Além da CPI, o Ministério Público Federal vai apurar investimentos milionários dos fundos de pensão na Gradiente
Pressionado por credores, autoridades e pelo mercado, o dono da Gradiente, Eugênio Staub, mantém-se em silêncio desde a publicação de uma reportagem de capa da DINHEIRO, no fim de janeiro, que mostrou o fracasso da tentativa de ressuscitar a empresa. A operação contou com a ajuda dos maiores fundos de pensão do País: a Petros, da Petrobras, e a Funcef, da Caixa Econômica Federal. Em menos de cinco anos, o aporte de R$ 68,5 milhões, feito em conjunto com a Agência de Fomento do Amazonas (Afeam), transformou-se em prejuízo, que é alvo de apuração de uma CPI e, agora, do Ministério Público Federal.
Os fundos deixaram o negócio ao perceberem o baixo volume de vendas e o risco de serem chamados para injetar mais recursos. Desde o fim do ano, a empresa não tem mais aparelhos no mercado e as investigações tentam descobrir agora o que levou os fundos a ingressarem numa aposta que se deteriorou num curto período de tempo. No Congresso, Sérgio Souza (PMDB-PR), relator da CPI, chamou a atenção para um documento de 2008 em que a Gradiente já apontava a Funcef como investidora, enquanto a própria entidade informou que o negócio só fora apresentado em junho de 2009.
As autoridades buscam ainda entender a oposição ao investimento por parte de um representante dos trabalhadores, na época no Conselho da Petros. Procurada, a Petros afirmou que o investimento passou por avaliações técnicas do Comitê de Investimento e foi recomendado por seis dos sete membros. “Em seguida, a decisão foi tomada, também de forma colegiada, na instância necessária à época.” A Funcef informou que a aplicação dos recursos segue diretrizes regulamentares e são feitas a partir de análises técnicas que indicam quando são adequadas. Procurado, Staub não atendeu aos pedidos de entrevista.
Para levantar dinheiro com os fundos, sem o risco de contágio das dívidas antigas, a Gradiente criou uma nova empresa, a Companhia Brasileira de Tecnologia Digital (CBTD), em 2012. Ela passou a deter os direitos da marca para relançar os produtos. O lucro obtido seria destinado ao pagamento dos credores da antiga empresa – as dívidas foram negociadas num plano de recuperação extrajudicial, em 2010. O fraco desempenho das vendas de produtos como tablets e smartphones, porém, não gerou recursos suficientes para honrar os compromissos. Staub agora trava uma nova rodada de negociações com os credores em busca de reverter as execuções na Justiça.
O foco principal passou a ser o equacionamento dos débitos – o patrimônio líquido está negativo em R$ 683,6 milhões –, deixando em segundo plano uma eventual ofensiva com novos produtos. Parte da solução deve vir dos créditos tributários que a empresa tenta receber da Zona Franca de Manaus. Mas a cereja do bolo é a disputa contra a Apple sobre o direito de uso da marca iPhone. A Gradiente conta com o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para revisar as duas derrotas sofridas até agora. O grupo ainda avalia um aumento de capital, proposto por acionistas em assembleia no início do mês, para dar liquidez às ações. Os papéis, que superaram os R$ 10 em 2011, valem hoje R$ 2.
http://istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20160219/staub-vai-sair-sombra/344837
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