Relembre – O beneficiário da propina seria o diretor do Petros Humberto Pires Grault, e outro acima dele

27/10/2015 – Nathalia PassarinhoDo G1, em Brasília

O advogado Carlos Alberto Pereira da Costa afirmou nesta terça-feira, em depoimento à CPI dos Fundos de Pensão, que foram pagos R$ 3 milhões em propina a dirigentes do Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, em troca da compra, pelo fundo, de R$ 13 milhões em créditos da Indústria de Metais do Vale.

Costa, que já trabalhou para Alberto Youssef, um dos principais delatores da Operação Lava Jato, disse que o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto estaria “por trás politicamente” dessa negociação. Ele falou à comissão antes de Youssef, também convocado para prestar esclarecimentos nesta terça (leia mais abaixo).

Até a última atualização desta reportagem, o G1 não tinha conseguido contato com o advogado de João Vaccari Neto, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro e preso no Paraná devido ao envolvimento com os fatos investigados pela Operação Lava Jato, que apura desvio de recursos da Petrobras.

Em fevereiro deste ano, a Polícia Federal abriu inquérito para investigar as supostas irregularidades relatadas por Carlos Alberto Pereira da Costa. Em depoimento à PF, o advogado havia afirmado que R$ 500 mil tinham sido repassados a três intermediários.

O beneficiário da propina seria o diretor do Petros Humberto Pires Grault, e outro acima dele, cujo nome disse não recordar. Posteriormente, a PF verificou, segundo Carlos Alberto Pereira da Costa, que a propina somou R$ 3 milhões.

Em nota divulgada ainda durante o andamento da sessão da CPI, Humberto Pires Grault negou ter recebido propina e disse rechaçar “com indignação” as suspeitas sobre ele (leia a íntegra da nota ao final desta reportagem).

Na ocasião, a assessoria do Petros informou por meio de nota que “todas as decisões de investimento são técnicas e que todas as operações de crédito têm garantias e são precedidas de avaliações”.

A CPI dos Fundos de Pensão investiga se houve manipulação política em investimentos com recursos dos fundos de pensão federais: Petros (da Petrobras), Previ (do Banco do Brasil), Funcef (da Caixa Econômica Federal) e Postalis (dos Correios). As operações causaram prejuízos e levaram os fundos a um déficit de mais de R$ 30 bilhões no ano passado.

Questionado por membros da CPI dos Fundos de Pensão se houve pagamento de propina nas negociações sobre operações financeiras do Petros, Carlos Alberto Pereira da Costa confirmou o que disse às autoridades policiais.

“Eram R$ 500 mil inicialmente e depois se apurou que foram pagos R$ 3 milhões. Esse dinheiro foi para Claudio Mente. Isso me foi relatado pelo Cláudio. E o Cláudio Mente me disse que Humberto receberia [o dinheiro]”, relatou Carlos Alberto Pereira da Costa, em referência a um dos três intermediários que mencionou.

Perguntado sobe quem estaria “por trás politicamente desse negócio”, o advogado respondeu: “Em relação à Petros, o que me foi relatado pelo Cláudio [Mente], era o senhor João Vaccari”.

O advogado relatou ainda ter visto o ex-tesoureiro do PT “algumas vezes” na empresa de Cláudio Mente, a CSA, que atuava na “estruturação financeira” de companhias e negociava operações de fundos federais.

“Sim, vi algumas vezes e ele tratava com Cláudio Mente. Eles tratavam do fundo de pensão Petros”, disse o advogado. O depoente também confirmou a participação do doleiro Alberto Youssef em negociações sobre aplicações financeiras dos fundos de pensão federais.

Perguntado por integrantes da CPI se Youssef atuava como “lobista” junto aos fundos, ele afirmou que sim.

Alberto Youssef
Posteriormente, a CPI dos Fundos de Pensão ouviu o doleiro Alberto Youssef, que disse que o ex-deputado do PP José Janene, morto em 2010, era um dos investidores da Indústria Metais do Vale, a empresa que conseguiu contrato de R$ 13 milhões com o Petros supostamente em troca de propina.

Youssef disse não ter participado do negócio que teria resultado na propina de R$ 3 milhões e destacou que Janene entrou na Indústria Metais do Vale depois do contrato com o Petros.

Ele confirmou, porém, que ouvia dizer “do mercado” que João Vaccari era operador de alguns fundos de pensão, entre os quais o Petros.

“Ouvir dizer de mercado, sempre existiu – mas eu com ele nunca tive essa tratativa – que o Vaccari era um dos operadores de alguns fundos de pensão, no caso Petros. Mas de ouvir dizer. Não posso lhe dar certeza disso. E nunca tratei de assunto nenhum com Vaccari acerca disso”, afirmou.

Youssef também disse que tentou falar com o presidente do Senado, Renan Calheiros, na tentativa de convencer o fundo Postalis a investir em debêntures. O doleiro negou, porém, ter conseguido se reunir com o presidente do Senado e disse que nunca tratou do assunto com Renan Filho, filho do senador e atual governador de Alagoas.

“Eu já fiz um termo de colaboração com referência a esse assunto do Renan Calheiros. Eu tinha uma debênture emitida de uma empresa que eu tinha maior participação de cotas. Eu fui procurar, sim, o Renan, de ouvir dizer que ele tinha indicado o diretor financeiro da Postalis. Mas eu não consegui que ele me recebesse. Portanto, eu não posso dizer que [ele indicou] sim ou não. Eu conheci o Renanzinho e estive com ele uma única vez. E foi aqui em Brasília. E não tratei disso”, declarou.

Nota
Leia abaixo a íntegra da nota divulgada por Humberto Pires Grault, apontado na CPI pelo advogado Carlos Alberto Pereira da Costa como beneficiário de propina resultante de contrato da Petros.

Nota de Esclarecimento

Prezado(a) Jornalista,

Sobre a citação ao meu nome em depoimento do Sr. Carlos Alberto Pereira da Costa feito à CPI dos Fundos de Pensão, no dia de hoje, 27 de outubro de 2015, venho esclarecer:

1. Não recebi, negociei ou me foi ofertada qualquer tipo de compensção, propina ou comissão em torno de nenhum investimento feito pela Petros e – em especial – no projeto apresentado pela CSA.

2. Participei do projeto estritamente dentro das funções que tinha na Petros, no cargo de Gerente de Novos Negócios, em conjunto com a equipe de profissionais da entidade, avaliando a viabilidade econômico-financeira do empreendimento e apresentando parecer à Diretoria, que analisou e decidiu pela aprovação do investimento. Na Petros trabalhei no período de 2003 a 2008.

3. Rechaço, com indignação, a suspeita lançada de que teria recebido comissão pela operação. É uma mentira. A acusação, irresponsável e absolutamente desprovida de sentido, foi feita com base em declarações atribuídas à outra pessoa.

4. Desconheço totalmente o pagamento, referido pelo depoente, no valor de R$ 500 mil, assim como não tenho nenhuma informação sobre o destino de tais recursos.

5. Tenho 35 anos de carreira profissional, reconhecida formação, capacidade técnica e experiência no setor financeiro. Estou profundamente indignado por ver meu nome envolvido de forma leviana na Comissão Parlamentar de Inquérito dos Fundos de Pensão.

6. Ponho-me à disposição para esclarecer todos os reais fatos.

Brasília, 27 de outubro de 2015.

Humberto Pires Grault Viana de Lima

http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/2015/10/advogado-diz-que-vaccari-estava-por-tras-de-acerto-de-propina-no-petros.html