Conselheiros eleitos da Petros: Falta de coragem para aplicar um juízo de valor. Leniência e Omissão

A falta de coragem para aplicar um juízo de valor sobre os vultosos investimentos precariamente justificados, e defendê-lo como o juízo que melhor consultaria os interesses da fundação, foi a maior falha da atuação de nossos representantes eleitos, principalmente daqueles que ocuparam o CD.
É preocupante que essa prática continue a ser pretendida como correta pelos mesmos atores.
O caso Itaúsa é um exemplo antológico: tivessem o Tedesco e o Brandão se debruçado sobre a proposta de negócio, deixando de lado qualquer pudor ou disposição para aprovar o que veio de cima, teriam certamente observado as seguintes fragilidades, sem contar outras que eu possa estar esquecendo:
1 – O ativo não tinha liquidez;
2 – O histórico de pagamento de dividendos mal alcançava um terço da meta atuarial, considerando o preço que estava sendo negociado;
3 – A bolsa tinha recém ultrapassado o seu maior pico histórico em termos de valor do Ibovespa, portanto as ações estavam supervalorizadas;
4 – A condição de atingir os 15% “imposta” pelo CD não tinha a menor consistência, pois nada garantia que esse percentual pudesse ser atingido. Não passava de um ilusionismo para tentar justificar o ágio pago, que os peritos da CPI, assim como nós, perceberam no momento que leram a ata. O pior é que aprovar esta patranha sugere dolo, e se a coisa for levada adiante pelo MPF poderão os justos distraídos pagar junto com os pecadores;
5 – Ter uma cadeira no CA da Itaúsa não significa participar de sua gestão, muito menos controlar a companhia, o que prejudica o pagamento de qualquer ágio;
6 – A aquisição de um percentual majoritário do ativo mediante a venda de títulos públicos aumentaria significativamente o risco a que o patrimônio estava exposto, sem que houvesse qualquer expectativa razoável de obter com o negócio resultados acima da meta atuarial;
O conjunto de contra-indicações do negócio impunha não fazê-lo, ou fazê-lo somente mediante a concessão de um substanciosíssimo desconto. Esse é o juízo de valor que deveria ter sido feito e não foi. Não teria evitado a consumação do negócio, pois isso era coisa já decidida dentro do PT, mas pelo menos nossos conselheiros não estariam na posição vulnerável em que estão hoje, e teríamos motivo para felicitá-los pela postura deles no caso.
Essa tem sido a diferença entre a nossa atuação – eu falo do grupo independente que, feito um punhado de Quixotes, defende os reais interesses dos participantes da Petros – e a atuação dos eleitos: nós analisamos com olho crítico os negócios, formamos o nosso juízo de valor, lutamos para que ele seja conhecido e prevaleça, não nos intimidando frente ao poder político espúrio que avança sobre o nosso patrimônio. Não há outra maneira de obter resultados favoráveis nessa guerra contra o assalto de que somos vítimas.
Se estivéssemos perante o CA da Petrobras, nós externaríamos, sim, o nosso juízo de valor sobre todos esses negócios da China em que nos meteram, e também sobre quem os fez, pois há vários deles que são absolutamente injustificáveis. Se a justificativa for a incompetência de quem fez o negócio, responsabilize-se também quem fez as nomeações.
Raul Rechden