Advogado acusado de monitorar delação de Funaro intermediou para Wagner Pinheiro não depor

Advogado acusado de monitorar delação de Funaro teve encontro com ministro Eliseu Padilha na Casa Civil

Apontado como operador de propinas do PMDB, Lúcio Funaro fez o relato em delação premiada. Casa Civil informou que reunião com ministro foi para que advogado apresentasse novo escritório.

Um advogado acusado pelo operador Lúcio Funaro de ter monitorado se ele faria delação premiada se encontrou com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (PMDB-RS), no Palácio do Planalto.

O encontro aconteceu em 20 de junho, época em que já se noticiava o interesse de Funaro em delatar. Na agenda oficial de Padilha daquela data, o ministro recebeu o advogado Marcos Joaquim Gonçalves às 11h30.

A Casa Civil informou que o encontro foi para que o advogado apresentasse seu novo escritório ao ministro. O advogado disse o mesmo: “A reunião na Casa Civil foi de apresentação do novo escritório. Não se tratou de Lúcio Funaro ou de qualquer delação a qualquer momento”, afirmou.

Funaro é apontado como operador de propinas do PMDB. O acordo de delação dele foi fechado com a Procuradoria Geral da República em 22 de agosto e homologada pelo Supremo Tribunal Federal em 5 de setembro. Na delação, ele faz referências, entre outros, a Padilha, ao presidente Michel Temer e ao ex-deputado e ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Marcos Joaquim Gonçalves é um dos advogados de Eduardo Cunha. “Advogo para ele nos processos fiscais e regulatórios, bem como atuo ao lado de outros advogados na sua defesa”, afirmou.

Na delação premiada, Funaro diz que Eliseu Padilha era uma das pessoas que, por meio de advogados, monitorava se o delator colaboraria com as investigações. Uma dessas pessoas, segundo o operador, era Gonçalves.

Lúcio Funaro disse também que o advogado fazia esse monitoramento de maneira “suave”, porque era próximo dele e da família e que utilizava a mesma prática do ex-ministro Geddel Vieira Lima para monitorá-lo – por meio de ligações para a mulher do operador.

Segundo o delator, além de Gonçalves, Padilha procurou Daniel Gerber, então advogado de Funaro, para saber se, de fato, haveria delação.

Daniel Gerber teria inclusive, de acordo com Funaro, visitado o operador na prisão após os questionamentos do ministro. Atualmente, Gerber é advogado de Eliseu Padilha. Por telefone, o advogado afirmou que não comenta declarações de delator.

CPI dos fundos de pensão

Na delação, o operador doleiro disse, também, que Marcos Joaquim Gonçalves foi apontado por Eduardo Cunha como caminho para impedir que Wagner Pinheiro, ex-presidente do fundo de pensão Petros, e Antônio Conquista, ex-presidente do fundo Postalis, fossem convocados pela CPI dos fundos de pensão, em 2015.

Funaro diz que houve uma reunião na casa do advogado com o deputado Sergio Souza, do PMDB, e um assessor do parlamentar, e que ficou combinado o pagamento de R$ 9 milhões para que os depoimentos não acontecessem.

Na delação, Funaro diz que o dinheiro foi pago pelo empresário Arthur Pinheiro Machado, dono de uma corretora, e parte dos valores foi paga em dinheiro vivo ao deputado.

Sergio Souza era relator da CPI dos fundos de pensão. Apesar de três requerimentos para convocação de Wagner Pinheiro terem sido aprovados, ele nunca chegou a depor na comissão.

Antônio Conquista e Wagner Pinheiro ficaram fora da lista de indiciados no relatório final de Sergio Souza, apesar da pressão de vários parlamentares da CPI.

Leia abaixo o que cada um dos citados disse sobre as declarações de Funaro na delação em relação à CPI:

>> Marcos Joaquim Gonçalves Sobre CPI dos Fundos de Pensão: sempre advoguei em CPIs para pessoas jurídicas com outorga de mandato, inclusive na CPI dos Fundos de Pensão. Não advoguei para pessoa física.

>> Wagner Pinheiro e Antonio Conquista – A produção da TV Globo não conseguiu contato com os ex-presidentes dos fundos Petros e Postalis.

>> Sérgio Souza Nos últimos dias, alguns órgãos de imprensa têm veiculado matérias sobre o que seria o conteúdo da colaboração premiada do delator Lúcio Funaro:

– O Globo: “Funaro afirma ter operado esquema de propina nos fundos de pensão da Cedae, dos Correios e da Petrobras: Doleiro relatou divisão de propina entre Cunha e Garotinho na Prece e suborno em CPI” de 13/09/20171

– Veja: “Delação de Funaro revela negociação de propina a deputados de CPI: Como enterrar uma CPI” de 26/08/20172

Tais ilações são falsas e caluniosas!

Consta expressamente no relatório o envolvimento da pessoa de Wagner Pinheiro no processo decisório que aprovou o investimento no Caso Gradiente, cujo prejuízo apontado pelo relatório foi de R$ 34 milhões de reais (fl. 459/460), e também na aquisição de ações no Caso Itausa em que o dano financeiro à Petros somou R$ 422.498.564,00 (fl. 574/575)!

É de se dizer que há muito tempo não se tinha uma CPI com resultados tão contundentes como o foi a CPI dos Fundos de Pensão que investigou 15 casos que importaram, em seu conjunto, no prejuízo financeiro de R$ 6.622.467.000,00 aos Fundos.

Tal resultado só foi possível pela formação de um grupo de trabalho supra institucional que contou servidores da Polícia Federal, Banco Central, Tribunal de Contas da União, Comissão de Valores Mobiliários e Superintendência Nacional de Previdência Complementar, além de servidores e consultores da Câmara Federal, que se dedicaram arduamente ao longo de 8 meses em analisar e investigar milhares de documentos físicos e digitais.

É conveniente realçar que, ao contrário de outras CPIs que ficaram inconclusas ou sem resultados concretos, o encaminhamento do relatório final à Procuradoria Geral da República motivou a instalação de uma Força Tarefa conjunta entre Ministério Público Federal e Polícia Federal culminando na atual Operação Greenfield esta que, inclusive, já efetuou o bloqueio de R$ 8 bilhões dos investigados e cumpriu mais de 100 mandados de busca, condução coercitiva e prisão temporária, dentre elas a de Wagner Pinheiro citado pelo delator.

>> Arthur Pinheiro MachadoO empresário Arthur Pinheiro Machado assegura que jamais participou de negociações visando impedir a realização de depoimentos de presidentes de fundações na CPI dos Fundos de Pensão. Esclarece que tem total interesse em poder demonstrar no fórum adequado e não especulativo todas as evidências de transparência e seriedade que regem a sua conduta. O empresário destaca que o seu grupo empresarial possui mais de 11 mil clientes e cerca de 815 funcionários contribuindo para a inovação e desenvolvimento do mercado brasileiro. Atua de forma pioneira e inovadora em diversos segmentos, sendo um dos poucos investimentos que vêm apresentando retorno consistente acima do mercado aos acionistas, apesar da crise brasileira. Além da pontualidade em seus pagamentos aos debenturistas, notadamente o fundo Postalis.

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