Por Juliana Schincariol | Do Rio
Segundo maior fundo de pensão do país, a Petros, dos funcionários da Petrobras, quer ter uma carteira de ativos de renda variável mais pulverizada. A ideia é se desfazer de posições de controle e de participações relevantes em empresas, afirma o presidente do fundo de pensão, Walter Mendes. Assim como fez a Previ, fundação do Banco do Brasil, a fundação deve intensificar a gestão ativa dos investimentos e ganhar mais liquidez para fazer frente ao pagamento de benefícios que em 2017 deve somar R$ 5,4 bilhões.
Um dos planos da Petros, exatamente o que tem mais participação em empresas, passa por um equacionamento para cobrir um déficit de R$ 27,7 bilhões, sendo que os participantes da ativa e aposentados terão de fazer contribuições adicionais, nos próximos 18 anos, para cobrir R$ 14 bilhões.
A Petros já vendeu em bolsa os 10,2% que possuía da empresa de shoppings Iguatemi e levantou R$ 567,7 milhões. E é da mesma forma que pretende fazer com outras participações. Só que o valor recebido meses atrás é pequeno comparado às posições mais relevantes, caso de BRF (que detém 11,41%) e Itaúsa, em que é dona de 15,27% dos papéis preferenciais. Juntas, elas são avaliadas em mais de R$ 9 bilhões.
No total, a carteira de participações da Petros chega a R$ 15 bilhões. E a maioria expressiva, quase R$ 14 bilhões, está alocada no PPSP, plano de benefício definido que concentra a maior parte dos investimentos problemáticos. É neste plano, com 65.183 assistidos e 4.684 ativos, que o fundo de pensão precisa de mais liquidez.
“No PPSP essa posição de participações é tão grande que torna a gestão inflexível. Sair de uma participação desse tamanho requer um cuidado enorme”, afirmou Mendes. Não há um calendário estabelecido para as vendas. Tudo vai ocorrer “quando e se houver” oportunidade, acrescentou, referindo-se ao preço das ações. O conselho deliberativo precisa aprovar essas operações, que não ocorrerão de uma só vez. Mendes lembra que 2018 será um ano de muita volatilidade, com eleições e reforma da Previdência, o que requer ainda mais cuidado da fundação.
A fatia da Petros na Vale, avaliada em R$ 2,6 bilhões, ainda se dá por meio do veículo de investimentos Litel. Com as mudanças na governança da empresa, que prevê listagem no Novo Mercado da B3 e controle pulverizado, Mendes não descarta a venda desde que seja dentro de condições consideradas adequadas. “À medida em que estas ações fiquem livres, vamos tomar a decisão de vender ou não, ou colocá-las em carteira, mas já não mais como membro de uma holding que está no controle”, disse.
Há ainda participações em empresas de capital aberto, mas que não são listadas em bolsa, como a Invepar – que recebeu proposta do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi- e a Norte Energia.
A busca por ativos mais líquidos está prevista na política de investimentos da Petros para 2018, que deverá ser aprovada pelo conselho deliberativo ao longo de dezembro. “A ideia não é reduzir a participação em renda variável, mas torná-la mais flexível. Se vendermos uma participação ela pode ser reinvestida em renda variável de mercado, seja com a gestão terceirizada seja na carteira interna”, afirmou. Ainda que a política não tenha sido divulgada, a fundação já anunciou pretende que o PPSP tenha 20% do patrimônio investido em renda variável; hoje, está em 30%.
Para fazer a gestão externa de ações, a Petros selecionou doze gestores a partir de critérios da equipe de investimentos. Hoje, eles são responsáveis por gerir R$ 2,5 bilhões – 60% do total desta carteira – e a tendência é que aumente. “Há uma diversidade e especialização grande de gestores no mercado […]. Temos porte suficiente para darmos um mandato expressivo cobrando taxas de administração baixas”, disse. A equipe interna cuida de R$ 1,5 bilhão desses ativos, que têm maior liquidez.
Outro ponto que Mendes quer tentar intensificar em 2018 é a gestão ativa de renda fixa, algo que começou em 2017 com uma fatia pequena. “É difícil, não é simples, mas hoje temos uma equipe mais capacitada”.
Os planos do executivo de marcar os títulos públicos “na curva” revelados ao Valor ainda não foram concretizados, mas a proposta se mantém. Hoje, estes ativos são marcados a mercado, ou seja, podem ser vendidos a qualquer momento, mas sofrem com a volatilidade diária. Ao marcá-los “na curva”, os títulos são contabilizados pelo valor de compra, acrescidos da taxa desde a emissão até o vencimento. Para isso, precisam ser carregados até o vencimento.
Os Fundos de Investimento em Participação (FIP), em que os investimentos somam R$ 2,5 bilhões (valor que também considera os fundos de investimentos em cotas e os imobiliários) apenas no PPSP, ainda são uma dor de cabeça para Mendes. “Estamos tentando sair dos FIPs. Esse é o nosso grande objetivo, mas não é simples sair” disse. Para isso, uma das alternativas é vender a fatia no mercado secundário ou encerrar esses fundos. “É muito, muito difícil. Temos coisas em andamento que estamos tentando finalizar. Os FIPs em sua maioria são muito problemáticos. O único FIP que deu alegria foi o FIP Barcelona”, disse, referindo-se ao ativo que teve valorização com o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) do IRB, mas estava totalmente alocado no plano PP-2.
Para esse plano, de contribuição definida e que não tem os mesmo problemas de liquidez ou déficit, a proposta da política de investimentos é aumentar a fatia em renda variável, investimentos estruturados e crédito privado. O plano também deve ter uma gestão mais ativa tanto em renda fixa quanto em bolsa.
No ano até setembro, o PPSP acumula alta de 8,51%, acima da meta de 6,22%. No PP-2, o ganho foi de 8,18% -o objetivo é de 6,10%. Mas Mendes se mostra cauteloso tanto quanto ao fechamento do ano quanto para o próximo, mesmo com a alta da bolsa no acumulado de 2017. “Vai depender deste final de ano que é muito volátil. Pode haver ajustes de ativos e eu não posso dizer [que não haverá déficit]”, disse. No ano que vem, a meta atuarial da Petros deve cair para IPCA mais 5,7% – hoje é IPCA mais 5,85%. Do lado da gestão, ainda que o objetivo seja menor, o executivo lembra que a bolsa já subiu por dois anos seguidos. “As taxas do mercado também estão mais baixas”, lembrou.