Duas notícias importantes para entender o Brasil, o país da renda fixa.
A primeira vem do Tesouro Nacional. Diz que as instituições de previdência se tornaram as maiores detentoras da dívida pública, posição que antes era ocupada pelos bancos, agora, os segundos colocados no ranking.
A segunda vem da Abrapp, a associação que reúne as entidades de previdência privada fechada, os fundos de pensão. Dá conta de que essas instituições acumulam, no ano, ganhos expressivos em suas carteiras, contabilizando o melhor desempenho trimestral desde 2010.
Essas duas notícias, intimamente ligadas, explicam, em boa parte, porque as taxas dos títulos do Tesouro não explodiram mesmo nos momentos de maior estresse do mercado, como o que ocorreu antes da votação da admissibilidade do processo de impeachment na Câmara.
Os títulos Tesouro IPCA+, papéis indexados à inflação que em outras crises chegaram a pagar juros reais de mais de 10% ao ano, vêm passando por esta crise rodando a 7,5% ao ano acima da inflação, no auge das incertezas e nervosismos. Hoje, esses papéis são negociados pouco acima de 6% mais IPCA.
Observadores desse mercado identificam uma onda de compras por parte dos gestores de fundos de previdência complementar sempre que a taxa chega ao patamar de 7 a 8% ao ano acima da inflação.
É uma grande oportunidade de ganho para essas carteiras, uma vez que a maioria tem como meta atuarial a inflação mais 6% ao ano.
Mas nem tudo são flores para os gestores dos fundos de previdência privada. O mesmo mecanismo que produz estes ganhos exuberantes provoca momentos de estresse nos participantes desses mesmos fundos devido à intensa oscilação do valor de mercado das carteiras ao ritmo da volatilidade dos juros.
A boa prática diz que os ativos, mesmo os títulos de renda fixa, precisam ser contabilizados pelo valor de mercado ainda que por sua natureza os fundos de previdência devam carregar esses papéis até o vencimento e dificilmente precisarão se desfazer deles no meio do caminho.
Ou seja, as crises representam uma oportunidade para colocar em suas carteiras papéis com o menor risco de crédito a taxas muito, mas muito sedutoras mesmo, que dificilmente encontrarão em tempos de normalidade.
Mas as horas de conforto que esses títulos proporcionarão no futuro aos gestores exigem um esforço brutal no curto prazo em momentos de estresse de mercado para que eles consigam acalmar seus participantes.
Vamos repetir: o mesmo efeito contábil que faz com que as carteiras tenham ganhos exuberantes hoje vai deixar a cota negativa quando e se vierem as oscilações nas taxas do Tesouro por conta das incertezas da economia. E veja, não estamos falando de ações, mas de renda fixa.
Aí o maior trabalho desses gestores é explicar por que o título tem o nome de renda fixa mas seu preço oscila. Neste momento de ganhos os participantes dos fundos não querem ouvir a explicação. Mas é bom explicar, porque a volatilidade nos mercados é a única certeza que temos atualmente.
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