Venda de Belo Monte depende da Eletrobras

A venda do bloco de controle da Norte Energia, 50,02%, planejada pelos acionistas privados da empresa, concessionária da hidrelétrica de Belo Monte, depende da anuência da estatal Eletrobras. Junto com suas subsidiárias, é dona de 49,98% de Belo Monte. Segundo uma fonte com conhecimento do assunto, a exigência da aprovação do negócio por parte da Eletrobras faz parte de uma cláusula incluída no acordo de acionistas da Norte Energia.

Ainda conforme essa fonte, não se prevê entrave pelo lado estatal em aprovar o negócio. Além disso, a própria Eletrobras poderá entrar no negócio e pôr à venda suas participações. A holding tem plano de levantar R$ 4,6 bilhões em venda de ativos neste ano e essa seria uma boa oportunidade.

Em nota, a estatal informou não ter conhecimento sobre negociações do controle da Norte Energia. “Caso o bloco controlador venda mesmo sua participação, a companhia irá analisar se exercerá ou não seu direito ao tag along”, destacou. O caso é semelhante ao da usina de Santo Antonio, à venda pelos controladores (Odebrecht, Andrade Gutierrez e Cemig). O processo está mais avançado e deve receber proposta firme em março. A estatal está fora do bloco de controle.

A expectativa dos vários acionistas privados da Norte Energia, incluindo fundos de pensão, é que o negócio seja fechado por mais de R$ 10 bilhões. Os compradores ainda assumiriam um financiamento de R$ 22 bilhões. O Bradesco BBI foi contratado para prospectar interessados no negócio.

A decisão de vender suas participações em conjunto foi tomada nos últimos meses. Desde o ano passado, alguns acionistas sondaram o mercado para sair da hidrelétrica, já em fase de geração de energia no Pará. A conclusão que tiveram, porém, foi de que o negócio só seria interessante ao comprador caso ele levasse o controle.

A venda da Norte Energia, todavia, não será um processo simples. Um dos problemas é a parcela de 20% de energia descontratada da usina, originalmente destinada ao mercado livre. As empresas precisam garantir a contratação dessa energia a preço mínimo de R$ 185 o MWh para obter um empréstimo de R$ 2 bilhões do BNDES. A questão é alvo de arbitragem entre os sócios, que queriam fazer a Eletrobras contratar essa energia.

O atrito gerado nessa discussão foi um dos motivos que levou os sócios privados da usina a decidirem pela venda. A necessidade de aportes regulares nas obras por eles – alguns em situação financeira delicada – foi outro fator que pesou na decisão.

Segundo a fonte, são necessários R$ 5 bilhões para concluir a obra – outro possível obstáculo para fechamento do negócio. A Norte Energia informa que das 24 máquinas previstas, dez estão operando.

Procuradas, Light, Vale, Neoenergia e Petros não comentaram. Os demais sócios não responderam até o fechamento da edição.

http://mobile.valor.com.br/empresas/4866678/belo-monte-depende-da-eletrobras