SÃO PAULO – (Atualizada às 16h24) O empresário Mário Celso Lopes, ex-sócio da J&F Investimentos (holding da família Batista que controla a JBS) na produtora de celulose Eldorado Brasil, foi preso temporariamente nesta manhã pela Polícia Federal, como parte da segunda fase da Operação Greenfield. Além da prisão temporária, decretada pela Justiça Federal de Brasília, o Ministério Público Federal (MPF) pediu o bloqueio de contas bancárias e investimentos pertencentes ao empresário, ao seu filho (Mário Celso Lincoln Lopes) e a três de suas empresas (MCL Participações, MCL Empreendimentos e Negócios e Eucalipto Brasil).
O MPF requereu também o sequestro de bens como imóveis e cotas sociais dos investigados. O objetivo é assegurar a reparação do prejuízo causado aos fundos de pensão — caso haja condenação. Atualmente o valor do prejuízo é estimado em R$ 1,7 bilhão, segundo o MPF.
A Justiça acatou pedido de quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico, telemático referente a toda a documentação apreendida na Greenfield.
Mário Celso Lopes foi preso e foram realizadas busca e apreensão nos endereços dele e de seu filho, Mario Celso Lincoln Lopes. Ambos são sócios da Eucalipto Brasil.
As medidas visam recolher provas de que os investigados praticaram crimes como gestão fraudulenta de fundos de pensão que realizaram investimentos no Fundo de Investimentos em Participação (FIP) Florestal. O FIP recebeu aporte de cerca de R$ 550 milhões pelos fundos de pensão Petros e Funcef e por isso é investigado.
J&F
Mário Celso Lopes foi sócio de Joesley Batista na empresa Florestal S.A. e teve participação de 25% no capital da Eldorado. Essa fatia foi vendida à J&F investimentos em 2012, o que resultou na saída do empresário da companhia.
Estabelecido em Andradina (SP) e dono de terras na região de Três Lagoas (MS), o empresário chegou a anunciar um novo projeto bilionário para produção de celulose em Ribas do Rio Pardo (MS). Os planos de Mário Celso levaram a J&F à Justiça, sobre alegação de que o empresário assinou um acordo de não concorrência com a Eldorado. As partes chegaram a um acordo e o projeto não saiu do papel. Parte das florestas que seriam usadas para abastecer a nova fábrica foi vendida pelo empresário à Eldorado, por meio da Eucalipto Brasil. O contrato que estabelece essa transação, de R$ 190 milhões, foi colocado sob suspeita pelo MPF.
Procurada, a J&F informou que “nenhuma das suas empresas foi alvo de busca e apreensão ou qualquer ação policial no âmbito da Operação Greenfield nesta quarta-feira”. “A empresa reforça que, quanto ao processo que tramita na 10ª Vara Federal de Brasília, seus advogados já entregaram a sua defesa e aguardam novos pronunciamentos do juiz responsável”, disse em nota.
A investigação
A Operação Greenfield sustenta que Mário Celso Lopes participou da constituição da Florestal S/A (atual FIP Florestal). Na época, segundo o MPF, o empresário era o principal sócio da MCL Empreendimentos e Negócios Ltda., que se aliou ao Grupo J&F Investimentos para a formação da companhia que, posteriormente, entre 2009 e 2010, recebeu aportes do Petros e do Funcef.
Ao justificar o pedido de prisão de Mário Celso Lopes, o MPF relatou à Justiça a descoberta de movimentações recentes como a assinatura de contrato cujo objetivo seria o de dificultar as investigações.
Em novembro, após a deflagração da Greenfield, a Eldorado firmou contrato no valor de R$ 190 milhões com a Eucalipto Brasil S/A. Chamou a atenção dos investigadores o fato de ter havido a retirada de uma cláusula contratual menos de um mês após o fechamento do negócio. Segundo o MPF a alteração beneficiou Mário Celso Lopes em detrimento da Eldorado e dos sócios minoritários: Petros e Funcef.
A suspeita é que a medida tenha sido uma articulação com o propósito de comprar o silêncio de Mário Lopes. Além disso, segundo o MPF, todas as movimentações acionárias e negociações que viabilizaram os investimentos feitos pelos dois fundos de pensão beneficiaram Mário Lopes e o filho dele.
Eldorado
O contrato de R$ 190 milhões envolve o fornecimento de madeira, equivalente a 20 mil hectares plantados, pela Eucalipto Brasil, outra empresa de Lopes. O acordo, segundo o MPF, foi firmado sem passar pelo crivo do conselho de administração da Eldorado, o que não feriria regras de governança. Depois, porém, uma das cláusulas do contrato foi alterada, o que traria benefícios a Lopes, em detrimento da companhia.
Mário Celso Lopes vendeu em junho de 2012 à J&F, holding da família Batista, a fatia de 25% que detinha na Eldorado. Lopes participava inicialmente da empresa Florestal S.A., sociedade constituída em 2005 com Joesley Batista. A empresa, então, recebeu investimentos dos fundos de pensão Petros (da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal) por meio do FIP Florestal. Em outubro de 2010, a Florestal S.A. foi incorporada pela Eldorado.
Hoje, a J&F detém 63,59% da Eldorado (participação direta), enquanto o FIP Florestal tem 34,45% e FIP Olímpia (1,96%). Já no FIP Florestal, Funcef e Petros têm 24,75% cada e a J&P, os demais 50,5%.
A Operação Greenfield investiga justamente fraudes em grandes fundos de pensão.
Há cerca de duas semanas, o presidente da Eldorado, José Carlos Grubisich, e o empresário Joesley Batista encaminharam defesa ao juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, após o MPF ter pedido o bloqueio de bens no valor de até R$ 3,8 bilhões por descumprimento de um acordo firmado após a primeira fase da Greenfield. O MPF pede também o afastamento de toda a diretoria da Eldorado.