Uma injeção de R$ 200 milhões feita pelo fundo de pensão dos funcionários da Caixa, Funcef, financiou a OAS Empreendimentos no ano em que a empresa gastou R$ 777 mil na reforma do tríplex do edifício Solaris, que seria destinado ao ex-presidente Lula.
Em 2014, a Funcef tornou-se sócia do fundo de participação criado pela OAS para controlar o seu braço incorporador, responsável pela reforma do apartamento 164-A do Solaris, caso investigado sob suspeita de lavagem de dinheiro.
O investimento abasteceu o caixa da companhia para que ela concluísse empreendimentos como três edifícios da Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo), que foi comandada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Quando o investimento da Funcef foi feito, em fevereiro de 2014, o empreendimento Solaris já estava concluído. Porém, evidências obtidas na Lava Jato mostram que reformas no tríplex bancadas pela OAS –que incluíram instalações elétrica e hidráulica, pintura e até um elevador privativo– foram feitas no segundo semestre daquele ano.
Uma das conclusões das investigações da CPI dos Fundos de Pensão é que a OAS Empreendimentos necessitava de uma injeção financeira porque tinha dificuldades de caixa. Nos quatro anos anteriores, a empresa acumulou prejuízo de cerca de R$ 550 milhões, segundo dados obtidos pela comissão.
As investigações da CPI apontam suspeitas de que Vaccari usou sua influência política para obter a liberação dos recursos da Funcef. Vaccari era o presidente da Bancoop em 2009, quando as obras da cooperativa foram repassadas para a OAS.
O relator da CPI dos Fundos de Pensão, deputado Sérgio Souza (PMDB-PR), afirmou à Folha que o negócio causou prejuízo à Funcef e, por isso, deve pedir o indiciamento dos envolvidos na transação. O relatório final da CPI deve ser apresentado na segunda-feira (11).
Dentre os indícios de tráfico de influência encontrados pela CPI estão visitas do petista à sede do fundo de pensão e conversas do celular do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro apreendidas pela Polícia Federal.
As conversas de Léo Pinheiro mostram que Vaccari exercia influência sobre o Funcef. Em uma delas, de maio de 2013, Pinheiro cita que o petista queria marcar um encontro e que poderia ter relação com a Funcef. Em novembro, o investimento na OAS foi aprovado pelo fundo.
Segundo a Funcef, a reforma do apartamento 164-A do condomínio Solaris não constava entre os objetivos do investimento do fundo de pensão –que eram capitalizar a OAS Empreendimentos para acelerar suas obras, viabilizar a participação em grandes projetos imobiliários, criar canal de captação de recursos financeiros e reestruturar o capital da empresa.
Em despacho, o juiz Sergio Moro, da Lava Jato, já disse que o caso do tríplex e do sítio de Atibaia (SP) podem configurar "ocultação e dissimulação de patrimônio" de Lula, além de corrupção.
OUTRO LADO
A Funcef afirmou que "desconhece qualquer obra" no tríplex, negou influência política na liberação do investimento e disse que informações específicas dos apartamentos não são de seu conhecimento.
O Instituto Lula diz que o ex-presidente "já esclareceu reiteradas vezes" não ser dono de apartamento" e que o caso tem sido explorado de forma desproporcional "por uma oposição e uma imprensa que atuam em parceria na invenção de denúncias".
A defesa de Vaccari Neto disse que ele não tem responsabilidade sobre assuntos relacionados a fundos de pensão. A OAS não respondeu.
Como roubar sem violar a lei: foi este o desafio que a cúpula petista colocou a seus comparsas ao assumir o poder em 2003, dentro da estratégia geral de legitimação de absurdos, indispensável ao seu conceito ortodoxo de democracia, no qual esta se transforma num mero discurso.
Vamos combinar que tiveram razoável sucesso, haja vista a dificuldade que a Justiça tem enfrentado para enquadrá-los em sua prática escancarada de crimes econômicos. Esse caso OAS/Bancoop é um deles. Como provar que o aporte, a fundo perdido segundo qualquer análise séria que se fizesse da OAS em meados de 2014, foi doloso? E como provar que a reforma do tríplex para atender aos caprichos da família Lula da Silva estava relacionada a essa operação? Eu tenho uma tese sobre esse tipo de situação: se os fatos sugerem dolo, e há beneficiários do suposto dolo, então há dolo.
É uma pena que a justiça não acolha essa tese, ficando os juízes na dependência de frágeis delações premiadas para tentar colocar na cadeia quem fez o diabo para merecê-la.