Um diário comprometedor

 

Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!

Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras. Ele revelou os detalhes do esquema que tornaria a lava jato a maior investigação de corrupção do mundo

Parecia enredo de novela. O vilão era Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras entre 2004 e 2012. Como um malfeitor de folhetim, deixou provas incontestáveis dos crimes que cometera. Elas foram encontradas em 17 de março de 2014, enquanto a Polícia Federal fazia buscas na casa do executivo e ele depunha numa delegacia. À distância, ele orientou filhas e genros sobre como se livrar dos documentos comprometedores. Não deu, por causa da quantidade colossal de informações. Entre as provas coletadas havia 36 pen drives, documentos e blocos com anotações sobre empresas de fachada, contas em paraísos fiscais e indícios gritantes de corrupção. ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, a algumas provas.

Costa era meticuloso e organizado. Assim como o doleiro Alberto Youssef, seu parceiro de maracutaia e também preso pela PF, guardava registros detalhados das operações. Não usava códigos nem codinomes, e os registros incluíam explicações técnicas do esquema.

A suspeita, na primeira reportagem, publicada em 7 de abril, era que as maiores empreiteiras do país e as principais vendedoras de combustível do mundo pagavam comissão para fazer negócio com a Petrobras. Quem recebia o dinheiro era Costa, responsável por fechar contratos de construção e reforma de refinarias (do interesse de empreiteiras brasileiras) e de importação de combustível (do interesse de companhias no exterior). Na segunda reportagem de capa que dedicou ao caso, três semanas depois, ÉPOCA trazia mais informações exclusivas, como um documento inédito que complicava ainda mais a versão do governo no caso da refinaria superfaturada de Pasadena, nomeava outras contas secretas de Costa e adicionava duas empreiteiras à lista que já continha 13 suspeitas de pagar propina.

Boa parte das provas foi recolhida pela PF e, mais tarde, incriminaria parte da família de Costa e mais algumas dezenas de corruptos, entre empresários e políticos, na Operação Lava Jato. Em 29 de agosto de 2014, Costa começou a colaborar com a investigação da PF, após fechar o primeiro acordo de delação premiada da operação. Muitos executivos seguiram os passos de Costa depois. Mais de 300 acordos do tipo foram feitos somente na Operação Lava Jato. Beneficiado por isso, o vilão bem organizado já está novamente nas ruas.

>> A longa estrada de um delator

Condenado por lavagem de dinheiro e outros crimes, ele revelou como funcionava o esquema de corrupção e passou, por isso, apenas cinco meses na cadeia. Cumpriu um ano de prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. Ele e alguns de seus parentes ainda respondem por tentativa de ocultação de provas. O doleiro Alberto Youssef, condenado a 122 anos de prisão, também colaborou com as investigações e já está livre. A Operação Lava Jato continua. Está em sua 44ª fase.

>> A condenação do caixa um

As revelações do delator pioneiro levaram a Petrobras a um doloroso processo de expiar as falhas que favoreceram a ação dos gatunos. Teve de descontar R$ 6 bilhões em valores incorporados como patrimônio, mas que, na verdade, foram gastos com propina. Outros quase R$ 100 bilhões foram subtraídos de seus ativos, resultado, em parte, do reconhecimento de que muitos projetos não dariam o retorno esperado diante de todo o dinheiro que drenaram. A companhia reduziu planos, paralisou obras e vendeu ativos. Depois de Costa, outros três ex-diretores foram presos. A empresa conduziu investigações que revelaram mais criminosos na folha de pagamentos. Tornou-se assistente de acusação nas ações penais contra seus dilapidadores. O prejuízo acumulado entre 2014 e 2016 supera os R$ 71 bilhões. Nos primeiros seis meses deste ano, lucrou R$ 4,7 bilhões.

Em 2016, foram sancionadas a Lei de Responsabilidade das Estatais, que proíbe dirigentes partidários e ocupantes de cargos políticos de assumir diretorias nessas empresas. Espera-se que a lei contribua com a profissionalização da gestão de estatais. No mesmo ano, foi sancionada a lei que dá à Petrobras liberdade para escolher em que projetos de exploração do pré-sal ela quer participar.

http://epoca.globo.com/especiais/EPOCA-1000/noticia/2017/08/um-diario-comprometedor.html


Descubra mais sobre Intelligentsia Discrepantes

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Descubra mais sobre Intelligentsia Discrepantes

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading