Rio, 21/06/2016 – A Petrobras reforçou sua presença na diretoria do fundo de pensão dos seus empregados, Petros, que, nos próximos dias deve divulgar déficit financeiro de cerca de R$ 20 bilhões em 2015. Três diretores da Petrobras passaram a compor o colegiado de maior importância no fundo, o conselho deliberativo. Além disso, a diretoria de Investimentos, a mais importante em fundações de seguridade social, foi ocupada por Ives Cézar Fülber, ex-diretor de Gestão de Riscos do Banco do Brasil, que teria sido indicado pelo diretor Financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro, segundo apurou o Broadcast.
Os diretores da Petrobras Hugo Repsold (Corporativo e SMS), Jorge Celestino (Refino e Gás Natural) e Roberto Moro (Desenvolvimento da produção e tecnologia) foram empossados como diretores no final de maio, mas os demais integrantes do conselho deliberativo só tomaram conhecimento das mudanças no último dia 9, em reunião ordinária do colegiado. A indicação foi rejeitada por ao menos um conselheiro, que questionou a viabilidade dos executivos conciliarem as agendas e demandas dos cargos.
De acordo com fontes ouvidas pelo Broadcast, a indicação foi feita pelo ex-presidente da estatal, Aldemir Bendine. O executivo adotava a mesma estratégia quando comandava o Banco do Brasil, em que os vice-presidentes do banco comandavam o fundo de pensão dos
funcionários, a Previ.
Já Fülber, próximo a Bendine, é funcionário de carreira do BB, onde trabalhou por 33 anos. Seu último cargo foi o de gestão de risco, mas seu currículo traz experiências também em áreas diversas, desde o agronegócio, seguros e resseguros, além de atuação no exterior como entreposto do banco. Na diretoria de Investimentos, o novo executivo terá como meta adequar o portfólio da Petros à nova estratégia de gestão do dinheiro dos empregados da Petrobras, com mais ênfase na área de renda fixa e redução da participação no mercado de capitais. A aposta no mercado financeiro e em projetos considerados temerários é criticada pelos beneficiários, que acusam a Petros de gerir mal o dinheiro dos empregados da Petrobras.
O novo diretor substitui Lício da Costa Raimundo, que renunciou ao cargo em abril alegando “motivos de saúde”, segundo a Petros. No cargo há pouco mais de um ano, Raimundo foi citado nas investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Segundo o ex-vereador do PT e réu nas investigações, Alexandre Romano, ele havia sido indicado para atender aos interesses petistas de arrecadação de dinheiro para o partido. Até ser nomeado para a Petros, Raimundo era sócio de Romano em um escritório de advocacia.
As mudanças na Petros foram confirmadas na última semana e, de acordo com membros do conselho deliberativo do fundo, levantou suspeita de “intervenção” e “preocupação” da empresa com o rombo financeiro de 2015, com a necessidade de novo aporte pela Petrobras e beneficiários e com a rentabilidade dos investimentos. Em nota, a Petros informou que a indicação dos executivos “não muda nem compromete em
absolutamente nada” a independência da administração do fundo. A Petrobras não se posicionou até o momento.
A expectativa é que, concluída a auditoria externa nas contas do ano passado, os conselheiros recebam os resultados de 2015 nos próximos dias, o que deve garantir o cumprimento do prazo de entrega das demonstrações contábeis à Superintendência de Previdência Complementar (Previc), reguladora do setor. Entre os conselheiros ouvidos pelo Broadcast, a avaliação é que o balanço da Petros trará um déficit acumulado de R$ 19 bilhões a R$ 22,5 bilhões. Com a confirmação do terceiro resultado negativo consecutivo, o fundo deverá cobrar novas contribuições da Petrobras e dos beneficiários.
Pelas regras atuais, o plano de repactuação deverá ser apresentado 60 dias após a divulgação do balanço, em setembro. Entretanto, os participantes já foram comunicados de que “para assegurar o equilíbrio financeiro do plano, os participantes e a patrocinadora terão que fazer contribuições adicionais”. O comunicado foi encaminhado pelo fundo na última semana.
No documento, o fundo apresenta como a principal razão para o déficit o modelo de família adotado no cálculo dos benefícios, como antecipou o Broadcast em janeiro. O cálculo da Petros previa um rombo de R$ 4,9 bilhões em função da desatualização do cadastro de famílias e beneficiários de cada participantes. O fundo cita também fatores “conjunturais”, como o “impacto negativo do cenário econômico do país sobre a rentabilidade dos investimentos”. As razões apontadas pelo fundo, entretanto, são questionadas pelos participantes.
Antonio Pita – e Fernanda Nunes