Correios devem obter R$ 750 milhões

Em situação de caos financeiro, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) está perto de tomar um empréstimo de R$ 750 milhões com o Banco do Brasil, antecipou ontem o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A operação já foi aprovada pela diretoria e pelo conselho de administração da empresa postal. Para ser efetivado, o financiamento ainda depende de sinal verde do Ministério das Comunicações e do departamento responsável pelas estatais no Ministério do Planejamento, mas é tido como uma das únicas alternativas possíveis para evitar o esvaziamento absoluto do caixa.

Os recursos serão usados para capital de giro. Sem esse crédito, não há dinheiro suficiente sequer para honrar a folha salarial dos 117 mil empregados a partir de setembro. O empréstimo será pago em cinco anos, mas a operação deve ter 12 meses de carência. Durante esse período, os Correios vão desembolsar apenas as despesas com juros. O pagamento do saldo começa no 13º mês.

A operação é garantida por recebíveis da estatal, que já usa uma conta corrente no próprio BB para receber pelos serviços postais prestados a cerca de 100 mil clientes em todo o país. Por essa conta transita mensalmente pouco mais de R$ 1 bilhão, com valores médios de R$ 12 mil por cliente. Se houver inadimplência, o banco poderá apropriar-se imediatamente dos recursos, que ultrapassam o valor do financiamento tomado, e fazer a quitação antecipada de toda a operação.

Castigado por forte ingerência política e buscando um modelo de negócios para o futuro, os Correios vivem a pior crise em seus 353 anos de história. Houve um prejuízo recorde em 2015, mas o número preliminar de R$ 2,1 bilhões não foi consolidado em balanço porque há três versões diferentes em torno do aporte feito na Postal Saúde, empresa criada para administrar o plano médico dos funcionários.

Um dos motivos para a acelerada deterioração das contas foi o represamento de tarifas no governo da presidente afastada Dilma Rousseff. Para atualizar os valores para serviços não concorrenciais, o Ministério da Fazenda autorizou nesta semana um reajuste de 10,64% para serviços como o envio de cartas e telegramas. Foi a segunda alta em menos de seis meses.

Para reduzir custos, a gestão anterior da ECT já havia determinado o fechamento das agências próprias aos sábados – apenas 15 unidades com mais movimento continuarão abrindo. Um projeto-piloto de fusão de agências também foi elaborado para implementação no Distrito Federal. Tudo isso, no entanto, ainda tem sido insuficiente para conter a crise nos Correios: o déficit operacional acumulado entre janeiro e abril chega a R$ 700 milhões.

Diante dos seguidos rombos, o financiamento bancário para arcar com despesas de custeio foi encarado como medida extrema para evitar o colapso. Uma capitalização do Tesouro Nacional, considerada como eventual alternativa, é dificultada pela situação das finanças públicas.

Na terça-feira, a proposta de empréstimo do BB foi aprovada no conselho de administração por três votos a favor e um contra. O conselheiro eleito pelos trabalhadores, Marcos César Silva, se absteve. Ele ponderou que, apesar de urgente e relevante, a operação tinha justificativas frágeis. “Observamos, por exemplo, a ausência de informações sobre o planejamento do fluxo de caixa, identificando objetivamente quando esse fluxo se equilibrará”, disse Silva, segundo relato distribuído aos empregados da ECT.

Hoje o Banco do Brasil não tem nenhuma exposição relevante aos Correios. A instituição financeira trata a estatal como uma empresa independente para fins de constituição de provisões para devedores duvidosos, sem nenhum atenuante pelo fato de ser 100% controlada pela União. As fontes envolvidas na operação não indicaram a taxa de juros praticada, mas asseguraram que é suficiente para cobrir os riscos.

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