MENSAGEM DO PRESIDENTE
n° 19 – 29 de agosto de 2016
Caros petroleiros e petroleiras,
A carta desta semana será um pouco diferente. Em vez de abordar vários assuntos, queria conversar com vocês mais longamente sobre as negociações do nosso acordo coletivo de trabalho. Esta também não é uma carta só minha. Ao contrário das outras, foi elaborada por toda a diretoria e seguirá assinada por todos nós como forma de dizer a vocês que temos uma visão bastante alinhada sobre o momento da empresa e o que isso exigirá de nós todos.
A primeira grande novidade este ano é que a Petrobras começa as negociações do ACT 2016 sob novo comando na área de Recursos Humanos. Vocês sabem que o José Luiz Marcusso, que era gerente geral da Unidade de Exploração e Produção do Espirito Santo, é o novo gerente executivo de RH e tem a missão de fortalecer o diálogo entre vocês e a empresa. Recebeu também a orientação de priorizar a transparência na comunicação e deixar claras as nossas motivações e propostas para que vocês possam entender e julgar da melhor forma a situação por que passa a companhia e como poderemos, como força de trabalho, acelerar a recuperação da Petrobras.
Na próxima quinta-feira (01/09), receberemos a proposta da FUP para o ACT 2016. Os demais sindicatos entregaram suas propostas na semana passada e, conforme vocês puderam saber em nosso portal interno, reivindicam um reajuste de 19%, incluindo aumento de 10% acima da inflação.
A proposta será devidamente analisada, mas gostaria de comentar inicialmente que estudo da Fundação Instituto Pesquisas Econômicas (Fipe) mostra, para o mês de julho, que 37,6% das negociações tiveram reajuste abaixo do INPC, enquanto na indústria de extração e refino de petróleo, a mediana das correções nos últimos 12 meses foi de 3,9% abaixo da inflação. No caso da Petrobras, temos desafios ainda maiores. De 2008 a 2015, a dívida da nossa empresa subiu de US$ 27 bilhões para US$ 126 bilhões, ou seja, um acréscimo superior a 400%. Nesse curto período de pouco mais de sete anos, a nossa geração de caixa se manteve praticamente estável. Em consequência, a Petrobras perdeu o grau de investimento e os juros que pagamos hoje simplesmente saltaram de 3,95% ao ano para 6% ao ano em nossos papéis de cinco anos. Em 2016, entre juros e pagamento dos empréstimos, projetamos pagamentos de US$ 25,2 bilhões.
Teremos que fazer um esforço hercúleo para, por melo de parcerias e desinvestimentos, mantermos o nível de investimento adequado para não colocar em risco a nossa produção futura.
Esses dados não são uma forma disfarçada de dizer a vocês que a Petrobras não conseguirá conceder reajustes acima da inflação este ano. Representam a realidade. São a maneira mais honesta que eu e a diretoria temos de dizer que a situação da empresa não nos permitirá levar adiante a mesma política de reajustes salariais que vigorou até então.
Nos 12 anos anteriores a 2015, a diretoria da Petrobras concedeu expressivos aumentos reais de salários e benefícios, o que fez com que o ganho acumulado em nossos vencimentos nesse período superasse a inflação em 50,8%. Se for somado o efeito da inflação, os reajustes acumulados entre 2003 e 2015 são de 245%. Não é pouco por nenhum critério que se escolha.
Em 2015, esse ritmo de reajustes já foi revisto para um percentual muito mais próximo da inflação. Atos o esforço de um ano só não será suficiente. A nossa expectativa é que as negociações deste ano possam refletir de modo ainda mais consistente a situação da nossa empresa. Precisaremos, sim, discutir temas como a redução opcional da jornada de trabalho para algumas áreas da empresa, com redução equivalente de remuneração; a operacionalização do benefício farmácia; o nosso ritmo de despesas com horas extras; entre vários outros itens.
Esta semana, o nosso RH iniciará uma consulta com os empregados que puderem participar do programa sobre o desejo de um acordo para a redução de Jornada e salários.
A Petrobras tem um profundo compromisso com sua força de trabalho, mesmo em um momento tão difícil como este, quando estamos experimentando uma forte redução de atividades em vários locais da empresa. Por isso, buscaremos todas as alternativas possíveis para manutenção de nossas competências: mobilização, treinamento, primeirízaçào, entre outras, mas temos que conciliar este compromisso com a saúde financeira da empresa. Ainda não temos decisões tomadas sobre temas que são importantes na nossa política de pessoal, como avanços de níveis e critérios de pagamento da participação nos lucros, mas continuamos estudando esses assuntos e com a chegada do Marcusso acreditamos que essa avaliação poderá se acelerar.
As negociações do ACT 2016 exigirão uma profunda compreensão do que vive a Petrobras e serão realizadas com o nosso compromisso estrito com a verdade e a transparência. Para isso, garantimos a vocês que teremos instrumentos inovadores de comunicação que permitam julgar, comparar, avaliar e concluir por vocês mesmos o momento que vivemos. Nossa orientação é para que a equipe negociadora dê absoluta transparência ao processo. Vocês terão, por exemplo, acesso à versão completa das propostas que serão apresentadas pela Petrobras e nos comprometemos a explicar os princípios básicos que orientaram o trabalho.
Mas apesar de tudo isto há risco de termos greve. Entendemos que esse não é o caminho mais construtivo para buscarmos as soluções que vão acelerar o processo de recuperação da Petrobras. Esperamos que não seja essa a decisão dos nossos empregados. Mas a greve é um direito consagrado na nossa Constituição e tem que ser respeitado.
A greve, no entanto, tem consequências concretas para a empresa: gastos adicionais apenas com pessoal de mais de R$ 9 milhões por dia com a contingência necessária para manter a nossa produção, custos jurídicos nos casos em que as regras de livre acesso dos empregados que querem trabalhar são desrespeitadas, além de possíveis perdas operacionais, descumprimento de contratos, atrasos de prestações de serviços, entre outros. Gostaríamos de ressaltar que é uma decisão que tem impactos econômicos relevantes para a empresa e que a diretoria executiva entende que esses fatores não podem ser ignorados. De qualquer forma, os nossos gestores atuarão de forma integrada e com o nosso apoio nesse sentido.
Durante as negociações do nosso ACT, nós não vamos concordar em 100% das vezes, mas precisaremos ser guiados pela convicção de que estamos todos do mesmo lado, que estamos todos trabalhando para o mesmo fim. Essa certeza nos dará a medida certa de bom senso, tranquilidade e especialmente respeito para exercitarmos durante esse processo.
Obrigado a todos,
Pedro, Hugo, Ivan, João, Jorge, Nelson, Roberto e Solange