As discussões sobre a renovação do acordo de acionistas da Vale levam investidores a analisar uma outra questão: o funcionamento de conselhos de administração em empresas com grupo de controle definido, como é o caso da mineradora. No mercado, há quem tenha uma visão crítica da dinâmica no conselho da Vale. “Apesar de ser formado por pessoas de reconhecida experiência e competência profissional, é um conselho que agrega pouco [em termos de discussões]”, avaliou uma fonte.
A crítica remete à comparação entre conselhos de administração em empresas com grupo de controle definido e companhias com controle acionário difuso. No mercado, há quem entenda que quem comprou e pagou pelo controle de uma empresa tem o direito e até a obrigação de transmitir o posicionamento estratégico que deseja. Já as empresas com controle difuso tendem a ser mais ágeis, suprimindo a realização de reuniões prévias às do conselho de administração.
Empresas de controle acionário difuso são mais benevolentes com remuneração dos executivo
As empresas de controle acionário difuso costumam ser mais benevolentes com a remuneração aos executivos. “Isso representa um risco pois pode potencializar ganhos [dos executivos] a curto prazo”, diz Renato Chaves, um ex-diretor da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que mantém blog que promove discussões sobre questões de governança corporativa. Chaves afirma que os conselhos de administração costumam atuar em função dos executivos. “As estratégias dificilmente nascem nos conselhos de administração. São os executivos, às vezes gastando com a contratação de consultorias externas, que costumam fazer as propostas”, disse Chaves. Ele não fala sobre o caso da Vale por estar afastado há muito tempo da Previ.
Outra fonte comparou: ‘Existem conselhos com dinâmicas diferentes. Há conselhos amistosos, beligerantes e atuantes. Na Vale, pelo tamanho da companhia, as pautas [do conselho] são enormes, mas não costuma haver muita discussão.” Procurada, a Vale não quis comentar a informação. Na avaliação de investidores, há temas polêmicos que chegam ao conselho da mineradora já tendo sido discutidos. Os acionistas controladores da companhia discutem previamente os assuntos de forma individual e, depois, no âmbito da Valepar, o bloco de controle da Vale.
Como a pauta é extensa, costuma-se eleger um tema para deliberação. Quem conhece a Vale elogia as equipes técnicas da empresa que preparam material recebido com antecedência pelos conselheiros. Neste mês, haverá assembleia geral de acionistas da mineradora e é possível que minoritários da empresa tentem aprovar a indicação de um representante para o conselho de administração da companhia. Existe a indicação de dois acionistas – VIC DTVM e Geração Futuro LPar – para nomear o advogado Marcelo Gasparino como representante dos minoritários no conselho de administração da Vale. Ele ocuparia vaga de um conselheiro que foi eleito em 2015, mas que não chegou a ocupar o cargo. “É sempre bom ter uma voz dissidente, ter alguém que faz perguntas que incomodam e que muitas vezes não são feitas. No Brasil, existe uma cultura de ditadura do consenso. Mas é mais positivo ter um voto questionador [no conselho] do que um consenso construído pelo cansaço”, disse o blogueiro Renato Chaves.
http://mobile.valor.com.br/empresas/4524711/mercado-questiona-modelo-de-atuacao-do-conselho-da-vale