“Sem essas medidas, Petrobras vai ter que ser privatizada na bacia das almas”

Em entrevista ao InfoMoney, Paulo Feldmann defende venda de ativos da estatal e redução no tamanho da folha de pagamentos

SÃO PAULO – Imersa em um cenário de “inferno astral”, com queda nos preços do petróleo, elevado nível de endividamento, taxa de câmbio desfavorável, perda de grau de investimento e no olho do furacão de um dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil, a Petrobras (PETR3; PETR4) vive um momento de impasse e terá de reduzir o seu tamanho nessa nova fase do mercado de commodities global. Para Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, existe um movimento de todas as empresas do setor no sentido de rever posições.

“Quase todas as grandes petrolíferas do mundo estão preocupadas com o que está acontecendo e revendo seus planos, porque tudo indica que elas vão ter que diminuir seus tamanhos. O barril chegou a um preço preocupante para elas. O petróleo hoje é altamente deficitário”, observa. Com cotação na casa dos US$ 30, a commodity segue a tendência de desvalorização vista em outras matérias-primas em meio ao esfriamento da demanda.

Na avaliação do especialista, é pouco provável que o preço do barril volte a superar o patamar dos US$ 100, muito por conta da redução do consumo, das novas posições globais com relação aos efeitos colaterais nocivos do uso da commodity sobre o meio ambiente, além do desenvolvimento de fontes alternativas sustentáveis. “Isso não é casual, é para valer. Daqui para frente, não haverá petróleo acima de US$ 120 o barril”, alerta Feldmann.

Com isso, cresceria o drama da petrolífera estatal brasileira, que ainda tem enormes dores de cabeça relacionadas aos reflexos do chamado “petrolão” e ao elevado nível de alavancagem. O professor lembra ainda do rombo que precisará ser coberto nos fundos de pensão dos servidores da Petrobras e se mostra pessimista sobre o desfecho para a companhia em julgamento em que enfrenta acionistas minoritários americanos. Para ele, a companhia precisa agir imediatamente se não quiser ver o quadro se agravar ainda mais.

“A Petrobras está muito enganada se ela não começar imediatamente a promover uma grande redução em seus gastos. Ela tem que cortar pessoal e vender ativos”, defende Feldmann, que, além do meio acadêmico, coleciona passagens pelas diretorias de grupos como Microsoft, Philips, Banco Safra, Banespa, Sharp e Nossa Caixa. “Se ela não tomar essas medidas, vai ter que ser privatizada na bacia das almas. É melhor entregar os anéis agora do que a mão inteira daqui a um ano”, complementou.

A fala do professor, de certo modo, dialoga com a fala do CFO (chief financial officer) da companhia, Ivan Monteiro, desta sexta-feira (15). Em entrevista a um grupo de jornalistas, o executivo afirmou que a companhia não estuda capitalização e afastou a hipótese de se recorrer ao Tesouro para recompor caixa. Ainda segundo Monteiro, a Petrobras elevou o número de ativos para venda, entre 20 e 30, totalizando US$ 14,4 bilhões avaliados. Ele afirmou que pode alterar ativos até a meta ser cumprido e que a Transpetro entrou na lista de desinvestimentos. É esperado que a operação garanta caixa até 2017 e que não seja necessário novo corte no capex. A companha ainda deve considerar uma nova rodada de demissões.

Feldmann apoia a redução na folha da companhia — que, em sua avaliação é enorme em comparação à de seus pares internacionais, refletindo também “o uso político” da estatal — e uma redução em investimentos que englobam inclusive o pré-sal brasileiro. “Para quê continuar lá se sabemos que o preço do barril é de cerca de US$ 30?” — quando estima-se que o breakeven para a exploração nessa área seja quase o dobro –, provocou o especialista.