilhões em renda variável, 91%, ou R$ 73,7 bilhões, estão nessas empresas. A principal fatia é da Vale, de mais de R$ 30 bilhões. Outras relevantes são Banco do Brasil (R$ 9,3 bilhões), Neonenergia (R$ 8 bilhões) e Petrobras (R$ 6,7 bilhões).

A política de investimentos da Previ tem um horizonte de sete anos e é revista anualmente. Assim, de 2018 a 2024, a previsão é que a fatia de renda variável do Plano 1 baixe de 43% para 30%. A proposta atual é diversificar o número de empresas investidas e sair de blocos de controle.

Na Previ, a diretoria de planejamento é estratégica, considerando-se a maturidade do Plano 1, que exige maior esforço para pagar os benefícios. O plano possui um conjunto de ativos relevantes em renda variável que precisarão ser vendidos para fazer frente às necessidades. Simultaneamente, o fundo precisa garantir boa rentabilidade para o Previ Futuro, plano mais jovem da fundação.

"Quem ocupar a diretoria de planejamento tem um papel fundamental para o equilíbrio do plano ao longo do tempo. Exige-se conhecimento de investimento e de risco", disse uma fonte. A Previ tem governança colegiada em que o diretor de planejamento propõe a política de investimentos, que precisa ser aprovada pela diretoria antes de ser submetida ao conselho deliberativo. "A diretoria de planejamento é importante porque aponta o caminho a ser seguido em termos de investimentos", disse outra fonte.

"A estrutura é segregada. A diretoria de planejamento projeta a política de investimentos e o diretor de investimentos a executa. O diretor de planejamento tem uma blindagem muito grande, é um ‘chinese wall’", disse o presidente da Previ, Gueitiro Genso.

Ao todo, nas eleições deste ano, serão eleitos 14 representantes, incluindo vagas na diretoria-executiva, conselhos deliberativo e fiscal e conselho consultivo do Plano 1 e do Previ Futuro. Na diretoria, além do diretor de planejamento, será escolhido o diretor de administração. No total, a diretoria é formada por seis integrantes. Este ano também se encerra o mandato de Gueitiro, que assumiu a Previ em maio de 2015, após aposentadoria de Dan Conrado. A expectativa é que Gueitiro seja reconduzido ao cargo, segundo fontes.

Todos os 200 mil associados podem votar, mas historicamente pouco mais da metade costuma participar. Existem dois grupos que podem ser considerados "de situação": a chapa 2, ligada ao movimento sindical e que conta com participação do atual diretor de seguridade, Marcel Barros; e a chapa 4, onde está a atual diretora de administração, Cecília Garcez. Já os aposentados estão representados pelas chapas 1 e 5, enquanto a 3 foi formada por executivos de cargos intermediários no BB.

O Valor acompanhou um debate recente entre os candidatos, na sede da Previ, no Rio. "Precisamos pulverizar a carteira, reduzir as participações em algumas empresas, reinvestir em outras e trabalhar uma pulverização", disse o candidato da chapa 1, Arnaldo Vollet. A estratégia também foi defendida pela representante da chapa 2, Paula Regina Goto, que lembrou que em sete anos todos os participantes do Plano 1 terão condições de se aposentar. O fundo tem 11 mil associados na ativa e 102 mil aposentados e pensionistas. "Precisamos dar liquidez, sair dos blocos de controle e diversificar a aplicação em ações", afirmou.

"Um fundo de pensão como a Previ tem o compromisso de fazer o pagamento dos benefícios com base no tripé risco-retorno-liquidez", disse o candidato da chapa 5, Marcos de Abreu. Segundo ele, e é necessário implantar "de vez" um mecanismo que blinde a entidade de investimentos mais arriscados.

O aumento da exposição dos investimentos no exterior também foi discutido no debate. Hoje, a Previ tem alocados cerca de R$ 140 milhões no segmento. "Temos poucas empresas de tecnologia da informação listadas no Brasil e mais de 700 na bolsa de Nova York. Com certeza o mercado externo gera oportunidades", defendeu o candidato da chapa 4, Emmanoel Rondon.

Ricardo Cunha, da chapa 3, que não participou do debate, disse que o desinvestimento no Plano 1 terá de ser feito seguindo um planejamento. A ideia seria dar liquidez primeiro aos ativos que não dão resultado.

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