Madureira e Moreira, da Previ: mudança do mix da carteira de renda variável visa desconcentração e redução do risco
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!O processo de queda de juros, que levou a taxa básica Selic a seu piso histórico, de 7% ao ano, vai fazer com que a Previ reveja a velocidade com que conduzirá seu plano de migrar investimentos em renda variável para ativos de renda fixa. É o que prevê a política de investimentos do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil já para 2018.
“Existe uma perspectiva na economia brasileira de taxas de juros baixas, que reduzem a atratividade dos títulos públicos federais. Então, para garantir a meta atuarial, talvez tenhamos que ter um pouco mais de renda variável no longo prazo, diferentemente daquilo que estava imaginando nos anos anteriores. A renda fixa sozinha não será suficiente para cobrir o passivo”, disse ao Valor o diretor de planejamento da fundação, Marcus Madureira.
A política de investimentos da Previ tem um horizonte de sete anos e é revista anualmente. Assim, até 2024, a previsão é que a fatia de renda variável do Plano 1, de benefício definido, baixe de 43% para 30% – três pontos acima do percentual determinado na política anterior, que ia de 2017 a 2023. Para o ano que vem, esse intervalo deve ficar entre 43,9% e 51,9%.
Dos R$ 171 bilhões geridos pela Previ, R$ 160 bilhões estão alocados no Plano 1. E deste total, quase R$ 75 bilhões estão alocados em renda variável. Os 12 principais ativos desta carteira, entre eles Vale, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Neoenergia, Petrobras e BRF, respondem por 94% do total.
A Previ vem adotando o que chama de “desinvestimento líquido”, explica o diretor de investimentos Marcus Moreira. “É justamente no sentido de diminuir a composição, mas principalmente diminuir também o risco da carteira. Passamos, também, a ser compradores de renda variável, de ativos que não tínhamos. Podemos diminuir a exposição apenas vendendo ou vendendo mais e comprando um pouco”, explicou.
A mudança do mix da carteira de renda variável da Previ visa a desconcentração e redução do risco. “Queremos estar presentes em mais empresas, diminuindo um pouco a nossa importância no processo de governança, de participação via conselho porque entendemos que o plano atingiu a maturidade e que essa estratégia já cumpriu o seu dever”, disse Moreira.
Serão priorizadas empresas com potencial de valorização, boas pagadoras de dividendos e níveis elevados de governança, como o Novo Mercado. “Não temos ideia de comprar e vender no mercado de maneira muito constante. A ideia é vender onde tem uma concentração maior e comprar onde não estamos presentes e levar esta carteira ao longo do tempo”, disse.
Neste ano, a Previ aperfeiçoou uma metodologia de avaliação setorial para ações ou dívida. “Conseguimos fazer esse mapeamento por setor econômico. Trimestralmente, ela será atualizada para ajudar na alocação estratégica”, afirmou o diretor de planejamento. Também será a primeira vez que a política de integridade será aplicada à de investimentos.
Por ora, não há planos para desinvestimentos relevantes previstos, como foi o caso de CPFL em 2016, por exemplo. Recentemente, a Previ anunciou a venda do complexo hoteleiro Costa de Sauípe por R$ 140,5 milhões e da fatia na Celesc, por R$ 230 milhões – ambos valores pequenos frente a outras participações e ao tamanho da fundação. O diretor de investimentos admitiu que a Previ não está satisfeita com o desempenho de BRF, empresa em que detém fatia de 10,67%. Mas uma potencial venda não ocorreria no curto prazo. “Entendemos que hoje o preço não justifica o desinvestimento”, afirmou Moreira.
A participação da entidade em ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) vai depender da empresa, setor, tamanho da operação ou característica da oferta. “Serão participações muito menos relevantes do que as que estávamos acostumados. Dificilmente teremos uma participação superior a 5% da companhia”, afirmou o diretor de investimentos. Na recente oferta da BR Distribuidora, a Previ ficou com uma fatia de 2% a 3%, segundo disse ao Valor o presidente do fundo de pensão, Gueitiro Genso.
A diversificação é palavra-chave também para renda fixa. Assim, mantém-se o apetite para o crédito privado, mas a retomada das operações se deu mais no final de 2017, com taxas ainda baixas na visão da fundação. “O que estamos vendo nos últimos meses é que começa a se intensificar a oferta de crédito privado, e a Previ tem, sim, um apetite grande”, disse Moreira.
Já os investimentos no exterior, acrescentaram os diretores, podem ser uma alternativa para desconcentrar o risco e aumentar a rentabilidade, mas ainda é um volume tímido em relação aos demais ativos. A política de investimentos vê uma alocação máxima de 0,5%. “Pode ter um potencial grande no futuro”, afirmou Moreira. E os investimentos estruturados continuam vedados a novas aplicações em 2018.
Atualmente a meta atuarial da Previ é INPC mais 5%. “A taxa atuarial é fruto de uma banda das estruturas a termo das taxas de juros dos últimos três anos, conforme esta banda baixar ao longo do tempo, a própria regulação vai obrigar os fundos de pensão a baixarem suas taxas atuariais”, disse Madureira. Qualquer alteração tem efeito nas reservas matemáticas dos fundos de pensão e isso implicaria em aumento do passivo.
“Baixar a meta significa precisar de mais recursos. Se você estiver em um plano equilibrado, pode eventualmente gerar um déficit. Se tiver um déficit, pode aumentar o déficit”, explicou Moreira.
Em 2015, a Previ teve um resultado negativo de R$ 16 bilhões, seguido de um superávit de R$ 2,2 bilhões em 2016. Em 2017 até novembro, o resultado positivo é de R$ 5,7 bilhões e a fundação deve voltar ao equilíbrio em algum momento do próximo ano. “Quando atingirmos este equilíbrio, [a ideia é] utilizar eventual excesso de resultado no sentido de baixar a taxa atuarial dentro dessa nova realidade se a estabilidade da taxa de juros de fato acontecer como esperado.”
No Previ Futuro, plano de contribuição definida e que ainda está em acumulação, a estratégia é maximizar os retornos aos participantes. Para o plano, que tem investimentos de quase R$ 11 bilhões, a perspectiva da política de investimentos é que a alocação em renda variável seja de até 60%. Para a renda fixa, o intervalo previsto é de 21% a 95%.
Descubra mais sobre Intelligentsia Discrepantes
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.