Carta aberta ao Sr. Henrique Jäger

Sobre a carta do presidente da Petros ao Presidente  da  Ambep

 

“Eu morro e não vejo tudo”, recita um velho aforismo.

Faltando apenas uma semana para completar meus sessenta e sete anos de vida, tomei conhecimento de uma carta endereçada pelo presidente da Petros ao presidente da Ambep, na qual ele reclama de imprecisões contidas em uma manifestação do associado Sérgio Salgado, imprecisões essas que teriam manchado o conceito da Petros.

A resposta do Sérgio Salgado já foi dada. O que me espanta, e por isso me manifesto, é a ousadia do sr. Jäger em remeter tal missiva, pois trata-se de uma nítida tentativa de intimidar não só a Ambep como todos os seus associados e, por extensão, os participantes da Petros. O sr. Jäger pretende que a Ambep passe a controlar e censurar as manifestações de seus associados – nem mais nem menos do que isso! Não há outra maneira de interpretar a carta, pois a Ambep de forma alguma responde pela opinião e atos de seus associados, não tendo o menor cabimento ser cobrada por isso. Não pode existir qualquer relação funcional ou contratual entre Ambep e seus associados que enseje tal tipo de coisa, seria um ululante e autoritário abuso.

Vai então um recado público ao sr. Jäger:

O regime fascista versão bolivariana que o partido ao qual o senhor é filiado pretende implantar no Brasil ainda não está totalmente consolidado. O senhor até pode ter essa impressão, já que por obra dessa – vá lá que seja – agremiação partidária o senhor conseguiu o cargo de presidente da Petros, o segundo maior fundo de pensões do país, sem ter currículo que cabalmente o habilitasse para tal. Mas existe ainda alguma resistência da sociedade. Entre os focos de resistência, contam-se alguns no próprio Poder Judiciário e no Ministério Público. Um deles está sediado em Curitiba. Ontem mesmo esse grupo de heróis da nação brasileira literalmente bateu à porta do expoente máximo do seu partido. Veja, portanto, que nesse momento ainda não convém exorbitar. Espere mais um pouco para ter certeza de que o objetivo foi  atingido.

Enquanto isso, exerça seu cargo. Acione a patrocinadora para que cumpra com suas obrigações, regularize o fluxo das informações para os participantes, pratique uma gestão de investimentos independente e profissional.  Ajude e facilite proativamente o trabalho da Polícia Federal que investiga supostos ilícitos ocorridos na gestão da Petros. O senhor tem a obrigação de considerar que, se ilícitos forem provados, eventualmente seus responsáveis serão obrigados a ressarcir a fundação, aliviando os participantes de parte da contribuição adicional que serão obrigados a pagar para tentar salvar os planos BD. Deixe de responder a críticas com intimidação, o que o senhor já fez até contra um participante octogenário, e abandone o intento de suprimi-las. Aceite-as como parte do ambiente democrático que, apesar das veleidades hegemônicas autoritárias de seu partido, ainda teima em existir entre nós.

A propósito: não tenho procuração do Sérgio Salgado, mas de minha parte dispenso sua resposta às questões que em vão lhe enviamos há meses, a respeito de seu depoimento na CPI dos fundos de pensão em 1/9/2015. A evolução dos fatos já se encarregou de desmontar sua versão de que o maior responsável pelo rombo na Petros é a discutível pretensão dos aposentados de obter um aumento real em seus proventos. Isso para mim era o mais importante, e me dou por satisfeito.  A lamentar apenas que os membros da CPI tenham sido mal informados.

Não obstante, caso o senhor queira manter sua versão, disponho-me a participar de um painel para discutir o assunto. Seria extremamente útil que um número maior de interessados tomasse consciência mais precisa das causas do desastre que se abateu sobre a Petros.

Porto Alegre, 29 de janeiro de 2016

Raul Corrêa Rechden