BRASÍLIA – Atolado em um poço de problemas, o fundo de pensão dos Correios passará por uma nova troca de comando. O economista André Motta, atual diretor de investimentos, será alçado à presidência do Postalis. A indicação já foi aprovada pela diretoria-executiva da empresa e deverá ser ratificada pelo conselho de administração nos próximos dias. Ligado ao PMDB, ele dirigiu estatais do Distrito Federal, como o Banco de Brasília e a Terracap.
Christian Scheneider, que era presidente da operadora paranaense de telefonia Sercomtel até maio, vai ocupar a diretoria de investimentos do fundo. Ficará sob o guarda-chuva de Scheneider, servidor de carreira da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e que chefiava o PSD de Londrina, a polêmica gestão das aplicações do Postalis. A CPI dos Fundos de Pensão, instalada na Câmara dos Deputados, concluiu que houve perda de R$ 4 bilhões nos investimentos do Postalis entre 2011 e 2015. A Polícia Federal indiciou ex-gestores por fraude.
Trata-se da segunda mudança na cúpula do Postalis em menos de quatro meses. Em fevereiro, o PDT havia conseguido emplacar Paulo Cabral Furtado na fundação, derrubando o petista Antônio Carlos Conquista da presidência. O plano BD do fundo de pensão, para o qual contribuíam empregados que entraram nos Correios antes de 2005, acumulava déficit de R$ 5,6 bilhões até dezembro de 2014. Uma contribuição extra de 17,92% durante 23 anos foi aprovada em março como forma de equacionar o déficit. O valor seria descontado dos benefícios de aposentados e cobrado adicionalmente dos funcionários da ativa, mas uma liminar judicial foi obtida pelos empregados para evitar a cobrança.
O novo presidente dos Correios, Guilherme Campos, reconhece a gravidade da crise no Postalis e afirma que está disposto a incluir novamente um provisionamento de R$ 1,28 bilhão no balanço da estatal. Em 2014, a empresa teria seu primeiro prejuízo em duas décadas e só escapou do vermelho graças à reversão de uma provisão bilionária.
Essa manobra contábil foi chamada pelo presidente da CPI dos Fundos, deputado Efraim Filho (DEM-PB), de “pedalada” nos Correios. A RTSA, sigla para reserva técnica de serviço anterior, dizia respeito a um aporte dos Correios no Postalis. A discussão era se a estatal ainda deveria participar do equacionamento do déficit ou se já tinha cumprido com todas as suas obrigações. Recém-chegado à empresa postal, Campos não tem uma opinião fechada, mas diz que a simples existência de dúvidas em torno do assunto justifica que haja provisionamento.