Leilão de ações da Invepar pode reforçar caixa da OAS

A participação societária do grupo OAS na holding de infraestrutura Invepar caminha para uma definição na próxima segunda-feira, dia 14. O leilão dos 24,4% das ações da empreiteira na companhia está marcado e a expectativa é de que fique com os detentores de bonds da OAS Investimentos. Mas há a possibilidade de, em até 30 dias, os fundos de pensão Previ, Funcef e Petros, sócios da OAS na Invepar, exercerem o direito de compra. Ainda que um investidor estratégico estrangeiro tenha mostrado interesse em mais informações no “data room” aberto sobre a Invepar, o Valor apurou que não há expectativa de que o certame termine com algum lance.

O leilão terá início com um valor definido pelos credores de R$ 1,35 bilhão em créditos, acertada na aprovação do plano de recuperação judicial no fim do ano passado. Interessados podem participar no modelo de envelope fechado. Por fim, os sócios da OAS na holding podem exercer o direito de compra após serem notificados.

Se os fundos de pensão exercerem o direito de compra, a OAS terá direito a ficar com R$ 350 milhões do valor da venda. Caso o ativo permaneça com os credores, só há entrada de dinheiro na empreiteira, relativo a Invepar, quando houver a revenda das ações.

‪Empreiteira ficará, após a recuperação judicial, com dívida de R$ 3,7 bilhões para pagamento em até 25 anos‬

Essa decisão está em jogo em um momento em que a OAS vê sua carteira de projetos ser consumida e o caixa reduzir significativamente. Tem ainda de lidar com um período de crise econômica no país, que paralisou a oferta de novas obras no setor de infraestrutura, e com atrasos nos pagamentos de clientes, especialmente no setor público.
Até o fim de setembro, a OAS acumulava prejuízo líquido da ordem de R$ 2,3 bilhões – no mesmo período do exercício anterior, contabilizava lucro de R$ 234 milhões. O prejuízo atribuível aos controladores respondeu por R$ 2,2 bilhões. Sua receita líquida caiu 25%, para R$ 4 bilhões.

Em nove meses a empresa, diante da difícil situação, viu seu caixa minguar. Em 30 de setembro, o valor disponível de dinheiro mais aplicações financeiras circulantes somavam R$ 535,4 milhões. No fim de 2014, o montante era de R$ 2 bilhões. Conforme dados do último balanço, a OAS contabilizava, também em setembro, R$ 822 milhões em títulos vencidos de seus clientes, sendo que R$ 533 milhões estavam vencidos há mais de um ano.

Em abril do ano passado, logo após o pedido de recuperação judicial, a OAS anunciou seu plano de negócios para o quadriênio 2016-2019, com previsão de queda de receita até 2017 e início de retomada a partir de 2018, ano em que sai da concordata. Para este ano, previa receita de R$ 4,5 bilhões – R$ 3,8 bilhões provenientes de contratos antigos. Já em 2017, os contratos antigos devem garantir R$ 2,4 bilhões dos R$ 3,4 bilhões de receita prevista.

A empresa precisa, portanto, de novos projetos. Desde o início de 2015, conseguiu apenas duas obras: uma concorrência para a Plaza Nueva-Paso Inferior, em Lima, no Peru, no valor de US$ 57,3 milhões. Neste ano, a OAS ganhou a concorrência da Ponte Ilhéus-Pontal, na Bahia, por cerca de R$ 100 milhões e está perto de assinar o contrato. O atual backlog da empresa é de R$ 10 bilhões, com 69 obras, das quais 51 nacionais e 18 no exterior.

A OAS conseguiu aprovar, após meses de discussão, o plano que definiu corte significativo na dívida que tinha com os detentores de bonds da OAS Investimentos e alongamento dos outros débitos. Sua dívida pós recuperação judicial será de cerca de R$ 3,7 bilhões com fornecedores, credores locais e credores internacionais. Quando entrou com o pedido, tinha dívida e contingências de R$ 10 bilhões.
Uma parte da dívida será paga com os recursos provenientes da venda de ativos. No caso de Invepar, apenas cerca de R$ 670 milhões do valor deverá ir para os credores. Do restante, R$ 350 milhões ficarão com a OAS e R$ 330 milhões vão para pagamento das ações empenhadas ao FI-FGTS – 5,98% da Invepar.
Os credores foram divididos em quatro categorias, as quais terão diferentes condições de alongamento e parcelamento, com pagamento obrigatório de R$ 10 mil para cada credor, que será feito já em maio, até saldos que serão quitados apenas em 2040.

Um grupo agrega os credores financeiros da OAS S.A. e da Construtora, que não possuem garantia da OAS Investimentos. Vão receber, ao final de 25 anos, um montante de R$ 1,2 bilhão, Já os credores financeiros que detêm garantia da OAS Investimentos, contam com um montante a receber de R$ 1, 37 bilhão. Desse valor, R$ 725 milhões na forma de notas, com prazo de 19 anos. O restante será opcional entre notas ou em dinheiro de ativos, como a Invepar.
O terceiro grupo engloba os credores financeiros da OAS Empreendimentos em uma dívida de cerca de R$ 500 milhões.

O grupo dos fornecedores, que soma R$ 550 milhões em créditos, estão divididos em duas categorias – da OAS S.A., da Construtora e empresas no exterior e os da OAS Empreendimentos e da OAS Imóveis. Todos os valores devidos a fornecedores até a entrada na recuperação judicial serão pagos integralmente.

A empreiteira OAS foi um dos alvos da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que investiga desde 2014 irregularidades em contratos de obras da Petrobras. Um dos acionistas e ex-presidente da empresa, José Aldemário Pinheiro (conhecido como Leo Pinheiro), foi preso no fim de 2014. Em agosto do ano passado, Pinheiro foi condenado a 16 anos de prisão. Dono de 10% do capital da empreiteira, o empresário recorre em liberdade.

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