Fundos de pensão ampliam gradualmente alocação fora da renda fixa e selecionam gestores para terceirizar investimentos
Mesmo que timidamente, os fundos de pensão estão aumentando seus investimentos em renda variável, multimercados e exterior diante da avaliação de que títulos públicos já não são mais suficientes para bater as metas atuariais. Nas políticas de investimentos de 2018, algumas fundações ampliaram o limite de alocação nesses segmentos, tirando um pouco o foco da renda fixa. As entidades também estão buscando terceirizar mais a gestão de seus ativos e preparam processos de seleção de gestores ao longo deste ano.
A Petros é uma das fundações que está adotando essas medidas. A estratégia do fundo de pensão para este ano será ter uma gestão mais ativa em renda fixa, unificando o trabalho da equipe interna com o de gestores externos, além de diversificar mais em outros segmentos. De acordo com o diretor de investimentos da Petros, Daniel Lima, a ideia inicial é selecionar novos gestores e direcionar a equipe da fundação para monitorar as assets terceirizadas, que servirão como balizadores do desempenho da carteira da entidade.
Segundo Lima, será conduzido, no primeiro semestre do ano, um processo de seleção de gestores de renda fixa para um mandato de multimercado. “Concluímos também recentemente um processo de seleção para gestores de fundos de ações, que devem estar operantes nos próximos dois meses. Estamos redesenhando renda variável e todo esse processo de seleção é novo, além de ter uma mudança de benchmark, que passa a ser o Ibovespa”, reitera. O diretor diz que foram selecionados entre oito e dez gestores de renda variável e para renda fixa, serão escolhidos entre seis e oito assets.
A Valia também prepara processo de seleção de gestores de renda variável para este ano. A fundação ampliou um pouco o percentual de investimentos no segmento e aposta em fundos de valor, aumentando a quantidade de gestores ativos, conforme explica o diretor de investimentos, Maurício Wanderley. “Tínhamos um percentual em gestão passiva e aumentamos agora a gestão ativa terceirizada no portfólio. Estamos no processo de contratação de novos gestores, e os investimentos ocorrerão este ano. Teremos mais cinco assets terceirizadas, além das sete com as quais já trabalhamos atualmente”, diz.
Limites – Em relação ao percentual de alocação nos segmentos, a Petros fez poucas alterações, mas destaca que trocará posições menos líquidas da carteira de renda variável por posições com mais liquidez por meio da venda de ativos. “Estando no preço certo e já tendo cumprido as expectativas dentro da carteira, ativos serão vendidos para apostarmos em outros com melhores perspectivas. Estamos atentos às oportunidades de venda e compra, mas temos que ter um cuidado em como essas transações são conduzidas”, diz Daniel Lima.
A fundação também monitora oportunidades em fundos estruturados e acredita que a indústria de fundos de investimento em participações (FIPs) deve passar por uma revitalização. “Quando isso ocorrer, poderemos voltar a investir nesses fundos com um processo de seleção de gestores mais robusto”, explica Lima. Para o plano de benefício definido (BD) da fundação, o PPSP, o investimento em FIPs está vedado, mas para o plano PP-2, de contribuição variável (CV), a entidade planeja, futuramente, abrir um processo de seleção que vai indicar gestores de FIPs, os quais passarão pela aprovação do conselho deliberativo.
Ancorada nas taxas de juros mais baixas, a Petros busca ainda a diversificação através de investimentos no exterior. Segundo Daniel Lima, ativos internacionais permitirão usar melhor os limites de risco. Outra estratégia da Petros este ano será a de investimento em crédito, a ser trabalhada também no segundo semestre. “Estamos investindo na capacitação de equipes para olhar crédito. Mas primeiro vamos fazer a seleção dos gestores de multimercado, o que deve tomar boa parte do primeiro semestre. Esses segmentos, aliados à seleção de gestores de renda variável, abrem um grande leque de diversificação”, ressalta.
A Valia por sua vez, aumentou o percentual limite para investimentos em renda variável no plano de contribuição variável, enquanto no plano BD, o movimento foi de reduzir risco. O plano CV permite investimentos no exterior. “Com essas alocações conseguimos performar bem mesmo diante das quedas de taxa de juros”, diz Wanderley. Ele destaca que na renda fixa, para os planos que possuem perfil de investimento, a estratégia é investir um pouco mais em crédito. Já a carteira de private equity da fundação está encerrada.
A Forluz também ampliou o limite máximo de investimentos de renda variável em seu plano BD, que é saldado, saindo de 10% para 15%. Já o alvo subiu de 7,5% para 11,8%. No plano CV, que atua com perfis de investimento, o limite para renda variável permanece o mesmo. Uma novidade é que o plano não possuía alocação internacional, segmento que entrou na carteira da Forluz no final do ano passado. “Chegamos a ter aplicação no exterior em 2014, 2015 e parte de 2016. Zeramos a posição e ficamos sem nada fora do país até o final de outubro de 2017, quando retomamos com uma porção pequena, conseguindo aumentar um pouco em novembro”, explica o gerente de renda variável e macroalocação da entidade, André Buscácio de Sousa.
Ele explica que a Forluz conseguiu visualizar mais opções de investimento, principalmente em renda fixa e multimercados no exterior, além de poder realizar aplicações com proteção cambial, o que a entidade julga atrativo em um cenário de baixa da Selic. A fundação possui quatro fundos alocados no exterior geridos pela PIMCO, Western Asset, JP Morgan e Claritas. A entidade também tem acompanhado algumas estratégias de multimercados no Brasil, realizando a primeira alocação em um fundo no final de dezembro e começando já a buscar outras. “Tanto exterior quanto multimercado doméstico complementam nossa carteira no sentido de diversificação geográfica e redução do risco. Trazemos outros fatores de risco, mas não estamos expostos somente às questões estruturais do país, principalmente considerando que estamos em ano eleitoral”, destaca Sousa.
Cautela – Já a Fundação Real Grandeza adota uma posição mais conservadora em relação às suas políticas de investimento. A estratégia da entidade é manter títulos públicos como o principal ativo elegível da carteira. “Nossa equipe não encontra fundamento na economia brasileira para justificar essa alta da bolsa e manutenção dos juros no patamar que está. Não há uma melhoria significativa na condição fiscal do país ou na estrutura da economia que possam garantir e alavancar um ciclo de crescimento”, diz o diretor de investimentos, Eduardo Garcia. “Em termos de preço, vemos uma desconexão em relação aos fundamentos econômicos. Fizemos uma política mais conservadora partindo da premissa que o sinal que está sendo dado pelo mercado não será duradouro”, complementa o diretor.
Ainda assim, o fundo de pensão prepara uma seleção de gestores para a carteira de renda variável e para um fundo multimercado ao longo de 2018. A entidade finalizou também um manual para investimentos no exterior. A Fundação Real Grandeza não possui nenhuma alocação fora do país e há algum tempo estuda iniciar esse processo, mas ainda com muita cautela, analisando as oportunidades de mercado. “Já podemos selecionar os gestores para investimento no exterior, com um limite de até 2% do nosso patrimônio aplicado nesse segmento, mas não temos pressa nesse movimento”, destaca Garcia.