Em tempos de escassez de fusões e aquisições no setor petrolífero, uma empresa vem se esforçando para manter ocupados os executivos de banco de investimento. A Royal Dutch Shell, que concluiu em janeiro a compra do BG Group por US$ 50 bilhões, a maior aquisição do área de petróleo e gás em dez anos, tenta vender US$ 30 bilhões em ativos para saldar parte das dívidas que a ajudaram a financiar a fusão.
Thank you for reading this post, don't forget to subscribe!Infelizmente para a Shell, ganhar dinheiro com fusões e aquisições vem se mostrando uma tarefa mais difícil do que gastá-lo. No fim de junho, os recursos contabilizados com as vendas concluídas somavam apenas US$ 1,5 bilhão.
Um punhado de transações menores acertadas desde o verão europeu, entre as quais a venda de operações marítimas no Golfo do México e uma refinaria na Dinamarca, vai aumentar o total em algumas centenas de milhões de dólares, quando a Shell divulgar em novembro sua atualização relativa ao terceiro trimestre.
O leilão de um pacote de ativos no Mar do Norte, avaliado em cerca de US$ 2 bilhões, também vem progredindo. Entre os interessados estão nomes como a Ineos, um grupo petroquímico britânico de capital fechado, e a Siccar Point Energy, controlada pela firmas de investimentos em participações Blackstone e Blue Water Energy, segundo fontes a par da situação.
Por outro lado, no entanto, surgiram dúvidas sobre o acordo de US$ 1,6 bilhão acertado em 2015 para vender a participação de 33% na Showa Shell, a sócia japonesa da Shell na área de refinaria, para a Idemitsu Kosan, uma rival no Japão. A Shell informa que a transação continua encaminhada, mas analistas alertam para a possibilidade de atrasos por demoras nos planos de uma fusão total entre Showa e Idemitsu.
Qualquer problema na fusão japonesa colocaria em risco a meta de curto prazo da Shell de conseguir “progressos significativos” em vendas de US$ 6 bilhões a US$ 8 bilhões neste ano, com a ideia de chegar a US$ 30 bilhões no fim de 2018. Para atingir essa meta final, a Shell precisaria vender uma média de mais de US$ 1 bilhão em ativos por mês – bem acima do ritmo atual.
O lento avanço vem preocupando investidores porque as vendas são cruciais para os esforços da petrolífera de sustentar o retorno aos acionistas em meio aos baixos preços do petróleo. A Shell não diminui seus dividendos, de 7%, os maiores no setor, desde a Segunda Guerra Mundial e seu executivo-chefe, Ben van Beurden, não quer manchar esse histórico.
Uma política agressiva de cortes de custos vem atenuando as pressões. Os gastos de capital neste ano deverão ser 38% menores do que a Shell e BG gastaram, somadas, como empresas independentes em 2014. A recente recuperação dos preços do petróleo para cerca de US$ 50 por barril também ajuda. Ainda assim, a cotação continua abaixo da faixa de US$ 65 a US$ 70 que analistas do Citigroup consideram necessária para a Shell ter condições de reduzir naturalmente suas dívidas líquidas, de US$ 75 bilhões.
O diretor de finanças da Shell, Simon Henry, encarregado de executar o programa de venda de ativos, disse que não vai se precipitar a ponto de vender a preços emergenciais. Ele indicou estar disposto a estender o cronograma para depois de 2018, se isso for necessário para receber mais.
Fontes próximas dizem que há mais de 16 ativos com processos de venda em andamento. Campos de petróleo e gás na Nova Zelândia, Tailândia e Gabão estão entre os apontados por executivos de banco como prováveis candidatos, assim como uma participação de US$ 1 bilhão no terminal de gás natural liquefeito (GNL) MLNG Tiga, na Malásia.
Analistas, contudo dizem que Henry pode precisar ampliar a lista de ativos à venda para atingir a meta de US$ 30 bilhões. A Shell divulgou o programa de vendas não apenas como forma de reduzir dívidas, mas também para concentrar as atenções em atividades de maior potencial de crescimento. O analista Alastair Syme, do Citigroup, questiona por quanto tempo mais Henry vai conseguir limitar as vendas a partes não desejadas de sua carteira de negócios.
O ritmo lento das vendas de operações é sintomático, diz Syme, do “fraco estado do mercado para o tipo de ativos que a companhia quer vender”. Ele e vários outros analistas destacaram a atratividade dos 300 mil acres da Shell na Bacia de Delaware, que faz parte da Bacia Permiana do Texas e Novo México, onde estão algumas das reservas de petróleo de xisto mais fáceis de explorar na América do Norte.
Syme diz que o terreno é um “código postal desejável”, que poderia alcançar um preço de US$ 9 bilhões a US$ 13 bilhões se a Shell decidisse vender.
Valores similares poderiam ser obtidos pelas operações do grupo no Canadá, onde possui grandes reservas de areias betuminosas. A Shell não quis comentar o assunto.
Obter dinheiro com ativos cobiçados deixaria rapidamente ao alcance de Henry a meta de US$ 30 bilhões e protegeria os dividendos, ainda que possivelmente à custa do crescimento futuro. “Se o fluxo com as vendas ficar estancado, até que ponto as intenções nobres do plano de vendas vão ceder às necessidades do balanço patrimonial?”
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