Para o banco, novo presidente da estatal é um nome de peso, mas os problemas também são
Grandes problemas: Petrobras é, hoje, um elefante na sala do governo
SÃO PAULO – Pedro Parente assumiu a presidência da Petrobras nesta quarta-feira (1º), com a missão de descascar um dos maiores abacaxis do governo nos últimos tempos: reduzir o endividamento da estatal, ao mesmo tempo em que a recoloque no rumo do crescimento. De acordo com relatório do BTG Pactual, divulgado hoje, a tarefa é factível – mas, nem de longe, será fácil.
Assinado pelos analistas Antonio Junqueira, Gustavo Castro e Andres Cardona, o texto indica os três passos essenciais para que Parente seja bem-sucedido. O primeiro e mais óbvio é reequilibrar as contas da Petrobras. A equipe do BTG Pactual lembra que, entre 2007 e 2014, a dívida líquida da companhia aumentou 9,5 vezes, passando de US$ 13 bilhões para US$ 123 bilhões. Ao mesmo tempo, a produção aumentou apenas 16%.
Para o BTG, essas dívidas só serão controladas, de fato, se a estatal vender alguns ativos. E esta é a parte mais complicada dessa etapa. Há duas questões, segundo o banco, que embolam tudo. A primeira é que ativos vender? A resposta passa pela necessidade de definir o que a Petrobras quer ser no futuro – ou seja, é necessário um plano estratégico por trás dessas decisões.
Estatal vende tudo
“A venda de um ativo público deve ser precedida por uma decisão estratégica sobre com que a Petrobras quer se parecer no futuro”, afirma o documento. “Em que segmentos seus investimentos serão focados? Que papel terá no setor e na economia?” O BTG observa que ativos não faltam para a Petrobras considerar. Afinal, a companhia possui cerca de 6 mil gigawatts em usinas termelétricas; 20,5 mil quilômetros de gasodutos; 49 terminais e 55 navios. A estatal também detém 35,4% da distribuição de combustíveis e 22,6% do mercado de distribuição de gás liquefeito, entre outros.
No que depender do BTG, a Petrobras deveria vender a maioria (se não, todos) dos ativos não relacionados às áreas de exploração e produção. O banco estima que a venda de todos os ativos não estratégicos poderia render entre R$ 27,7 bilhões e R$ 65,6 bilhões, de acordo com o múltiplo EV/Ebitda considerado (6 vezes e 10 vezes, respectivamente). Nesta conta, entram a BR Distribuidora, a TAG, que administra gasodutos no Norte, Nordeste e Sudeste, e as termelétricas, entre outras.
Um passo mais ousado, segundo o BTG Pactual, seria a venda de um ativo estratégico, como a participação da Petrobras nos maiores e mais produtivos campos de petróleo que opera. Apenas como exercício, a instituição avaliou seu principal campo, o de Lula, entre R$ 77 bilhões e R$ 104 bilhões, conforme o preço médio do barril de petróleo considerado (US$ 60 e US$ 80, respectivamente). O banco ressalta, porém, que não trabalha com essa hipótese, sobretudo nestes tempos de petróleo barato.
Que isso não se repita
Mas não apenas basta arrumar a casa. Parente terá de garantir, também, que ela não se repita – e isso passa por quatro pontos, segundo o BTG. O primeiro é garantir, em lei, a autonomia operacional da Petrobras. O banco cita a disposição de alguns congressistas de apresentar um projeto de lei neste sentido, embora ainda não haja detalhes do que seria.
O segundo é criar mecanismos que garantam a responsabilidade fiscal da estatal. Entre as propostas do banco, está a de incentivar que os gestores administrem a Petrobras como se fosse uma empresa privada, tendo sua remuneração variável atrelada ao cumprimento de metas.
Outro item é determinar, de uma vez por todas, uma política transparente de reajuste dos combustíveis. O banco lembra que, entre 2011 e 2014, a área de refino da companhia acumulou perdas de R$ 94 bilhões, devido à venda de combustíveis a preços abaixo do mercado mundial. A instituição afirma que uma política “transparente e independente” de preços é uma peça-chave na reestruturação, “mesmo que isso conduza a perdas no curto prazo. Previsibilidade de longo prazo e transparência são cruciais para a sustentabilidade da companhia.”
O quarto ponto defendido pelo BTG para melhorar a governança da Petrobras é acabar com sua obrigação de participar, como operadora, de todos os projetos no pré-sal. Para o banco, o mais adequado seria decidir sua participação, com base na viabilidade econômica.
Tesoura
O terceiro desafio de Parente, como novo presidente da estatal, é controlar rigidamente os custos – e corta-los o tanto quanto puder. O BTG observa que, entre 2005 e 2014, os custos da empresa subiram 195%. No mesmo período, a geração de caixa medida pelo ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu bem menos: 42%. Isto, por si só, já indica o descompasso entre o quanto a empresa gasta e o quanto fatura. Tudo somado, o BTG manteve a recomendação neutra para as ações da Petrobras (PETR4), mas elevou o preço-alvo de US$ 4 para US$ 5 para os próximos 12 meses.
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