Futuro da Sete Brasil segue incerto

A novela da Sete Brasil irá se estender por mais alguns meses, mesmo com a Petrobras tendo aprovado na quarta-feira (28/2) os termos básicos de um possível acordo para a contratação de quatro das 28 sondas inicialmente previstas. Diante do novo cenário, o board da empresa de sondas irá solicitar o adiamento por 60 dias da Assembleia Geral de Credores (AGC), que está agendada para segunda-feira (5/3).

A proposta de adiamento para maio será apresentada no dia da AGC aos credores. A Sete Brasil defenderá a importância de os credores analisarem com mais profundidade dos termos do acordo antes de tomarem uma decisão final.

Se aprovado pelos credores, esse será o nono adiamento da AGC. Os termos do acordo terão que ser submetidos posteriormente também à apreciação dos acionistas do grupo.

Além da contratação de apenas quatro sondas, Petrobras e Sete Brasil acertaram prazo contratual de afretamento de dez anos com taxas diárias de US$ 299 mil, ante o valor contratual original de até US$ 550 mil/dia.

A celebração do acordo depende também da apresentação, pela Sete Brasil, de um operador de sondas de classe internacional e com experiência em águas profundas. Foi pré-acertado também o encerramento dos contratos das 24 sondas e a saída da Petrobras e de suas controladas do quadro societário das empresas do Grupo Sete Brasil e do FIP Sondas.

Fontes envolvidas na negociação e consultadas pela Brasil Energia Petróleo consideram que o acordo representa um passo importante no processo, mas admitem que ainda há um longo caminho de negociações em diversas frentes.

“É um passo importante, mas não suficiente sequer na relação com a Petrobras. É um acordo entre cliente e fornecedor, mas só isso não coloca o projeto de pé”, afirmou uma das fontes.

Estabelecido os termos principais do acordo, o board da Sete Brasil terá pela frente uma lista de novos desafios. De imediato, será preciso garantir o adiamento da AGC para em seguida convencer credores e acionistas a aprovarem o plano de recuperação.

Obtendo êxito nessas duas primeiras etapas, a diretoria da Sete Brasil iniciará a negociação com os estaleiros. Até o momento, não há definição concreta dos estaleiros que permanecerão no projeto, caso as negociações prossigam.

A tendência é que as quatro unidades selecionadas sejam as do Fels e do Jurong, estaleiros que possuem os projetos mais avançados, com realização entre 80% e 90%. O mercado aposta na continuidade das obras das semissubmersíveis Urca e Frade e dos navios sonda Arpoador e Guarapari, mas tudo irá depender do desfecho das negociações e de quanto cada grupo estará disposto a arcar.

A última proposta da Sete Brasil previa que os estaleiros arcassem com o custo final da obra. Uma fonte ligada à indústria naval estima a conclusão das unidades deverá exigir um desembolso de cerca de US$ 350 milhões.

“Não existe nada fechado até o momento. Tudo é possível, tudo está aberto, todas as as possibilidades estão abertas”, informa uma outra fonte ligada ao processo de recuperação extrajudicial.

No contrato original, as 28 sondas seriam construídas pelo EAS (seis), Fels (seis), Enseada (seis), Jurong (sete) e Ecovix (três).

Também há incertezas quanto ao novo cronograma de entrada em operação das quatro unidades. Embora o plano seja retomar as obras no segundo semestre, as datas de conclusão e entrega das unidades dependerão da capacidade de aporte financeiros dos estaleiros selecionados.

Somente depois de acertar as condições com estaleiros e definir as quatro sondas é que a Sete Brasil terá condições de iniciar as primeiras conversas com as empresas operadoras. No projeto original, as unidades seriam operadas pela Seadrill, Ocyan (ex-Odebrecht), Queiroz Galvão, Odfjell, OAS, Etesco e Petroserv, sendo que as duas últimas empresas oficializaram a intenção de não prosseguir com o projeto em 2014.

Seja um operador já envolvido no projeto ou um novo entrante, nenhuma empresa aceitará negociar os termos do contrato de operação sem ter certeza prévia da unidade em questão e suas reais condições técnicas. Entre as companhias de perfuração prevalece a avaliação de que uma negociação desse tipo exige uma análise detalhada e tempo.

“Vamos ter que examinar com muita calma para saber até que ponto o negócio é interessante ou não”, pondera um executivo de uma empresa de perfuração.

Os termos básicos de um possível acordo com a Sete Brasil foram aprovados pela diretoria da Petrobras no processo de mediação extrajudicial, conduzido pelo procurador do estado do Rio de Janeiro, Gustavo Binenbojm, e posteriormente referendado pelo Conselho de Administração. A medição extrajudicial foi iniciada em setembro de 2017.

O imbróglio financeiro da Sete Brasil se arrasta há mais de três anos, sendo que o pedido de recuperação extrajudicial foi solicitado há cerca de dois anos. As dívidas da companhia somam quase R$ 20 bilhões. O grupo tem 12 acionistas – BTG Pactual, Luce, EIG Global Energy Partners, Lakeshore, Previ, Petros, Funcef, Valia e FIFGTS, Santander, Bradesco e Petrobras – e a lista de credores envolve diretamente 22 empresas, o que incluiu os acionistas, cinco bancos credores e cinco estaleiros.

A Sete Brasil foi criada em 2010, durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, sob a tônica do incentivo à retomada dos estaleiros brasileiros. Os primeiros sinais de problemas financeiros da companhia tiveram início pouco tempo antes do escândalo da Lava Jato, que acabou por comprovar o envolvimento de ex-executivos do grupo em esquema de corrupção.

O processo de recuperação judicial da Sete Brasil é um dos maiores do país, perdendo apenas para poucos grupos, como o da Oi.

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