Deflagrada na última segunda-feira pela Polícia Federal, a Operação Greenfield começou a desnudar a caixa-preta sobre os quatro maiores fundos de pensão de empresas estatais, criados para garantir o pagamento dos benefícios previdenciários aos seus reais donos. Ou seja, os empregados que depositam mensalmente parte dos seus salários para garantir tranquilidade mínima no futuro. Na prática, o que se descobriu foi mais um caso de roubalheira envolvendo companhias acusadas de participar da Lava Jato, o maior escândalo de corrupção já revelado na história do país.
Juntos, Previ (Banco do Brasil, Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios) têm um patrimônio de aproximadamente R$ 280 bilhões – soma superior ao PIB de países como Uruguai, Croácia, Bulgária e Bolívia. Esse montante foi colocado sob a guarda de gestores que, na imensa maioria das vezes, saíram de sindicatos controlados pelo PT e partidos aliados. A eles cabiam, em última instância, as indicações paras cargos de direção, responsáveis pela escolha de negócios capazes de assegurar a aposentadoria dos assalariados que investem o dinheiro suado de cada mês, por anos a fio.
Contudo, os quatro fundos de pensão acumulam um rombo que beira inacreditáveis R$ 50 bilhões. Parte desse prejuízo é resultado de investimentos errados ou inviabilizados pela crise econômica. Até aí, aceitável no jogo de perde e ganha que caracteriza o mercado financeiro. Mas os investigadores da PF e do Ministério Público Federal destacados para tocar a Greenfield descobriram o que se desconfiava há muito tempo: as perdas também podem ter origem na tunga praticada por um esquema lesivo aos cofres dessas entidades.
Durante as apurações, procuradores do MPF e delegados federais detectaram indícios claros de fraude e gestão temerária em oito dos dez investimentos analisados, todos realizados com os cofres da Previ, Petros, Funcef e Postalis. O total da rapinagem é estimado pela força-tarefa da Greenfield em R$ 8 bilhões, valor bloqueado em bens e contas de pessoas e empresas que foram alvos na primeira etapa da operação.
Os desvios, segundo suspeitam os investigadores federais, foram praticados a partir de superfaturamento na aquisição de contas dos chamados Fundos de Investimento em Participações (FIP). Trata-se de um mecanismo legal, usado por empresas para captar recursos, sob a promessa de impulsionar negócios que vão de usinas termelétricas à construção de casas populares. Em contrapartida, o investidor aumenta o próprio capital com o lucro obtido pela sociedade.
O que a Operação Greenfield descobriu, entretanto, foi que a compra das cotas de FIP pelos fundos de pensão foram precedidas por análises irreais e tecnicamente irregulares, calculadas apenas para superestimar os valores desses negócios. Para piorar, com provável envolvimento de empresas contratadas justamente para avaliar a solidez dos investimentos, informando o que é joio e o que é trigo.
Ao puxar o novelo, a Greenfield reafirma a importância de dar maior transparência às operações financeiras praticadas pelo comando dos fundos de pensão estatais. Sobretudo, porque são eles os guardiões dos planos de vida para centenas de milhares de trabalhadores.
A nova frente de investigação renova também a necessidade de acabar com o apadrinhamento político no setor, para evitar que esse volume considerável de recurso seja manipulado por grupos com interesses pessoais e partidários. Se tiver o alcance e a continuidade da Lava Jato, ao que tudo indica, a Operação Greenfield pode pôr fim ao estado degenerativo que domina os fundos de pensão no Brasil.
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