Desfaçatez e indecência

José Netto

Sr Presidente da Petrobras, Pedro Parente

Meu nome é José Netto, sou Engenheiro de Petróleo ainda na Ativa (portanto, ainda passível de punição e perseguição – temor de todos os coagidos), já chegando no tempo de me aposentar e, como muitos outros, muitíssimo angustiado com o destino que nos aguarda depois de tanta coisa errada que foi feita, destruindo uma empresa que nos custou tanto estudo e trabalho para ser elevada diante do mundo do petróleo.

Tomando como sincero seu de compromisso declarado ao WSJ de devolver a “grandeza” da nossa empresa, creio ser oportuno repetir para o Sr. o mesmo que eu havia dito ao seu antecessor, Sr Jose Sergio Gabrielli, quando o mesmo assumia o cargo e fazia o mesmo périplo que o Sr. vem fazendo agora pelas bases. Naquele agosto de 2005, no auditório da Bacia de Campos, eu lhe disse que seu problema não era meramente fazer um acerto contábil, pois que ele estava lidando era com a confiança dos empregados que se dedicaram integralmente à capacitação a esta empresa e que nosso fundo de pensão era a garantia que poderíamos dar o máximo de nossa capacidade produtiva à empresa, sem ter que preocupar com nosso sustento na velhice.

As manifestações aqui realizadas mostram que as gestões não levam a sério seus compromissos com os empregados. Os rombos do Plano Petros original (para os mais antigos) e os baixíssimos rendimentos do PP2 (para os mais novos) efetivamente já quebraram a confiança mencionada. Não só isso, mas simbolicamente isto. Muito antes que os investidores perdessem a confiança na empresa, razão pela qual a insolvência estará a dominar o destino da empresa.

A perda de confiança dos empregados antecedeu a perda de confiança dos investidores, não por acaso. Isto tem uma história.

CAPITAL + DIREITO DE LAVRA + COMPETENCIA TECNICA = PRODUCAO de OLEO COM REMUNERAÇÃO DE INVESTIMENTOS

Em 1999 a Petrobras também viveu uma grande crise, a pior crise antes desta. Por falta de capital para investimentos. Detentora do direito de exploração das jazidas, a Petrobras teve como superar aquele momento colocando a venda nossos projetos a bancos e investidores internacionais. Forjou-se, em suma, uma joint venture em que os investidores entravam com o capital, e a Petrobras com seu direito de exploração das lavras e a excelência técnica de nosso trabalho. Claro está que isto foi bom para os investidores, até que perceberam a Petrobras não ter mais aquele nível técnico que lhes dava confiança nos resultados previstos. De suas palavras à Miriam Leitão no Globo News, sei que o Sr. está ciente disso. Muito antes da Lava Jato expor as vísceras podres dos corruptos, investidores e pequenos acionistas já vinham denunciando nossa perda de credibilidade técnica, ainda que de fato não usassem estes termos. Mas para bom entendedor, meia palavra basta.

Sem recuperar a confiança do empregado, não vejo como a Petrobras possa ser recuperada. Ainda mais se perder também o direito de lavra, conforme proposto pelo Senador José Serra. Sem capital para investimento, sem credibilidade com investidores, o destino da Petrobras estará selado.

Recuperar a confiança dos empregados significa recuperar a Petros, inclusive e principalmente.

Se for de seu interesse, como forma de colaborar em suas declaradas intenções de recuperação, ofereço ao Sr. mais detalhes técnicos em minha denúncia Nº 15180/2009 protocolada na Ouvidoria Geral, onde certamente o Sr. deverá encontrar muito mais documentação e depoimentos corroborando aquilo que lhe digo, posto que consegui interromper um projeto que traria prejuízos bilionários à Petrobras e seus investidores, muito embora a Ouvidoria e a Gestão do Sr Sergio Gabrielli tenham decidido por me negar o devido crédito e as reparações profissionais por tudo o que lhes foi apresentado.

Cordiais saudações ao Sr e aos demais.

José Netto.

Quero deixar claro ainda a esta Ouvidoria que o balanço restrito dos números, ainda que afeito aos laureados gestores com MBA, estão longe de representar meu entendimento da gravidade da situação. Cada projeto que não gera sua própria receita onera a produção já existente, e subtrai recursos financeiros para desenvolver outros projetos. Isto significa que, ao profissionalmente nos desvalorizar, desestimular, constranger, a gestão da Petrobras está assumindo um aumento de custo do petróleo produzido para o qual a reversão significará, ao final da cadeia de consequências, redução de salários, benefícios e corte de postos de trabalho, obviamente para a patuleia, porque a turma do bolso gordo nunca perde.”De minhas denúncias à Ouvidoria da Petrobras, em 07 de dezembro de 2009.