Gestão temerária em Postalis e Petros ligadas a suposto operador do PMDB


Milton de Oliveira Lyra Filho é apontado como operador do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e seu nome apareceu em uma anotação apreendida no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) sobre suposta propina de R$ 45 milhões.

Investigado na Lava Jato sob suspeita de intermediar o pagamento de proprina para o PMDB, o empresário Milton de Oliveira Lyra Filho e o sócio dele, o investidor Arthur Pinheiro Machado, operaram em empresas que captaram ao menos R$ 570 milhões do Postalis(fundo de pensão dos funcionários dos Correios).

Área de influência do PMDB e do PT do Senado, o Postalis registrou um rombo de R$ 5 bilhões nos últimos quatro anos. A PF aponta indícios de gestão temerária e crimes contra o sistema financeiro.

Lyra já foi apontado como operador do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e seu nome apareceu em uma anotação apreendida no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS, preso em novembro) sobre suposta propina de R$ 45 milhões para o PMDB.

Operador conhecido no mercado de capitais, Arthur Pinheiro Machado foi dono da corretora Ágora. Ele e Lyra foram sócios em duas empresas, a AML Properties e a Prestige Táxi Aéreo – esta última iniciou processo de homologação na Agência Nacional de Aviação Civil, mas nunca foi autorizada a voar.

Ligação de Lyra e Machado com o Postalis é investigada por CPI

As ligações de Lyra e Machado com os cofres do Postalis chamaram atenção da CPI dos Fundos de Pensão e de órgãos reguladores do mercado.

Em 2010, Arthur Pinheiro Machado fundou a ATG (American Trading Group) para lançar uma nova bolsa de valores para concorrer com a BMF/Bovespa.

Para levantar o dinheiro, a ATG lançou um fundo de investimento chamado ETB (Eletronic Trading Brazil) em setembro de 2010. Apenas duas semanas depois, o Postalis injetou R$ 120 milhões no negócio.

No ano seguinte, Milton Lyra foi nomeado membro do conselho de administração da ATG enquanto o Postalis seguia realizando aportes.

Para continuar capitalizando o empreendimento, Machado criou uma outra empresa, a Xnice Participações. O Postalis adquiriu títulos de dívida e novas cotas do empreendimento.

O fundo dos Correios encerrou 2014 com R$ 445 milhões no ETB e na Xnice, já incluindo o rendimento dos juros. Quase seis anos após o lançamento, a nova bolsa ainda não saiu do papel.

Outras negociações entre Lyra, Machado e Postalis

Esse não foi o único negócio da dupla com o Postalis. Machado criou a empresa RO Participações e emitiu títulos de dívida de R$ 72 milhões.

Em junho de 2015, a CVM (Comissão de Valores Imobiliários) advertiu o banco BNY Mellon, administrador dos recursos da Postalis na operação com a RO, sobre o “alto custo” com prestadores de serviço para lançar os títulos. Após a entrada do dinheiro do Postalis, a RO pagou R$ 2,5 milhões a uma empresa de Lyra, a Credpag, a título de “consultoria”.

Outra operação envolveu a Alubam Participações, empresa sob posse de Machado, que lançou títulos de dívida de R$ 62 milhões com o Postalis sendo o único comprador.

A origem da investigação da PF que detectou o rombo de R$ 5 bi no Postalis é a compra da debênture (título de dívida) do grupo educacional Galileo – do qual Machado foi cotista – pelo Postalis (R$ 75 milhões) e pela Petros (fundo de pensão da Petrobras, R$ 25 milhões).

Outro lado

Arthur Pinheiro Machado negou que tenha se beneficiado de contatos políticos para obter dinheiro do fundo de pensão.

“O Postalis nunca perdeu dinheiro com a gente: na debênture da RO Participações, investiram R$ 72 milhões e resgatou R$ 90 mi. Na Alubam, anteciparemos pagamento dos juros, que é substancial, em menos de um ano”, disse ele.

Segundo Machado, a nova bolsa ainda depende de autorização dos órgãos reguladores para começar a operar.

Sobre a relação com Milton Lyra em fundos de pensão, Machado disse que Lyra foi para o conselho de administração da gestora da nova bolsa por indicação da antiga direção do Postalis – algo que o Postalis não confirma.

“Não precisei do Milton para estabelecer nenhuma relação com ninguém. Quem fez a relação com o Postalis foi a BNY Mellon”, declarou.

O banco BNY Mellon não comentou o caso invocando sigilo bancário, mas fez uma ressalva que contradiz Machado: “investidores qualificados de fundos exclusivos, tais como fundos de pensão, trabalham em conjunto com os gestores destes fundos para analisar e aprovar os investimentos”.

Milton Lyra disse que jamais atuou para buscar recursos no Postalis para qualquer empresa. Sobre a sociedade na empresa de táxi aéreo, Machado e Lyra disseram que o projeto não prosperou.

Indagado sobre Lyra, o presidente do Senado, Renan Calheiros, afirmou que “jamais autorizou que o seu nome fosse usado por terceiros”.

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