O Brasil amanheceu de uma forma diferente nesta segunda-feira (18), com uma nova realidade política, e a Petrobrás também começa um novo período. Com a aprovação do impeachment na Câmara, realizada após votação finalizada neste domingo (17), a presidente Dilma Rousseff terá de deixar o cargo caso o Senado ratifique a decisão, como é esperado, e o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, que já estava na pontinha do telhado, terá que fazer as malas muito em breve. E, com sua iminente queda, os nomes para sua sucessão já estão circulando nos bastidores do novo governo, que deve assumir o poder em pouco tempo, liderado por Michel Temer.
O mais cotado até agora, pela sua proximidade com o vice-presidente, é Moreira Franco, que já governou o estado do Rio e até janeiro de 2015 ocupava a Secretaria de Aviação Civil do governo petista. Seria uma opção com um viés mais político do que técnico. Na linha de possíveis escolhas há ainda outros três nomes fortes entre os rumores de bastidores. Em ordem decrescente de força nos palpites dos correligionários de Temer estão o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, outra opção de cunho político, pelo seu protagonismo no processo do impeachment; o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, que já atuou no setor por meio de investimentos de sua família, ligada ao grupo Ipiranga; e o presidente do IBP, Jorge Camargo, com longa trajetória no setor de óleo e gás e o nome natural do mercado.
Qualquer um que venha a ser indicado para o cargo terá desafios enormes e contará com um prazo inicial para tentar colocar as coisas em ordem, como foi feito com Bendine. Mas a pressão será ainda maior, já que a margem para erros já foi muito ultrapassada. Qualquer passo em falso será crítico. O País, a indústria e a Petrobrás, principalmente, precisam de alguém com um perfil técnico e que tenha uma grande capacidade de gestão. Alguém que tenha condição de dialogar com os políticos sem se tornar subserviente, ao mesmo tempo em que tenha preparo para comandar uma empresa gigante como a estatal e consiga se aproximar das empresas de forma ética e com extrema lisura, para reerguer esse símbolo nacional e não incorrer nos mesmos erros do passado, que levaram a companhia à situação atual.
Terá ainda um grande trabalho para se desvencilhar da marca trágica deixada por Bendine na empresa, onde seu único legado serão prejuízos históricos, demissões em massa e um desmembramento da maior companhia do País, que ficou paralisada desde a sua entrada, praticamente sem investir em novos projetos, sem dar continuidade aos que já estavam em desenvolvimento e sem horizontes de volta ao crescimento. A Petrobrás caiu no colo dele com um enorme endividamento e no meio do maior escândalo político da história do País, é verdade, mas suas ações só contribuíram para endividar ainda mais a empresa, com novos empréstimos feitos na China, e para enfraquecer continuamente a estatal, que agora ainda terá a obrigação de contratar uma parte significativa dos equipamentos e serviços futuros no país asiático, trocando empregos brasileiros por chineses.
A saída de Dilma é a saída de Bendine. Atavicamente ligados, se aproximaram com o crescimento dele no Banco do Brasil, onde deixou um legado positivo, mas sua trajetória de bancário passou muito longe do preparo necessário para gerir uma empresa de petróleo, que funciona como o motor de boa parte da indústria brasileira, mas nas suas mãos ficou em ponto morto, freando todos os carros e caminhões que vinham a reboque. Em poucas palavras, numa analogia simples, pode-se dizer que o volante de Bendine, com o pé no freio e a bandeira da venda de ativos, causou um dos maiores engarrafamentos da história da indústria de óleo e gás nacional. Tudo ficou parado. Muita gente dando ré para buscar outros caminhos, quase sempre por meio da aposta em outros países.
Ele chegou com a marca da limpeza moral e o aval de bom gestor, tentando passar a imagem de que reaproximaria o mercado investidor da Petrobrás, que havia se tornado o patinho feio das bolsas, mas só contribuiu para piorar ainda mais o reflexo da companhia no espelho. As ações da estatal só vinham subindo quando avançavam os sinais de que o impeachment seguiria em frente. Com a concretização do processo, segunda (18) certamente haverá novas altas nas bolsas.
Além da queda da dupla Dilma-Bendine, a mudança representará um novo suspiro do mercado para o retorno da credibilidade e da confiança, duas características primordiais para que o País e a indústria possam retomar o crescimento e possam dar novos passos para reativar operações e projetos paralisados por todas as partes. É fundamental que os novos gestores deem ritmo às obras e voltem a tocar as atividades paralisadas, sob risco da perda de bilhões já investidos e da garantia da ruína de muitas empresas e projetos nacionais, já extremamente combalidos no cenário atual. É uma árdua e dura tarefa para o futuro novo presidente da Petrobrás. Mas, quem quer que seja ele, não terá outra saída a não ser encarar de frente os problemas e buscar uma melhor interlocução com todos os elos da cadeia de óleo e gás. Só assim terá chances de ser bem-sucedido.
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