Investimentos suspeitos foram relatados em CPI

Investimentos suspeitos foram relatados em CPI

Investimentos em ativos superavaliados, tráfico de influência, conflito de interesses e outras irregularidades investigadas na Operação Greenfield da Polícia Federal foram relatadas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos fundos de pensão, encerrada este ano. A operação teve entre os alvos aportes das fundações em fundos de participação (FIP), que também passaram pela CPI.

O investimento na Sete Brasil, fornecedora de sondas para a Petrobras representou a maior perda financeira para as fundações. No total, a Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, Funcef (Caixa Econômica Federal) e Previ (Banco do Brasil) colocaram pouco mais de R$ 3 bilhões na empresa, que entrou em recuperação judicial neste ano.

O FIP Sondas, veículo por meio do qual as fundações participavam do capital da Sete, hoje é avaliado por um valor simbólico, o que representa uma perda total para os cotistas. O relatório da CPI, de abril deste ano, encaminhou o caso ao Ministério Público para apurar a responsabilidade de dirigentes da Petros e da Funcef no investimento na Sete. A Comissão concluiu que, no caso da Previ, não havia elementos que pudessem apontar culpa na aprovação do investimento.

O relatório também aponta fortes indícios de fraudes e tráfico de influência nos investimentos das fundações nos FIPs OAS Empreendimentos, Multiner e Cevix. A Funcef aprovou um aporte de até R$ 500 milhões na incorporadora controlada pela empreiteira OAS, mas apenas R$ 200 milhões foram investidos. Os demais investimentos foram cancelados após as denúncias contra a empreiteira na Lava-Jato, segundo a CPI.

A OAS assumiu alguns empreendimentos inacabados da falida Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop). Entre eles está o Solaris, onde familiares do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e outros integrantes do partido tinham cotas, segundo o relatório.

O empreendimento é alvo da Operação Lava Jato sob suspeita de pagamento de propina por contratos da Petrobras em troca de apartamentos. Convocado na CPI, Vaccari manteve-se em silêncio durante o depoimento.

A Comissão também apontou a suspeita de que o investimento no FIP OAS tenha sido superavaliado. No aporte inicial, feito pela empreiteira, as cotas do fundo foram avaliadas em R$ 1 mil cada. Na entrada da Funcef, o valor unitário passou para R$ 4.737 (374% a mais) após uma avaliação feita pela Deloitte.

A CPI também indicou indícios de superavaliação no FIP Multiner, que recebeu investimentos da ordem de R$ 600 milhões de Petros, Funcef e Postalis. Criada em 2007 para investir em projetos do setor elétrico, a empresa registrou prejuízo em todos os anos até setembro de 2015, último dado disponível no relatório.

Roteiro semelhante foi verificado pela CPI no aporte da Funcef no FIP Cevix, que investiu em projetos de energia renovável do grupo Engevix, posteriormente investigado na Lava-Jato. O investimento total da fundação na empresa somou pouco mais de R$ 340 milhões.

Outro negócio investigado na Greenfield que passou pela CPI dos fundos de pensão é o FIP Enseada, que investiu no plano de reestruturação da fabricante de produtos eletrônicos Gradiente, em 2009 e tinha Funcef e Petros como cotistas. As fundações perderam os R$ 34 milhões investidos com o fracasso do projeto.

A atuação do Bradesco, gestor e administrador do FIP Enseada, foi questionada pela CPI. Além de estruturar a operação, o banco era o maior credor da Gradiente, e teria recebido recursos usados pelo fundo para arrendar a marca e os ativos da companhia. Os serviços do FIP foram prestados pela Bradesco Asset Management (Bram) e BEM, empresas que pertencem ao grupo.

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