O banco estatal tem cinco mulheres entre os nove diretores. São elas: Maria Silvia Bastos (presidente), Solange Vieira, Marilene Ramos, Eliane Aleixo Lustosa e Cláudia Trindade Prates. Apesar de as mulheres serem maioria, Maria Silva diz que o critério de escolha não passou pelo gênero, mas sim “técnico”. Os diretores do banco, ou a minoria, são: Ricardo Ramos, Cláudio Coutinho Mendes, Ricardo Baldin e Vinícius Carrasco.
Relembre
ELIANE LUSTOSA – MULHER DE R$13 BILHÕES BILHÕES
18/08/2001
Em certo momento da vida, ali no limite entre a adolescência e a juventude, a carioca Eliane Aleixo Lustosa sonhou com uma carreira de modelo. Clicados por fotógrafos de moda, seus retratos estamparam capas de algumas revistas. A opção pelas passarelas foi tomando espaço em sua agenda, ameaçou perigosamente os estudos, e a mãe, incomodada, advertiu: ?A beleza vai embora, mas a formação intelectual e acadêmica ninguém tira de você?. A profecia materna revelou-se correta apenas em parte. A beleza não foi embora, não, e continua presente no rosto longilíneo e na postura elegante. Já a ?formação intelectual e acadêmica? garantiu a Eliane uma posição profissional, ao mesmo tempo cobiçada e temida. Titular da diretoria de investimentos da Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, Eliane é responsável pela administração de um patrimônio de R$ 13,3 bilhões. Por sua mesa passam decisões estratégicas de gigantes como Perdigão, Copene, CPFL, Acesita e outras 24 companhias, nas quais a Petros tem participação. Sob seu comando também encontram-se as aplicações financeiras de uma dinheirama de R$ 8 bilhões. Da boa gestão dessa fortuna, depende a aposentadoria de quase 100 mil trabalhadores que contribuem para o fundo de pensão.
A presença de uma mulher nesse posto já seria motivo de surpresa em um ambiente predominantemente masculino, como é o mundo financeiro. Mas, aos 38 anos, formada em Economia pela PUC do Rio de Janeiro, Eliane também faz parte de uma safra de executivos que, nos últimos dois anos, mudou a cara da gestão dos fundos de pensão no País, como Previ e Funcef. Livre dos cordões umbilicais que amarravam a geração anterior de dirigentes às estatais, esses novos profissionais buscam, com boa dose de sucesso, tornar as fundações mais ativas nos destinos das empresas nas quais enterraram milhões e milhões de reais. ?Antes nossos representantes nos conselhos dessas companhias eram aposentados da Petrobras, sem compromisso de atuação firme?, diz ela. ?Hoje temos profissionais nesses postos que mantêm uma fiscalização rígida sem participar da gestão. Nosso lema é manter o nariz dentro e as mãos, fora.?
Certas vezes, Eliane é objetiva e direta, como na avaliação das gestões anteriores da Petros. Em outras, é extremamente cautelosa no uso das palavras. Ninguém a ouvirá dizer que seus antecessores pagaram muito pela participação acionária nesta ou naquela companhia. Em seu vocabulário, isso pode ser substituído pela expressão ?ousadia exagerada nos investimentos?. Acordos lesivos aos interesses do fundo e benéficos para os sócios são batizados como ?contratos sem a transparência desejável?.
Esse estilo tem uma origem, digamos, genética. Eliane descende de uma linhagem de pessoas públicas. Seu avô materno foi Pedro Aleixo, vice-presidente da República no governo do general Arthur da Costa e Silva e um dos protagonistas de um dos episódios mais marcantes do País no século 20: a edição do Ato Institucional 5, um instrumento jurídico que inaugurou um dos períodos mais autoritários da história brasileira. Foi na casa de Eliane que Pedro cumpriu a prisão domiciliar devido à negativa em assinar o AI5. Outra parte da herança política vem da mãe, Heloísa, atualmente diretora geral do Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. Dela, também carrega o gosto pela arte, da qual Eliane se diz uma modesta colecionadora. ?O traço mais marcante que herdei dela foi a obsessão pelo que faço?, diz. Seus interlocutores nas mesas de negociação sentem a força da obsessão. ?Ela é inflexível e não quer ceder nada, como seria necessário em qualquer negociação. É quase autoritária?, diz um investidor habituado a trabalhar com os fundos. Trata-se de uma opinião compartilhada pelo diretor de um grande banco brasileiro: ?Ela utiliza a força financeira da Petros como um trator para atingir suas metas na administração do fundo?.
O descontentamento não surpreende. Desde que sentou na cadeira de diretora, Eliane tem renegociado todos os contratos mantidos com grupos de investimentos e instituições financeiras. Não foram jornadas exatamente amigáveis. ?Aproveitei os momentos de necessidades deles para impor nossos direitos?, diz ela. Por exemplo: a taxa de administração cobrada pelos bancos para administrar o dinheiro da Petros caiu de 1,5%, há dois anos, para 0,16%. Em dois anos, a economia acumulada foi de R$ 50 milhões. ?Quando assumi, havia uma fila de banqueiros querendo me conhecer e falar comigo?, conta ela. ?Só podia ser porque estávamos pagando alto pelos serviços.? Com os sócios nas empresas não foi tão simples. Praticamente todos os contratos foram renegociados. No Hopi Hari, parque temático da região de Campinas, os parceiros (leia-se o GP Investimentos de Jorge Paulo Lemman) queriam um novo aporte de capital para sanar os problemas financeiros do empreendimento. Pediam a transformação de debêntures de posse da Petros em ações ao preço de R$ 1,12, o que significaria um aporte de capital isolado do fundo. Foi uma queda-de-braço de meses. Em certa reunião, Eliane levantou-se e deixou a sala. ?Nossas condições estão colocadas?, disse ela a Wilson Amaral, presidente do Hopi Hari. Ficaram um mês sem se falar, mas, no final do período, ele cedeu. Resultado: o valor dos papéis ficou em R$ 0,33 e o GP entrou com metade dos recursos. ?O importante é que essas negociações terminam em respeito mútuo?, diz ela.
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