Prezado Sr. Presidente da Petros,
Estamos vivenciando dias tormentosos em nosso país e também em nossa Fundação.
Fomos arrastados a essa situação pela avalanche de corrupção que assolou o Brasil nas últimas décadas, aliada à gestão predatória das instituições sob influência do governo federal, entre as quais infelizmente a Petros se incluiu.
Na Petros, o saldo dessa era de roubalheira desenfreada foi um rombo de 26 bilhões de reais e o seu legado uma carteira de investimentos recheada de micos irrecuperáveis que ampliam esse catastrófico déficit numa proporção ainda não dimensionada.
Reconhecemos a boa intenção, a competência e o esforço de sua gestão no sentido de recuperar o patrimônio dilapidado. Também sabemos, tanto quanto V. Sa., que as limitações de risco impostas à Fundação, a péssima qualidade de parte substancial dos ativos e a conjuntura econômica desfavorável limitam as possibilidades de recuperar o que foi perdido.
Causou-nos agradável surpresa o fechamento do seu Comunicado deste final de semana, por ter sido, até hoje, a única Presidência que reconheceu nos participantes os verdadeiros donos dos recursos dos planos geridos pela Petros. Isso, porém, jamais nos tornou condutores da sua política, pois nunca nos foi facultado influir na escolha dos gestores do nosso patrimônio, o que certamente contribuiu para que chegássemos à situação de calamidade em que estamos.
Assim, em que pese a competência da sua gestão, ativos e aposentados estão sob a ameaça concreta de perderem parte substancial de seus benefícios, além de já terem abalada sua tranquilidade quanto ao futuro. Estamos na iminência de pagar uma conta que não é nossa.
Por outro lado, causa-nos espanto que as revelações do sr. Joesley Batista o tenham surpreendido. Em 8 de dezembro de 2016, quando fomos gentilmente recebidos por V. Sa., comentamos a atuação suspeita de dois dos citados pelo sr. Joesley: Wagner Pinheiro, que presidia a Petros à época da aquisição das ações ON da Itaúsa, e Luis Carlos Afonso, diretor de investimentos naquele momento, condenado por falcatruas praticadas enquanto secretário de Marta Suplicy na prefeitura de São Paulo e por esse motivo defenestrado da presidência da Petros. Esse mesmo senhor foi punido pela Previc por conta do caso Itaúsa. Na ocasião fornecemos documentos que corroboravam as suspeitas e fomos enfáticos na necessidade de perseguir e punir judicialmente esses e outros agentes, como forma de inibir o retorno da prática de atos prejudiciais à Fundação por futuros gestores e conselheiros.
Não bastasse isso, o relatório da CPI dos fundos de pensão, com múltiplos indiciamentos de gestores e conselheiros, já apontava claramente para a existência de irregularidades, não deixando espaço para que revelações como as dos irmãos Batista causassem surpresa.
Assim, se o primeiro parágrafo do Comunicado não foi uma mera figura de retórica da sua área de comunicação, o que realmente causa surpresa é que só agora a Petros volte os olhos para essas gestões cujos desmandos arruinaram parte substancial do patrimônio coletivo dos participantes, o que é de pleno conhecimento de quem hoje tem a responsabilidade de gerir a Petros. Se realmente houve essa omissão, a atual gestão da Petros esteve mantendo até hoje, ainda que involuntariamente, a blindagem conferida a essas pessoas pelo ex-presidente Henrique Jäger. Eles e seus comandados há muito deveriam ter sido investigados e chamados a responder na Justiça, ou pelo menos administrativamente, por seus atos ruinosos, dos quais os exemplos abundam.
Se alguma iniciativa nesse sentido foi tomada, não houve divulgação. A Petros mantém-se absolutamente muda no que diz respeito às investigações que tem realizado, quando teria a obrigação moral de comunicar seus resultados aos donos do patrimônio lesado.
A sua frase bomba à revista Exame em 3/2/2017, “a Petros é um show de horrores”, encaixa perfeitamente ao resultado de tudo isso ao se tomar conhecimento que éramos espoliados na medida em que dois ex-presidentes, Luiz Carlos Afonso e Carlos Costa, como conselheiros designados pela Petros no Conselho de Administração da BRF, são agora acusados se agirem como quinta coluna em favor da JBS, sua concorrente.
Seria de uma injustiça monstruosa permitir que os participantes fossem penalizados com o custo da cobertura do déficit antes que esses indivíduos, bem como aqueles que supostamente os corromperam, fossem processados e, caso comprovada sua culpa no âmbito do devido processo, meticulosa e implacavelmente expropriados de seus bens em benefício da Petros, até o limite do prejuízo que causaram. Isso vale para esses e para todos os outros, pessoas físicas ou jurídicas, que por seus atos dolosos nos infligiram perdas.
À vista do exposto, exigimos de V. Sa. que tome providências imediatas para habilitar a Petros ao ressarcimento das perdas que lhe tenham sido criminosamente infligidas.
De nossa parte, ficaremos vigilantes e não titubearemos em denunciar qualquer vacilação da Petros no mister de perseguir quem a assaltou por todos os meios legais a seu alcance.
Ao mesmo tempo exigimos publicidade dos resultados das investigações de irregularidades, tanto das já concluídas ou em andamento, como das que forçosamente deverão ser feitas onde mais houver indício de crime. A essa altura dos acontecimentos essa é a única maneira de manter uma relação de confiança entre os participantes da Petros e seus gestores.
Muito além de qualquer conta, fomos iludidos e prejudicados por gestores que precederam V. Sa.
Basta.
Atenciosamente,
S.O.S. Petros