Com prejuízo bilionário em 2015, a holding de infraestrutura Invepar entra em 2016 com dúvidas sobre sua capacidade de pagar dívidas de curto prazo e manter sua operação e de suas controladas. Após quase um mês de atraso, a concessionária do aeroporto de Guarulhos divulgou os resultados referentes ao exercício de 2015, em que reportou prejuízo de R$ 1,72 bilhão, quase quatro vezes o visto em 2014. O prejuízo atribuível aos sócios controladores foi de R$ 956,2 milhões. A “incerteza significativa” sobre a capacidade de continuidade operacional da companhia foi motivo para ênfase do auditor do balanço, a Deloitte.
A administração da companhia informou, por meio das notas explicativas que acompanham as demonstrações financeiras, que uma das soluções para o reequilíbrio das finanças no curto prazo é o sucesso da venda da LAMSAC (Línea Amarilla S.A.C.), concessionária que detém no Peru, mas diz que, para isso, a operação precisa acontecer em um “prazo próximo”.
Já no fim de 2015 a Invepar captou R$ 2 bilhões em debêntures com o objetivo de rolar dívidas. Os bancos privados, porém, entraram com apenas um quarto do montante. Os próprios acionistas da companhia, os fundos de pensão Petros, Previ e Funcef, tiveram de entrar com R$ 1 bilhão. Outros R$ 500 milhões foram injetados pela canadense Brookfield, que na época negociava ficar com as ações da OAS na Invepar. O Valor apurou que a posição dos bancos é de que só voltariam a financiar Invepar uma vez equacionada a saída da empreiteira, acionista do bloco de controle da empresa.
A expectativa da companhia é de que a venda no Peru resolva o aperto financeiro, já que, conforme a administração, os recursos seriam suficientes para quitar as debêntures, consideradas de custo elevado e com resgate obrigatório em caso de venda de ativos, e ainda pagar compromissos de curto prazo. Fontes do mercado e próximas à empresa estimam que o valor do ativo esteja acima de US$ 1 bilhão.
Neste mês a empresa teve de renegociar mais 30 dias de prazo para debêntures da controlada Metro Barra, no valor de R$ 600 milhões, captadas como empréstimo ponte, que venceram em 21 de abril. A companhia expressa nas notas explicativas a expectativa de concluir as condições necessárias à liberação do financiamento de longo prazo. Caso a liberação do financiamento não ocorra no prazo esperado, porém, “a controlada e a Invepar seguirão renegociando o vencimento das debêntures junto aos atuais credores”.
A empresa teve, em um ano, um agravamento da sua dívida de curto prazo, ao mesmo tempo em que piorou sua posição de caixa. A Invepar contava, em 31 de dezembro de 2015, com um passivo circulante total, ou seja, os compromisso que tem de pagar em até 12 meses, de R$ 5 bilhões e somava, nas linhas de caixa e equivalentes e aplicações financeiras de curto prazo, R$ 649,2 milhões. Um ano antes, reportava R$ 2,69 bilhões de passivo circulante e R$ 1,26 bilhão de caixa e equivalentes e aplicações financeiras de curto prazo.
A receita operacional líquida cresceu 12,5% em 2015, para R$ 3,4 bilhões. Os custos dos serviços prestados subiram 15,3%, somando R$ 2,1 bilhões. Além disso, a Invepar teve resultado financeiro negativo em R$ 2,11 bilhões, contra R$ 968,2 milhões em 2014.
A principal responsável pelo inchaço na linha das despesas financeiras é a atualização da outorga fixa de Guarulhos. A concessionária é obrigada a pagar a União uma contribuição fixa, em parcelas anuais reajustadas pelo IPCA. A atualização referente ao fim de 2015, informou a empresa, somou R$ 1,8 bilhão, dos quais R$ 1,22 bilhão foram registrados como despesa financeira do período. No ano anterior, a despesa financeira referente a essa atualização foi de R$ 472,1 milhões.
Outro ponto de preocupação para a empresa diz respeito às investigações da Operação Lava-Jato. Os auditores do balanço fizeram ênfase também sobre essa questão. A Invepar diz, nas notas explicativas, que não há qualquer indício de que venha a ser afetada pelos resultados das investigações. O auditor destaca, porém, que seu desfecho e eventual efeito para a empresa não é conhecido.
A participação de 24,4% do capital social da Invepar foi o principal ativo colocado à venda pela OAS na sua recuperação judicial. As ações devem ir para os detentores de bonds da OAS Investimentos, fundos abutres.