Perda com ações e inflação puxa déficit da Previ

Maior fundação de previdência fechada do país, a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil (BB), amargou em 2015 déficit de R$ 16,1 bilhões. O resultado negativo, o primeiro em uma década, foi provocado principalmente por dois fatores: inflação alta e forte desvalorização de ativos decorrente da crise econômica brasileira.

Por causa do salto da inflação – o INPC, índice usado como indexador dos planos de previdência no país, chegou a 11,28% no ano passado -, a reserva matemática, que é o volume de recursos que um fundo precisa ter para honrar seus compromissos atuais e futuros, saiu de R$ 122,1 bilhões para R$ 135,9 bilhões.

A meta atuarial – INPC mais 5% – foi de 16,84%, o que tornou muito difícil obter rentabilidade superior a esse percentual em 2015 – a rentabilidade do Plano 1, o mais importante, foi negativa em 2,84%.

Do lado dos ativos, as perdas verificadas foram significativas.

O volume total caiu de R$ 162,4 bilhões em 2014 para R$ 148,8 bilhões, uma desvalorização de R$ 13,6 bilhões.

Os ativos da Previ que mais perderam valor no último ano foram:

Vale (- R$ 7,804 bilhões), Banco do Brasil (- R$ 2,670 bilhões), Neoenergia (- R$ 1,223 bilhão), Petrobras (- R$ 1,155) e Bradesco (- R$ 581 milhões).

“Estamos sob uma tempestade, mas a suportaremos bem, pois a entidade tem alicerces sólidos e seguros”, disse ao Valor o presidente da Previ, Gueitiro Genso. O mau resultado em renda variável não fará o fundo mudar de estratégia. “Embora em momentos como o que enfrentamos hoje seja comum questionar a eficácia de uma estratégia mais agressiva de alocação em renda variável, os números comprovam que, em um horizonte de longo prazo, que deve orientar os investimentos das entidades fechadas de previdência complementar, trata-se de uma escolha acertada. Entre 2005 e 2015, enquanto a meta atuarial do Plano 1 rendeu 236,8% e o Ibovespa, 65,5%, a rentabilidade do plano atingiu 275,9%”, observou.

O presidente da Previ tem outro argumento em defesa da tradição do fundo em investir em ações: com a recuperação da bolsa desde o início do ano, o Plano 1 já teria recuperado, até dia 16 deste mês, cerca de R$ 9,7 bilhões. Isso reforça a tese de Genso de que o déficit de 2015 foi de natureza “conjuntural”. “Em termos estruturais, só perdemos os R$ 180 milhões que colocamos na Sete Brasil e que vamos provisionar”, informou.

Em 2016, a pressão da inflação sobre a reserva matemática deve se repetir, mas não na dimensão ocorrida no ano passado – a mediana das expectativas do mercado, segundo o boletim Focus do Banco Central, prevê IPCA de 7,46% no ano. O presidente da Previ acredita, porém, que a compensação virá da renda variável, com um comportamento melhor da bolsa. Em 2015, o Ibovespa caiu 13,31%.

Nos últimos anos, a Previ vinha gerando superávits elevados, o que permitiu, entre 2005 e 2013, não cobrar contribuição dos segurados e do patrocinador.

Até o fim deste ano, o fundo vai elaborar um plano para equacionar a diferença entre o déficit apurado em 2015 e o limite calculado pela legislação. Essa diferença é de apenas R$ 2,9 bilhões, o equivalente a 2,14% da reserva matemática, e só começará a ser paga pelos associados e o Banco do Brasil em 2017. O pagamento será feito em até 18 anos.

“Os impactos desses resultados para os associados serão pequenos. Trata-se de um déficit conjuntural, uma vez que os ativos que compõem as carteiras de investimentos da Previ são sólidos, compostas por empresas da economia real, de setores produtivos e que investem vultosos recursos em seus negócios.

Além disso, não há investimento em ativos de alto risco ou baixo potencial de retorno, como títulos de dívidas soberanas de países em crise ou bancos que deram default, por exemplo”, disse o presidente do fundo.

No Plano Futuro da Previ, de contribuição definida, diferentemente do Plano 1, que é de benefício definido, houve déficit em 2015 de R$ 57,4 milhões, um valor coberto pelo Fundo de Gestão de Risco. Esse plano é muito menor que o Plano 1. Seu ativo total soma apenas R$ 6,8 bilhões, face a R$ 148,8 bilhões do outro. No ano passado, pagou R$ 8,4 milhões em benefícios, enquanto o Plano 1 arcou com R$ 9,4 bilhões, um recorde anual.

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