Moeda de troca de organizações criminosas, matéria prima para o refino de drogas, garimpo ilegal, lucro fácil. São muitos os usos do combustível que o tornam um produto valioso para criminosos.
Na região Amazônica, por exemplo, é comum o roubo do combustível via transporte fluvial. Os prejuízos com furtos e roubos nas águas dos rios é estimado em R$ 70 milhões por ano pelo Sindicato das Empresas de Navegação Fluvial do Estado do Amazonas (Sindarma). De acordo com o Sindicato, o crime vem ocorrendo há mais de 20 anos, mas a incidência dos casos de ataques de piratas ficou maior nos últimos cinco anos.
O combustível tem sido usado como moeda de troca de organizações criminosas e há a suspeita de que este combustível abasteça o garimpo ilegal de ouro nos rios da região. O combustível é revendido aos garimpeiros que o utilizam para operação das dragas e balsas usadas na extração do ouro do fundo do rio. Além disso, a gasolina e o óleo diesel roubados também servem como matéria prima para o refino da pasta de cocaína pelo narcotráfico.
Por ser uma carga fácil de desviar e de comercializar, o combustível é bastante visado pelos piratas – como são chamados os ladrões, que se aproximam das embarcações em lanchas rápidas, rendem e ameaçam tripulantes utilizando armamento de grosso calibre. As longas distâncias e a pouca fiscalização também são facilitadores para este tipo de roubo.
O maior número de ataques piratas tem ocorrido no Rio Solimões, nas proximidades de Coari; no Rio Negro, orla de Manaus; no Rio Amazonas Estreito de Breves no Pará e Rio Madeira entre Itacoatiara e Porto Velho (RO).
No Amazonas, o Sindarma e a Secretaria de Segurança Pública (SSP-AM) assinaram um termo de cooperação técnica com o objetivo de dar mais segurança para as atividades fluviais no interior do estado, a Operação Ratos D’água. Galdino Alencar Júnior, presidente do Sindarma, a operação é “uma iniciativa que traz avanços sociais para população e econômicos com a garantia das operações do transporte fluvial de cargas”.
O termo de cooperação beneficia os municípios do interior do Amazonas, onde os registros apontam maiores índices de roubos, furtos, receptação e desvios de combustíveis nos rios. Para o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Lubrificantes, Álcoois, e Gás Natural do Estado do Amazonas (Sindicombustíveis-AM), Luiz Felipe Moura Pinto, o maior problema enfrentado pelos comerciantes da região é quando este combustível roubado volta para as cidades, com preço bem inferior ao valor de mercado, contribuindo para uma competição desleal.
Petróleo bruto
Outra modalidade de crime que também tem crescido é o furto do petróleo bruto, aquele destinado às refinarias antes do seu processamento, diretamente dos dutos. Essa prática é conhecida como trepanação.
Para Djalma Santos, Coordenador de Segurança Patrimonial do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes – Sindicom, esse tipo de roubo é mais estruturado, feito por organizações criminosas. “É preciso toda uma cadeia para a transformação e comercialização e quando se fala em cadeia, estamos falando de mini refinarias clandestinas.”
De janeiro a maio de 2017, A Petrobras Transporte S.A. – Transpetro registrou 78 intervenções clandestinas (furtos ou tentativas de furto) nos dutos operados pela companhia em todo o país. Esse número já é maior que o total em 2016, quando foram identificadas 72 ocorrências ao todo sendo, em média, três a cada mês nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
De acordo com a Transpetro, o transporte de combustível por dutos é seguro e eficiente, mas intervenções criminosas podem ser fator de risco de incêndio e explosão. A empresa atua constantemente no desenvolvimento de tecnologias de monitoramento e tem aprofundado a articulação com diversos órgãos externos para, de forma integrada, auxiliar no combate a essa atividade criminosa.
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