A escolha de um profissional com larga experiência na administração de fundos de previdência para a presidência da Petros representa um avanço notável em relação à prática vigente, onde os gestores eram escolhidos a partir do pré-requisito indispensável de pertencerem aos quadros do partido do governo ou a seu braço sindical.
Nossos representantes eleitos, no entanto, preconizam em seu blog que a escolha deveria recair necessariamente sobre um participante do PPSP ou PP2. Isso não faz sentido para nós.
A Petros administra dezenas de planos, que devem ser geridos exclusivamente em nome do interesse de seus participantes. Isto posto, vê-se que a proposta não é ética, pois sugere algo incompatível com os princípios da boa governança, ao colocar representante de interesse de grupo determinado para gerir o todo. Por administrar dezenas de planos, a Petros não pode manter regras de escolha que deem margem à suspeita de tratamento diferenciado entre eles.
Além disso, o pré-requisito de ser participante da Petros limita desnecessariamente o universo de escolha dos dirigentes, e fatalmente levaria à situação semelhante a que temos hoje, com pessoas despreparadas gerindo um patrimônio responsável pela manutenção de mais de 100.000 famílias. Por falar em família, faz muito tempo que empresas familiares profissionalizaram sua gestão, pois constataram que não podiam limitar sua escolha de gestores ao universo de uma família.
O Sr. Walter Mendes não é ligado ao comando da estatal. Era representante dos acionistas minoritários e presidia o comitê de auditoria. Afirmar que ele é ligado ao comando da estatal é acusá-lo indiretamente de atuar sob conflito de interesses de forma desfavorável aos seus representados e duvidar da seriedade da Petrobras, que teria colocado uma pessoa sob suas ordens no órgão de fiscalização interna independente. Além do mais, renunciou a seus mandatos para assumir a Petros. Portanto, desvinculou-se não só de suas funções junto ao acionista majoritário, que já não representavam subordinação a ele, como da representação dos minoritários. Não representa mais nenhum interesse ligado à Patrocinadora da Petros.
O Sr. Walter Mendes também não é banqueiro. Ele é um profissional que iniciou sua carreira trabalhando em um banco. Essa diferença precisa ser percebida. Atualmente não está vinculado a qualquer instituição bancária que possa ter interesse em abocanhar a Petros. Banqueira é a Petros, que detém 15% da holding Itaúsa, dona do maior banco privado do Brasil. E está perdendo com isso. É de aproximadamente 3 bilhões de reais a componente do déficit em dezembro de 2015 atribuível à participação da Petros no capital votante da Itaúsa.
É animador, no entanto, que o Sr. Walter esteja sendo submetido publicamente por nossos representantes eleitos a uma série de questionamentos extremamente válidos e oportunos:
1 – Dívidas da Patrocinadora;
2 – Saldamento do acordo de níveis;
3 – Incompatibilidade do perfil de investimentos do PPSP com a maturidade do plano;
4 – Alteração das premissas atuariais;
5 – Investimentos problemáticos, como Belo Monte e Sete Brasil;
6 – Investimentos injustificáveis e/ou suspeitos (“malfeitos”).
Lamente-se apenas que só agora, quando a indicação vem de um governo provisório em desalinho com as preferências partidárias de nossos representantes, é que lhes ocorreu cobrar publicamente do candidato soluções para a grave crise em que a Petros se encontra.
Até bem pouco tempo atrás, Sete Brasil era uma verdadeira joia defendida por representantes nossos no Congresso Nacional, o déficit não devia nos preocupar, pois já havia acontecido antes em proporções muito maiores sem consequências desagradáveis, e a alteração das premissas atuariais era dado inquestionável.
O presidente da Petros, ora em substituição, Sr. Henrique Jäger, foi recebido com apenas alguns reparos à sua experiência na gestão de EFPCs, que era próxima de zero. A partir daí nada. A questão do saldamento das dívidas da patrocinadora, que agora é cobrada do novo presidente, até ontem deveria ser conquistada apenas pela mobilização dos participantes, através de suas entidades representativas.
Não sabemos se o Sr. Walter terá ou não sucesso na sua missão, cujas dificuldades resultam dos anos a fio de má gestão e má fiscalização que imperaram na Petros. Mas não resta dúvida de que tem currículo adequado ao cargo, pois entre os problemas que o PPSP enfrenta, o mais complexo, e com imensa repercussão no equilíbrio técnico, é o da gestão do patrimônio de cobertura. É de se relembrar que foi iniciativa dele trazer o Conselho Fiscal da Petros para expor questões técnicas sobre o déficit de 2015, situação nunca antes ocorrida.
Os danos praticados ao patrimônio da Petros vão muito além da simples medida do déficit atual, que é apenas a aferição do que foi perdido até agora. Ele envolve ainda aspectos de liquidez, rentabilidade, qualidade dos ativos e potencial de recuperação, fatores que continuarão a impactar negativamente os resultados futuros. Recuperar a saúde desse patrimônio não é tarefa para amadores, por mais bem-intencionados que sejam.
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