Os contratos dos seis aeroportos concedidos à iniciativa privada na gestão da presidente afastada Dilma Rousseff terão que ser renegociados, aponta um estudo inédito da consultoria alemã Roland Berger.
Conclusão desagradável do trabalho: as contas podiam até fechar em um cenário de expansão acelerada da economia, mas os planos de negócios das concessionárias sempre foram excessivamente otimistas e não sobrevivem mais à atual conjuntura de crise no setor aéreo.
Um exemplo da armadilha em que se meteram os consórcios vitoriosos naqueles leilões com ágios altíssimos (o governo também celebrou esses valores como evidência de sucesso): o pagamento anual da outorga fixa consome, em média, 75% do Ebtida nos três maiores aeroportos privados – Guarulhos, Brasília e Galeão. Ainda é preciso acrescentar gastos operacionais e investimentos em curso. Fica difícil equilibrar as despesas e receitas.
Em 2016, o movimento de passageiros terá queda de 9% e o volume de cargas encolherá 3%, conforme estimativas da Roland Berger. A demanda só se recupera mais significativamente em 2020, mas ainda ficará abaixo dos 217 milhões de viajantes domésticos e internacionais registrados no ano passado. Resultado: no fim desta década, segundo a consultoria, o movimento estará entre 20% e 25% inferior ao que indicavam os planos de negócios das concessionárias à época dos leilões. Isso dá uma ideia da frustração de receitas daqui para frente.
O desaquecimento da construção civil também compromete o planejamento que havia sido desenhado pelas empresas para levantar receitas alternativas. O desenvolvimento de empreendimentos imobiliários no entorno do aeroporto de Viracopos geraria um caixa adicional de R$ 8 bilhões ao longo de toda a concessão. Estavam previstos hotéis, shopping center, escritórios e centros logísticos. A crise no mercado imobiliário paralisou tudo.
“Achávamos desde o início que os planos de negócios eram pouco realistas”, afirma o presidente da Roland Berger no Brasil, António Bernardo. Segundo ele, dificilmente haverá como escapar da repactuação dos termos contratuais e o mais recomendável é enfrentar rapidamente o problema. “As contas não vão fechar. Quanto mais isso demorar, pior será.”
Os aeroportos de Guarulhos, Brasília, Viracopos, Galeão, Confins e Natal geraram um valor nominal de outorga fixa que chega a R$ 45,5 bilhões. Os desembolsos são feitos em parcelas anuais e ao longo de todo o período de vigência dos contratos. Os ágios sobre a outorga mínima definida pelo governo variaram de 66% a 673%.
Em maio, a operadora do Galeão – um consórcio formado pela Odebrecht Transport e pela Changi – deixou de pagar R$ 934 milhões referente à última parcela da outorga. Liderada pelo grupo CCR, a administradora de Confins fez seu pagamento em juízo.
O estudo da Roland Berger indica que as dificuldades nos aeroportos foram reforçadas pela configuração de ofertas comerciais inadequadas para o perfil dos passageiros. As operadoras obedeceram à lógica de shopping, promoveram competição excessiva entre varejistas de natureza similar e focaram seus esquemas de remuneração em aluguéis fixos, asfixiando os lojistas em períodos de baixa demanda.
António Bernardo recomenda ajustes nos planos de negócios das concessionárias. Em uma das frentes, convém adotar uma política tarifária mais agressiva para atrair mais voos de companhias, buscando transformar cada aeroporto em um pequeno “hub”.
Paralelamente, de acordo com o executivo, as operadoras podem inovar mais na área comercial e adotar ferramentas de tecnologia que facilitam a vida dos consumidores, como vendas online para coleta rápida de produtos. E devem explorar logo empreendimentos imobiliários para aproveitar o tempo de concessão.
Bernardo acredita que essas mudanças de estratégia, além de uma decisão mais ágil da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) sobre pedidos de reequilíbrio econômico-financeiro, recolocam o modelo de pé e têm o potencial de tornar as concessões de aeroportos novamente saudáveis.
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