Gratidão eterna

“Por ter absoluta certeza na vida eterna, isso me permite lhe dizer que nosso Pai é justo. Por ser justo, Ele jamais permitiria que acontecimentos que muitas vezes possam estar acima da nossa compreensão de determinado instante deveriam ter, como resultado, a dor e o despedaçamento.

Saudade calma e tranquila sim, dor jamais, pense nela como um anjo que se aproximou da sua família para receber apoio necessário à evolução do conjunto da sua família.”

 

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Meus caros amigos, irmãos em um Pai maior,

 

 

É com imensa gratidão que escrevo a todos vocês, em resposta às dezenas de mensagens que eu, minha companheira Márcia e nossa família estamos recebendo num momento de tanta perplexidade. Nossa dívida para com todos vocês é eterna e jamais poderá ser por nós paga, somente pelo nosso Criador.

 

Há meses atrás um amigo perdeu sua querida filha e eu carinhosamente lhe escrevi as palavras acima. Ainda assim não tinha a noção do tamanho da sua dor. Ele m´as retribuiu, ontem, enviando-as de volta, como finalização às suas gentis palavras à nossa dor. Fiz questão de reproduzi-las em destaque para que me sirvam de farol daqui para sempre.

 

Quis o Pai, na sua Justiça e Bondade infinitas, carregar o nosso amado CARLO e junto reapresentar lições constantes que, orgulhosos, meros alunos teimosos, nunca aprendíamos. Uma lição definitiva à nossa arrogância.

 

Às 06:00 horas do dia 12, em retorno do seu trabalho como Supervisor de manutenção no Metrô, quase ao final da Rodovia Anchieta, sob chuva intensa, entrou com sua motocicleta em um buraco escondido sob água o que o levou a um tombo. Na sequência passava uma carreta que lhe estraçalhou o corpo físico. Nenhum culpado imediato além do sistema ganancioso de pedagiamento de rodovias sem qualquer retorno em segurança aos seus usuários. A moto, segundo o delegado, saiu praticamente ilesa.

 

Sua morte na carne carrega uma enorme simbologia, ainda que horrorosa a cada um de nós e a mim como pai, que dessa forma o encontrei, jogado na rodovia por horas. Ajudou saber que sua passagem violenta, rápida, não o fez sofrer.

 

Há pouco mais de 42 anos ele veio ao mundo físico. Chegou nu e nu partiu, sem qualquer condição de receber algum traje que não fosse o caixão mortuário, lacrado.

 

E aqui vem a grande lição que eu espero agora aprender em definitivo. Ele não vai acordar do outro lado nu pois carregou consigo ações que eu, como pai, poucas vezes vislumbrei e, assim, sequer soube valorizar.

 

Sua despedida do nosso convívio, teve para mais de centena de amigos que eu sequer conhecia, vindos principalmente do seu local de trabalho que, aos prantos me relataram a grandeza de espírito que era meu querido e amado filho. Como chefe, como subalterno, como amigo dentro e fora do ambiente de trabalho, conciliador, buscando sempre trazer a concórdia entre ideias discordantes – palavras molhadas da maioria deles.

 

Normalmente brincalhão, festeiro, excessivamente família, amava a filha e a sua esposa a ponto de gravar em seu corpo uma belíssima tatuagem com o personagem Hulk, esverdeado pela força, com seu rosto sorridente e agarradas a ele, sua amada esposa Lane e sua querida filha Naomi. Cativava as crianças, filhas de seus muitos amigos. Algumas, hoje adolescentes que, presentes, choravam copiosamente, sem poder acreditar no que acontecera.

 

Seu curto convívio entre nós permitiu ainda que nossas famílias com origem no Japão, em Portugal e na Espanha (a minha e a da sua esposa) conseguissem se juntar em uma só, ultrapassando rancores que provavelmente se perpetuavam e tiveram sob sua batuta um final feliz. Fazia questão de sempre estarmos juntos em almoços e festas.

 

Permitiu o Pai que eu conseguisse, ao final da cerimônia de cremação, falar algumas palavras e humildemente agradecer a um auditório lotado. Pedi perdão ao Carlo por ter-lhe sido sempre somente um pai severo, esquecendo que em muitos momentos, ou em quase todos, eu também deveria ter tido um lado mãe, aquele que sabe ser sensível aos problemas e dificuldades imediatas. Não fui e por isso perdi muito.

 

Ontem à noite dois outros grandes amigos me telefonaram e com suas palavras simples e tranquilas conseguiram abrir as torneiras do meu coração sofrido, permitindo que eu finalmente chorasse copiosamente, um choro que era necessário, para permitir que nossa saudade se torne iluminada e esperançada e que permita ajudar o complementar tranquilo e sereno da passagem do Carlo para sua nova vida.

 

Sobrou-nos cuidar de quase um pequeno harém, com esposa, duas filhas de sangue e uma, Lane, de coração, e minhas duas netas. Temos a sorte também de um genro excepcional, outro pai amoroso, este sim com o lado mãe que eu não tive. O Pai me dê forças e tempo para poder conduzi-las pelo caminho do bem que meu filho indicou.

 

Não tenho qualquer mágoa ou revolta no coração. Sou espírita convicto, uma doutrina que me proporciona conhecer ou saber que a vida é contínua, é eterna, de idas e vindas e nelas e através delas evoluímos da nossa ignorância par a Luz Eterna. Nosso Pai nos cria simples e ignorantes, somos como seixos rolados, que se desprendem brutamente dos granitos das nascentes dos rios e rolam, batendo de um lado e de outro, aparando com isso suas arestas e chegando arredondados  às suas margens.

 

A todos vocês um enorme abraço, Deus, em sua infinita misericórdia ajude a todos nós e lhes retribua em dobro o enorme bem que todos nos fizeram.

 

Pai Eterno, obrigado por Tu tê-lo deixado conviver em nossa família e com o seu retorno ao Teu seio, dar-nos mais uma lição gloriosa.

 

A todos que acreditarem e puderem, sem preocupação de credos, orem pelo Carlo Salgado.

 

Sérgio Salgado e Márcia da Fonseca Salgado

 

 


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