A palavra dos carteiros: “O BANCO MELLON É O GRANDE RESPONSÁVEL PELO ROMBO DO POSTALIS”

Luiz Alberto Menezes Barreto, presidente da ADCAP

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CARTA POLIS – O sr. acha que é chegada a hora de passar a limpo as atividades fraudulentas no POSTALIS para que os Correios reconquistem em sua ple­nitude sua fundação de seguridade de forma a garantir aos aposentados o seu direito constitucional?

LUIZ ALBERTO – Qualquer pessoa que olhar os investimentos feitos pelo POS­TALIS, nos últimos dez anos, verá que algo de muito errado estava aconte­cendo. Os mesmos nomes, os mesmos grupos, os mesmos métodos… E isto vale para todos os fundos de pensão de estatais (Petros, Funcef, etc). Como se chega a um prejuízo de seis bilhões? Recuperar a economia feita durante toda uma vida de trabalho de dezenas de milhares de empregados dos Correios é necessário. Como é igualmente necessário investigar tudo. E punir severamen­te. Somente assim pode-se recuperar o pilar essencial de um fundo de pensão: a credibilidade.

CARTA POLIS – Os funcionários dos Correios, que a ADCAP Na­cional representa, têm a consciência exata sobre a profundidade e sobre a sistemática crimi­nosa das atividades fraudulentas do POS­TALIS? Ou falta ir mais a fundo?

LUIZ ALBERTO – A maioria dos nossos associados e dos demais trabalhadores dos Correios têm essa consciência. Daí a perda de credibilidade do Instituto. Uma pergunta recorrente é Te recuperar o que foi roubado, quem garante que não acontecerá novamente?” A falta de vergonha e a impunidade tornaram-se regras em nosso país. As investigações

ainda estão um pouco abaixo da superfície. Mas acreditamos que chegarão ao fundo, onde se escondem os peixes graúdos.

CARTA POLIS – A ADCAP Nacional conta com que suportes para levar à fren­te sua luta para repor os direitos dos aposentados? Já acionou a Justiça Federal em nome dos funcionários?

LUIZ ALBERTO – A ADCAP conta com dois bons escritórios (de advogados) contratados. Já ingressamos com várias ações judiciais, inclusive a que conse­guiu a liminar que barrou a cobrança absurda que seria imposta no ano passado (2015) e que levou à suspensão do equacionamento. Os órgãos de imprensa enxergam a associação como referência, nos assuntos ligados ao POSTALIS. O trabalho sério conseguiu manter o tema POSTALIS na mídia durante todo o ano passado. Através do trabalho dedicado de colegas aposentados – que “tra­balham” no congresso de terça a quinta-feira – estimulamos a realização de três audiências públicas, a criação de comissões temáticas sobre Fundos de Pensão, no Congresso Nacional, além da criação de duas CPIs (uma na Câmara e outra no Senado Federal). Os associados também vasculham informações na inter­net, que ajudam a subsidiar todas as nossas atividades.

CARTA POLIS -Qual o papel que o sr. atribui à CPI dos Fundos de Pensão: será definitivo para estabelecer um marco de justiça por via legislativa?

LUIZ ALBERTO – Sim! Além de contribuir para que muitos fatos venham à tona, pelo poder que tem, acreditamos que servirá para fornecer subsídios que aperfeiçoem a legislação específica, dificultando a ação criminosa, de maneira a dar mais segurança àqueles que poupam durante toda uma vida de trabalho na expectativa de desfrutar uma aposentadoria mais tranquila.

A CPI dos Fundos de Pensão é uma boa surpresa. Através dela, descobrimos que ainda existem políticos sérios, decentes. E a CPI da Câmara Federal tem muitas dessas pessoas. A maioria dos parlamentares que compõem a CPI tem demonstrado boa vontade, garra e, sobretudo, seriedade. Como exemplo, destacamos a ação firme do presidente (Deputado Efraim Filho) e do relator (Deputado Sérgio Souza). O trabalho realizado por eles tem sido primoroso e acreditamos que resultará num relatório consistente, revelador e impactante, apesar das pressões que sofrem e da atuação das “tropas de choque” de alguns partidos políticos decadentes.

Causa estranheza o fato de a CPI dos Fundos de Pensão no Senado ainda não ter iniciado seus trabalhos. Será que são verdadeiras as notícias veiculadas pela imprensa sobre o presidente daquela casa ter sido citado diversas vezes como beneficiário de desvios no POSTALIS?

CARTA POLIS – O Banco BNY Mellon, depois de ter efetivado um acordo de leniência nos Estados Unidos, instituiu um precedente para aceitar o mesmo instru­mento no Brasil, pelo volume impressionante de opera­ções de mercado mal sucedidas?

LUIZ ALBERTO – O banco BNY Mellon tem um contra­to firmado com o POSTALIS, no qual assume respon­sabilidade total pelos investimentos realizados. Recen­temente, quando começaram a aparecer os escândalos, demitiu a diretoria anterior (do banco). A cada dia sur­gem novas provas de fraudes e de descumprimentos de normas básicas. Em audiência na CPI dos Fundos de Pensão, o presidente do banco, Sr. Adriano, reafirmava a cada pergunta que “não sabia de nada”. Diante de to­dos os fatos e evidências, o banco recusa-se a negociar e pagar o rombo que causou ou ajudou a causar (mais de quatro bilhões de reais). Por que fez acordo nos Esta­dos Unidos e se recusa a fazer no Brasil? Parece que debocha das autoridades e da Justiça brasileira. Até quando?

O BNY Mellon é o grande responsável pelo rombo do POSTALIS. Sem a participação ativa do banco de Nova Iorque, não estaríamos nesta situação. CARTA POLIS – Acha o sr. que a via negocial ainda pode ser aberta com o banco Mellon no sentido da aceitação de um acordo?

LUIZ ALBERTO – Sim! O presidente da CPI, deputado Efraim Filho, propôs a negociação, tendo a CPI como mediadora. O POSTALIS já tentou por várias vezes. Apesar de terem recusado até o momento (não se conhece nenhuma pro­posta formalizada), os dirigentes do banco sabem que o cerco está se fechando. Acredito que são inteligentes e vão aproveitar que o dólar está bem cotado, para resolver de vez esse problema, que é pequeno (um bilhão de dólares) diante do tamanho e da pujança do Banco de Nova Iorque. O prejuízo na imagem do BNY Mellon tem sido muito maior.

CARTA POLIS – Quais são as propostas da ADCAP Nacional para a morali­zação do Instituto de Seguridade dos Correios? O afastamento da influência político-partidária é um item essencial?

LUIZ ALBERTO – Cabe lembrar a afirmação do delator da Operação Lava-jato, Paulo Roberto Costa, de que “toda indicação política no país para os cargos de diretoria pressupõe que o indicado propicie facilidades ao grupo político que o indicou, realizando o desvio de recursos de obras e contratos firmados, pelas empresas e órgãos a que esteja vinculado para benefício deste mesmo grupo político” Como não acreditar nisso diante do rombo do POSTALIS? Claro que existem pessoas sérias que são indicadas por critérios técnicos, mas, infelizmente, são uma raridade. Mas temos essas pessoas (as sérias) também no POSTALIS. Via de regra, a influência político-partidária, da forma como tem sido feita, é bastante nociva.

CARTA POLIS – Quais são as propostas para as autoridades de fiscalização do setor previdenciário complementar, como a Previc?

LUIZ ALBERTO – Uma verificação rápida nos gestores que passaram pela Previc, nos últimos anos, talvez aponte para ligações com os mes­mos grupos que indicaram gestores para os fundos de pensão das estatais. De 2013 para cá, a origem de quase todos é praticamente a mesma. Os técnicos da Previc têm feito seu trabalho. Parece que alguma força impede que o trabalho evolua, siga em frente. Temos notícias de relatórios sobre o POSTALIS que foram solenemente ignorados. Por que a Previc agiu somente quando pro­vocada por nós e pressionada pela imprensa? Todo ór­gão fiscalizador deve ser isento, tem que estar imune às indicações e influências políticas.

CARTA POLIS – Quais os eventos programados pela ADCAP para demonstrar a insatisfação dos funcio­nários? A que está prevista para o Rio, por exemplo? LUIZ ALBERTO – Muitas entidades representativas dos empregados e aposentados dos Correios se uni­ram e buscam ações conjuntas. Programamos, junto com o sindicato dos trabalhadores dos Correios do Rio de Janeiro/ Findect, com o apoio dos demais sindicatos que compõem a Fe­deração (São Paulo Metropolitana, Baurú, Tocantins, Rondônia e Rio Grande do Norte), uma grande manifestação no Rio de Janeiro. Talvez acampemos na sede do BNY Mellon.

CARTA POLIS – Qual a receita para tornar a gestão do POSTALIS mais profis­sional? Quais seus planos para sua nova missão institucional?

LUIZ ALBERTO – Criar dificultadores para indicações políticas sem critérios, departamentos fiscalizadores autônomos (internos e na patrocinadora) e uma política de consequências ágil e eficaz. Começaremos a ter eleições para duas diretorias do Postalis (Administrativo-Financeira e de Seguridade). Será uma panacéia? Claro que não. Mas ajudará a colocar pessoas com interesse direto nos resultados do POSTALIS. O processo eleitoral pode ser de grande valia, pois permite aprender a cada votação. Se ainda não conseguimos fazer isso nas eleições gerais do país, temos percebido mudanças significativas nas eleições do POSTALIS. Percebemos que os participantes e assistidos buscam aprofundar as informações sobre os candidatos, rejeitam os que representam dúvidas no desempenho e votam naqueles que consideram realmente melhores. Quando se enganam, aperfeiçoam os mecanismos pessoais de avaliação.

A missão é a de contribuir decisivamente para trazer tranquilidade aos parti­cipantes e assistidos do POSTALIS. Ajudar a resolver a situação do instituto. Trabalhamos para a solução. E acreditamos que vamos conseguir!

 


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