Politização afunda a estatal petrolífera da Venezuela. Do que a Petrobras se livrou

Meridith Kohut/Bloomberg

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Para sobreviver a meses de protestos nas ruas e a uma economia em queda livre, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez da petrolífera PDVSA seu bastião de apoio, o que debilitou mais a estatal, já em situação vulnerável.

Indicados políticos ganharam mais influência à custa de executivos veteranos da área de petróleo, enquanto funcionários sofrem pressões cada vez maiores para participar de comícios de apoio e para votar no governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Esse foco cada vez maior na questão política, em vez de no desempenho, vem contribuindo para a rápida deterioração da indústria petrolífera da Venezuela, dona das maiores reservas de petróleo do mundo, e para uma fuga de talentos da empresa, que já teve uma qualidade internacional.

Entrevistas com mais de 20 funcionários atuais e antigos, executivos de petrolíferas estrangeiras e fornecedores indicam uma PDVSA em colapso. “Tudo é um desastre e, ainda assim, temos que aplaudir”, disse uma funcionária, que pediu para não ser identificada por medo de retaliação.

Depois de quatro meses de protestos, marcados por mortes, contra o impopular presidente, a nova direção da empresa pressiona cada vez mais os funcionários para que participem dos comícios do PSUV e, às vezes, pede cartas para explicar eventuais ausências.

Gerentes disseram a funcionários que seriam demitidos se não votassem na polêmica eleição de 30 de julho, convocada por Maduro para escolher uma Assembleia Constituinte, que foi amplamente denunciada como um passo do país em direção a uma ditadura.

Os críticos há muito afirmam que a PDVSA se tornou o coração, apodrecido pela corrupção, do “socialismo do século XXI” do falecido ex-presidente Hugo Chávez, à custa da outrora próspera indústria petrolífera do país.

Agora, a produção de petróleo da Venezuela caminha para encerrar 2017 no menor patamar em 25 anos. Mas o governo Maduro ainda depende pesadamente da PDVSA para ser seu motor financeiro.

Isso torna a administração da empresa mais complicada, e fontes dizem que facções políticas estão cada vez mais engajadas em lutas de poder dentro da estatal.

Uma equipe administrativa sênior nomeada em janeiro e composta por indicados políticos e militares deixou o presidente da PDVSA, Eulogio del Pino, formado na Universidade Stanford, praticamente sem poder, segundo duas fontes de alta hierarquia na estatal e no governo que pediram anonimato por medo de represálias.

A infraestrutura da empresa está em frangalhos, o número de plataformas em operação é um dos mais baixos da história e as refinarias operam com uma fração de sua capacidade. Os funcionários na antes reluzente sede da PDVSA reclamam que há muitos elevadores fora de serviço, banheiros sem papel higiênico e carros quebrados na garagem.

O governo nega as acusações de má gestão e destaca que a PDVSA apoia programas sociais e que há uma campanha da mídia direitista para manchar a imagem da Venezuela. A PDVSA e os ministérios de Petróleo e da Informação não responderam a pedidos de entrevista.

Del Pino, um tecnocrata de baixo perfil que analistas do setor veem como uma figura tranquilizadora, apesar da queda de produção durante seu comando, continua nominalmente a presidir a PDVSA apesar de ter perdido muitos de seus principais executivos na reformulação de janeiro.

É o ministro do Petróleo, Nelson Martínez, ex-chefe da refinaria venezuelana Citgo, com sede nos EUA, e aliado próximo de Maduro, que cada vez mais negocia acordos e viaja a congressos do setor petrolífero representando a Venezuela.

Entre os novos executivos de destaque estão o diretor da divisão de comercialização, Ysmel Serrano, que trabalhava para o atual vice-presidente venezuelano, Tareck El Aissami, e o vice-presidente de Finanças, Simón Zerpa, um jovem aliado de Maduro.

A ascensão de executivos de médio escalão inexperientes é muito sentida por executivos de petrolíferas estrangeiras, que dizem já ter ficado horas esperando por representantes da PDVSA. Eles ainda reclamam que decisões simples são inexplicavelmente demoradas.

“Na maioria das vezes, os executivos não retornam telefonemas nem e-mails. É surpreendente como alguns gerentes são jovens e despreparados”, disse o representante de uma empresa estrangeira fornecedora da PDVSA. Ele disse que o caos operacional e gerencial vem piorando. O tempo de espera para carregar um navio petroleiro aumentou para 30 a 40 dias. Há alguns anos, era de dois a três dias.

Se os EUA concretizarem a ameaça de impor sanções ao setor petrolífero da Venezuela, a já frágil PDVSA provavelmente terá dificuldades para reagir.

“Tanto a falta de experiência gerencial cada vez maior quanto a fragmentação da hierarquia dentro da PDVSA em feudos tornam isso realmente difícil”, disse Francisco Monaldi, especialista na indústria petrolífera da Venezuela do Baker Institute, em Houston. (Colaboraram Mircely Guanipa, de Punto Fijo, e Deisy Buitrago, de Caracas)

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