(Atualizada às 18h30) A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira, 1º, nova etapa da Operação Lava-Jato, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e coordenada pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Batizada de Sépsis, a nova fase tem entre seus alvos o lobista Milton Lyra, ligado ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o operador de mercado Lucio Bolonha Funaro, que por sua vez é ligado ao presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A operação também visa uma empresa da holding J&F Investimentos, da família Batista, que controla a JBS. Trata-se da Eldorado Brasil, produtora de celulose de eucalipto, cuja sede fica no mesmo prédio da JBS e da J&F, em São Paulo.
A Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na Eldorado. A companhia confirmou a ação e disse, em nota, que “desconhece as razões e o objetivo” da operação. “A Eldorado sempre atuou de forma transparente e todas as suas atividades são realizadas dentro da legalidade”, diz a nota. A Eldorado informou ainda que está à disposição “para prestar quaisquer esclarecimentos adicionais”.
Como a sede das empresas fica no mesmo prédio, cogitou-se mais cedo que a operação poderia ser na JBS. A J&F detém 80,9% das ações da Eldorado e os fundos de pensão Petros e Funcef têm outros 8,53% cada um.
Em comunicado enviado na manhã de hoje à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a JBS informa que “em relação às notícias veiculadas na data de hoje pela imprensa, a Companhia, bem como seus executivos, não é alvo e não está relacionada com a operação da Polícia Federal ocorrida na manhã de hoje”.
De acordo com uma fonte, a PF teria cumprido também mandado de busca e apreensão na casa de Joesley Batista, presidente da J&F e membro do conselho de administração da JBS, dona do frigorífico Friboi.
Um endereço ligado a Henrique Constantino, filho de Nenê Constantino, fundador da Gol, também foi alvo de mandado de busca e apreensão. Um endereço ligado a Henrique Constantino, filho de Nenê Constantino, fundador da Gol, também foi alvo de mandado de busca e apreensão. Henrique é acionista e diretor-executivo da Via Rondon, concessionária para o trecho oeste da rodovia Marechal Rondon (SP-300). Em nota, a assessoria da empresa diz que o Ministério Público solicitou documentação sobre empréstimo tomado do Fundo Investimentos FGTS (FI-FGTS). “Ressaltamos que a solicitação do MPF está relacionada unicamente com a Via Rondon e não possui qualquer relação com outras empresas da família Constantino”, completa a nota.
A PF também cumpriu mandado de busca e apreensão na empresa Cone, no Cabo de Santo Agostinho (PE), cujo sócio é um fundo de investimento do FGTS. Construída em parceria com a construtora pernambucana Moura Dubeux, que diz não estar mais na sociedade do empreendimento desde 2013, a Cone S/A é um condomínio de negócios que oferece soluções logísticas multimodais para outras companhias.
Foram cumpridos mandados ainda em dois apartamentos residenciais localizados da avenida Boa Viagem, área nobre do Recife. Os
apartamentos são de Marcos José Roberto Moura Dubeux, presidente da Moura Dubeux, e do seu filho Marcos Roberto Bezerra de Melo Moura Dubeux, presidente da Cone S/A.
Em nota, a Cone S/A disse que só irá se manifestar quando tiver conhecimento de todo o conteúdo da denúncia. “Neste momento, a companhia está à disposição das autoridades e colaborando para que todas as questões sejam esclarecidas o mais breve possível”, afirmou a empresa.
Segundo a PF, já foram apreendidos 30 mil euros, mais de US$ 53 mil e 13 mil libras, além de documentos e aparelhos de informática. No geral, a PF cumpre 20 mandados, sendo 13 em São Paulo – 11 na capital, sendo dez de busca e apreensão e um de prisão preventiva, contra Lucio Funaro, o único preso; um de busca e apreensão na cidade de Sorocaba e outro na cidade de Lins. Cumpre também três mandados de busca e apreensão em Recife, dois no Rio e dois em Brasília – estes, ligados a Milton Lyra, segundo uma fonte.
Segundo fontes, a Sepsis tem como base as delações do
ex-vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, indicado por Cunha para esse cargo, e do ex-diretor da Hypermarcas Nelson Mello. Eles teriam dito a investigadores que esquemas operados por Funaro e Lyra teriam distribuído propina a integrantes do PMDB.
A Procuradoria Geral da República suspeita que Fábio Cleto e Eduardo Cunha cobravam propina em troca da liberação de verbas do FI-FGTS. A informação consta do pedido de afastamento de Cunha apresentado em dezembro e recebido em maio pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF.
Entre os alvos da operação desta manhã estão empresas que receberam dinheiro do FI-FGTS. Basicamente, a PGR suspeita que, para liberar os empréstimos, foi paga uma espécie de “pedágio” aos políticos por meio da rede de empresas e contratos fictícios montada pelo doleiro Lucio Funaro. Segundo as investigações, o ex-diretor da Hypermarcas disse ter pagado R$ 26 milhões em propina ao lobista Milton Lyra, que teria repassado o dinheiro para Funaro distribuir em seus canais.
A Operação Sepsis teve como alvo três empresas e nove pessoas. Veja os alvos: – A operação foi estruturada em cima da emissão de debentures do FI-FGTS para: Eldorado Brasil Celulose, do grupo J&F, controladora do Frigorífico JBS; grupo BR Vias (atual Viarondon Concessionária de Rodovias S/A), de Henrique Constantino, filho de Nenê Constantino, fundador da Gol; e Cone SA (Moura Dubeux).
– A Polícia Federal cumpriu um mandado de prisão preventiva do doleiro Lucio Funaro, ligado ao presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
– A casa de Joesley Mendonça Batista, da Eldorado Brasil Celulose, no bairro Jardim Europa, em São Paulo, foi alvo. A empresa foi apontada pelo delator Fábio Cleto como uma das pagadoras de propina. Ele disse que recebeu R$ 680 mil para montar operação de R$ 940 milhões. A PF cumpriu busca e apreensão no endereço da empresa na marginal Tietê, em São Paulo.
– Três endereços de Henrique Constantino, da Viarondon Concessionária de Rodovias S/A, foram alvo da PF: dois na capital paulista e um em São bernardo do Campo (SP). A sede da empresa, em Lins, interior paulista, também teve buscas.
– O mesmo ocorreu com dois integrantes da família Moura Dubeux, da Cone SA: Marcos Roberto Moura Dubeux teve dois endereços que foram alvo (em Recife e São Paulo) e Marcos José Moura Dubeux teve um (Recife). A PF cumpriu busca e apreensão na sede da empresa, em Cabo de Santo Agostinho (PE).
Os outros alvos são do núcleo do doleiro Funaro:
– Sócio de Funaro, Alexandre Margotto (dois endereços em São Paulo), sua ex-mulher Giovana Carletti (dois endereços em São Paulo), e seu pai Carlos Daniel Margotto (Sorocaba, SP) também foram alvo da PF. – Mandados foram para dois endereços do também doleiro Silvano Alberto Bernasconi.
– Outros quatro mandados foram cumpridos em endereços ligados a Milton Lyra, apontado como operador do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).